Pedro Tadeu – Diário de Notícias, opinião
No tempo em que Portugal achava que era rico, a banca privada mandava no Governo, nas empresas e no povo. Mesmo assim, apesar das benesses do Estado, dos financiamentos loucos e da usura para a vida sobre cada português que comprou casa, o maior banco do mercado continuou a ser o do Estado.
Em 2005, a Caixa Geral de Depósitos comprou as seguradoras Império Bonança e Seguro Directo, através da sua Fidelidade Mundial, para meter 343 milhões de euros no BCP, que estava a precisar de fundos. O favor deu à Caixa um terço do mercado segurador português, que este ano será privatizado, apesar de valer 38,9% de todo o lucro do banco. Em 2010 achava-se que a privatização valeria 1,5 mil milhões de euros. Agora, toda a gente duvida.
Também em 2005 a Caixa entrou com 80 por cento dos 426 milhões de euros com que a Sumolis comprou a Compal e a Nutricafés. Três anos depois, a Caixa cedeu parte da sua posição à Sumolis por 397 milhões, ficando com apenas 20 por cento da empresa. Este negócio motiva agora uma investigação do Ministério Público, que suspeita de fuga ao fisco caucionada pela CGD, numa alegada fraude de 5,7 milhões de euros.
Desde a nacionalização do BPN até à anunciada venda ao BIC, por apenas 40 milhões de euros, a Caixa meteu ali 4,2 mil milhões de euros. Há uma promessa de o Estado pagar, até 2020, 3,9 mil milhões pelo favor. O resto logo se vê.
O grupo José de Mello precisa que a banca lhe empreste uns 500 milhões para poder fazer uma OPA à Brisa. Quem vai ajudar na operação? A Caixa, claro, mais uns euros vindos do BCP e do BES.
Na Cimpor, a Caixa, que em 2009 comprou ações a um preço superior em 25% ao valor de mercado para ficar com cerca de 10% da empresa, recusou, há semanas, vender essas ações - na sequência de uma luta pelo poder dentro da empresa - a 6,18 euros cada. Agora diz-se disposta, depois de uma ordem do Governo, a vender a 5,5 euros, favorecendo assim uma das partes em luta.
Esta história de gestão do banco do Estado, que se mete em trapalhadas suspeitas, que esbanja dinheiro de forma incompreensível, que aplica políticas contrárias aos seus interesses, que é suspeita da justiça, levará qualquer um de nós à indignação. Os que defendem a privatização deste banco encontrarão razões para defender a sua tese. Os que valorizam o papel de um banco do Estado forte, mas livre da dependência de interesses obscuros, também.
A pergunta que deixo é óbvia: por este caminho, vão mesmo ser capazes de, um dia, arruinar de vez a Caixa. Quem ganhará com isso?
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