FP - Lusa
Bissau, 18 abr (Lusa) - Os partidos políticos da oposição na Guiné-Bissau entregaram hoje aos jornalistas em Bissau cópia de uma carta que supostamente foi escrita pelo primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, a pedir à ONU uma Força de Manutenção de Paz, com amplos poderes.
A cópia da carta, de três páginas, é datada de 09 de abril e supostamente assinada por Carlos Gomes Júnior no final e rubricada nas outras duas páginas. Não tem qualquer timbre nem carimbo e é dirigida a Ban Ki-moon, secretário-geral das Nações Unidas.
A ser verdadeira, Carlos Gomes Júnior pede ao Conselho de Segurança o envio de uma força de manutenção de paz, "com amplos poderes", para manter a estabilidade política no país.
"Com vista a se travar esta situação que ameaça a paz e a segurança da Guiné-Bissau, com possíveis repercussões regionais, solicito que o Conselho de Segurança, no âmbito das suas atribuições plasmadas no artigo 24.º, da Carta das Nações Unidas, como órgão garante da paz e segurança internacionais, analise, em sessão extraordinária, a situação interna da Guiné-Bissau em resultado da não-aceitação das eleições democráticas, livres, justas e transparentes, e delibere o envio de uma Força de Manutenção da Paz na Guiné-Bissau, com poderes amplos", diz o documento.
A missão teria "o propósito de manter a estabilidade política no país e defender as conquistas democráticas que o Povo da Guiné-Bissau dificilmente alcançou e deseja preservar, com vista ao desenvolvimento económico, social e cultural do país".
"Na qualidade de primeiro-ministro da República da Guiné-Bissau, venho, em nome do Governo e no âmbito da situação de emergência que ocorre no país, informar Vossa Excelência que a Guiné-Bissau pode vir a atravessar um novo momento de instabilidade política interna, devido à não-aceitação dos resultados eleitorais por cinco candidatos que concorreram às eleições presidenciais antecipadas de 18 de março passado", começa por dizer a carta.
Carlos Gomes Júnior, a ser real a carta, lembra depois que a comunidade internacional considerou o processo eleitoral livre e diz que colocar em causa as eleições pode ser entendido como uma manobra "para influenciar negativamente os militares que, a qualquer momento, podem despoletar uma situação desgovernada e ter implicações que afetem a paz e a segurança, não só na Guiné-Bissau, como nos países da sub-região".
No documento, lembra-se ainda a Ban Ki-moon que há um acordo de cooperação assinado entre a Guiné-Bissau e Angola, no âmbito do qual está em Bissau uma missão daquele país, a Missang, que apoia as reformas e é "fator de estabilização político-militar no país".
Lembra também que "devido à reação interna da ala militar", Angola decidiu terminar o acordo e ordenar a retirada das tropas, "o que porá em perigo a situação já grave que o país atravessa".
"Por fim, Excelência, venho informar-lhe que a República de Angola e, eventualmente o Brasil e o Gana, estão na disposição de integrar a tal Força de Manutenção de Paz, que pode ainda ser integrada por outros países da CEDEAO e de outras regiões, desde que tal força seja aprovada pelo Conselho de Segurança em conformidade com a Carta e os propósitos da Organização das Nações Unidas", conclui o documento.
Este alegado pedido de Carlos Gomes Júnior foi um dos motivos apontados pelos militares para justificarem o golpe de Estado que levaram a cabo na quinta-feira.
"Perante o cenário, não podíamos ficar de braços cruzados à espera de uma força expedicionária do exterior para um país que não está em guerra", referiu o porta-voz do autointitulado Comando Militar guineense, Daba Na Wana.
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