Luís Claro - ionline
Primeiro-ministro acusou Soares de estar à procura de “protagonismo”. PS saiu em defesa do ex-Presidente da República e Vasco Lourenço lamentou que os governantes sejam “autistas”
O primeiro-ministro entrou na polémica sobre a ausência de Mário Soares e Manuel Alegre das comemorações oficiais do 25 de Abril, em solidariedade com os militares de Abril. E não disfarçou alguma irritação com a decisão dos dois históricos do PS. “Eu estou habituado a que, ao longo dos anos, algumas figuras políticas queiram assumir protagonismo em datas especiais”, disse Passos Coelho, apelando a que esta data não seja utilizada para “outros fins”.
Certo é que o 38.º aniversário da revolução dos cravos ficará marcado pelo protesto dos militares. Em resposta às declarações de Passos, o presidente da Associação 25 de Abril, Vasco Lourenço, apela ao governo para “estar atento aos sinais das associações cívicas e da população”. “Se for inteligente, se souber ler os sinais, emenda a mão. Quando são autistas, é difícil”, disse ao i Vasco Lourenço.
O governo e a maioria PSD/CDS criticaram a iniciativa dos militares, mas não a desvalorizaram. A prova disso é que foram vários os sociais-democratas a vir a público contestar a decisão dos principais protagonistas da revolução. O ex--líder Luís Filipe Menezes criticou os que acham que têm “o monopólio” do 25 de Abril. Rui Machete, outro ex-líder, acusou Soares e Alegre de não aceitarem “o resultado das eleições”.
A JSD foi mais longe e, em comunicado, defendeu que “o sucesso da marca do 25 de Abril e da conquista da democracia será tanto maior quanto menos depender dos agentes da mudança de 1974”. E lançou uma campanha em que se lê o slogan “Se a liberdade tivesse dono, era uma ditadura”.
Se da maioria se ouviram críticas, o PS saiu em defesa de Soares e Alegre e acusou o primeiro-ministro de tratar os dois socialistas “de forma displicente e ligeira”. O líder da bancada, Carlos Zorrinho, defendeu no parlamento que “são personalidades a quem o dr. Pedro Passos Coelho deve o legítimo mandato para o qual agora foi escolhido pelos portugueses” e “não pode referir-se a personalidades como estas da forma como se referiu”.
O dia Sem os militares de Abril, a sessão solene vai hoje arrancar no parlamento com Paulo de Carvalho a cantar “E Depois do Adeus”. A seguir discursam os partidos políticos e, por último, falam a presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, e o chefe de Estado, Cavaco Silva.
O PS escolheu o seu líder parlamentar, Carlos Zorrinho, para discursar, e o PSD o deputado Pedro Pinto, que preferiram não antecipar o espírito das intervenções que hoje vão fazer. Já Hélder Amaral, que falará em nome do CDS, diz ao i que vai fazer um apelo forte “à mobilização e à união”. O deputado centrista tenciona apelar aos “consensos”, mas não vai esquecer a ausência dos militares de Abril. “Será feita uma referência aos que se sentem donos da democracia e não lhe fazem a verdadeira homenagem.” Os comunistas, pela voz de Agostinho Lopes, vão “relembrar Abril e a situação em que vivemos”, mas não deixarão de deixar críticas à política do governo. “É evidente, mas não criticaremos só este governo”, diz ao i Agostinho Lopes. Da parte do BE falará Cecília Honório e o deputado d’“Os Verdes” José Luís Ferreira fará a primeira intervenção de uma sessão que ficará para a história como a primeira em que não estão os militares que fizeram a revolução.
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