quinta-feira, 12 de abril de 2012

A PASSAGEM DE DILMA POR BOSTON



Direto da Redação, em Espaço Livre

Apesar de avisada com pouca antecedência, a comunidade brasileira aguardou com ansiedade a chegada da presidenta Dilma Rousseff a Boston. Para uns a visita foi uma grande emoção, para outros uma decepção.

Nestes 10 anos que moro aqui, essa foi a primeira visita de um presidente do Brasil a Massachusetts. Confesso que ali na escadaria do State House foi emocionante ouvir o hino brasileiro, ver nossa presidenta ao lado do governador Deval Patrick e a bandeira verde amarela hasteada.

Mas Dilma não veio visitar seus cerca de 200 mil conterrâneos na Nova Inglaterra. Ela veio retribuir a visita do presidente Barack Obama e do governador Patrick ao Brasil e estreitar o relacionamento com empresários e universidades locais. Esse seu dia em Boston será lembrado pela imprensa e por muitos membros da comunidade como uma esnobada pela manhã e uma bofetada a tarde.

A mídia brasileira, inclusive jornalistas que vieram de New York, passou horas esperando para se dirigir à presidenta. Mas o protocolo e o forte esquema de seguranca não deram espaço para uma coletiva de imprensa. É preciso levar em conta que a mídia brasileira aqui em Massachusetts faz também o papel de liderança comunitária. Somos nós que oferecemos informações, formamos opiniões e oferecemos ajuda aos imigrantes. Vários pastores e membros de organizações comunitárias fazem parte da mídia local. Nem mesmo os membros eleitos para o Conselho de Representante dos Brasileiros no Exterior (CRBE) ou diretores das organizações comunitárias puderam se reunir com a presidenta.

No State House, um grupo de estudantes recepcionou a presidenta com as cores do Brasil e algumas pessoas puderam de cumprimentá-la. Lá ela teve uma rápida conversa com o governador e reuniu sua comitiva para um almoço com empresários americanos. No início do almoço, Dilma fez um brinde e agradeceu ao governador “pela sensibilidade que vem demonstrando para com os desafios cotidianos que os imigrantes aqui enfrentam” e citou a Semana do Trabalhador realizada pelo Ministério do Trabalho no fim de 2011 como um exemplo dessa cooperação mutua. Ela enfatizou a importância do estado de Massachusetts, onde estão localizadas as mais importantes instituições de ensino, para o programa Ciências sem Fronteiras que visa oferecer bolsas de estudos no exterior para 100.000 brasileiros. Enfim, durante todo o dia, a presidenta só se referiu uma única vez à comunidade brasileira de Massachusetts que ela mesma citou como “o mais brasileiro e mais lusófono dos estados americanos”.

À tarde Dilma visitou o Massachusetts Institute of Technology (MIT) e encerrou o dia com uma palestra na Harvard University.

Na Harvard a presidenta fez uma avaliação do seu governo e definiu como sua maior conquista a entrada de 40 milhões brasileiros na classe média. Falou da melhoria do acesso e da qualidade na educação, da diminuição das diferenças entre as várias regiões do Brasil e da erradicação da miséria. No final ela se prontificou a responder às perguntas de alguns estudantes.

O pernambucano Dario Galvão (residente de Stoughton) foi aplaudido quando perguntou a presidenta sobre a possibilidade de o governo brasileiro liberar algumas vagas nas universidades americanas para os que já moram aqui. Mas a resposta foi um balde de gelo: “vou ser sincera, nós temos 190 milhões de pessoas no Brasil que eu tenho de dar conta, não podemos dar conta de tudo de imediato. Eu te asseguro que gostaria que tivessem a oportunidade... mas as pessoas que moram aqui têm acesso a outras oportunidades que os que moram no Brasil não têm”. Dario foi um dos poucos brasileiros que conseguiu participar da palestra sem ter vínculo com a Harvard e sem convite do consulado.

Natalicia Rocha, diretora do Centro do Imigrante Brasileiro, assistiu à palestra e lamenta “fiquei desapontada com a presidenta quando ela disse que os estudantes aqui (nos EUA) não é problema dela” . Marcio Porto, presidente da Central dos Trabalhadores Imigrantes Brasileiros (CTIB), disse que “as palavras da nossa companheira e Presidenta Dilma foram muito duras para com os trabalhadores imigrantes brasileiros, que já sofrem toda forma de opressão, humilhação, abandono e preconceitos e agora com a impressão de estarmos entregues a própria sorte.”

Um estudante brasileiro levantou a questão da imagem dos políticos brasileiros como corruptos e obteve a resposta de que a presidenta está fazendo um grande esforço contra a corrupção e que concorda com a iniciativa do presidente Obama de ter um governo aberto e transparente. Outros estudantes perguntaram sobre a questão da violação dos direitos humanos na Venezuela e a ligação do Brasil com Hugo Chaves. Onde ela respondeu “tenho grande respeito por Chaves e desejo melhoras”. Mas ela foi enfática em dizer que não concorda em usar a defesa dos direitos humanos como arma política pelo falto de que vários países violam os direitos humanos e, de quebra, citou Guantanamo. Quando o assunto foi a integração dos países da America do Sul e particularmente a Argentina ela aproveitou para dizer que o crescimento do Brasil não visa subordinar os outros países, e que ela quer um relacionamento de parceria, cooperação e igualdade com seus vizinhos. Uma leve alfinetada nos Imperialistas americanos que pode servir como lição também para a União Europeia. Uma economia forte acaba sendo ameaçada por um vizinho em crise, por isso a presidenta enfatizou o seu papel de liderança na união dos países da America Latina.

O discurso na Harvard foi muito bem articulado apesar de ter desapontado os imigrantes. Para conferir na íntegra basta acessar: Clique aqui ou ( Veja o vídeo )

* Contribuição de Shirley Nigri Farber, editora da revista Bate Papo e produtora e apresentadora do programa de TV Bate Papo com Shirley em Massachusetts.

Mais lidas da semana