sexta-feira, 20 de abril de 2012

“QUALQUER FORÇA ESTRANGEIRA SERIA CONSIDERADA FORÇA INVASORA” – Comando Militar



MB - Lusa

Bissau, 20 abr (Lusa) -- O porta-voz do Comando Militar que tomou o poder na Guiné-Bissau no passado dia 12 disse hoje que qualquer força estrangeira enviada para o país seria considerada pelos militares uma força invasora "porque o país não está em guerra".

Segundo o tenente-coronel Daba Na Walna, não se justifica o envio de uma força estrangeira "seja de interposição como de manutenção da paz" para a Guiné-Bissau porque "o país não se encontra em nenhuma guerra".

O porta-voz do Comando Militar guineense falava numa conferência de imprensa para "responder às declarações do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Guiné-Bissau e do senhor Georges Chicoti (chefe da diplomacia angolana)", na quinta-feira, na sede das Nações Unidas.

"O envio de uma força para aqui, para nós será uma força de invasão. A Guiné-Bissau está a procura de uma solução endógena para os seus problemas", disse Na Walna, criticando o posicionamento de Angola, de Portugal e do chefe da diplomacia da Guiné-Bissau, Mamadu Djaló Pires.

Para o porta-voz do Comando Militar, estas três entidades pretendem levar a comunidade internacional a assumir uma posição errada perante os problemas da Guiné-Bissau.

"Esperamos que o bom senso governe o mundo e que as Nações Unidas, ou o Conselho de Segurança não dê provimento a este pedido, porque na verdade uma força de manutenção de paz implicava necessariamente que o país estivesse em conflito, ou que houvesse uma guerra e tornasse necessária a intervenção da comunidade internacional no sentido da manutenção da paz", defendeu Daba Na Walna.

"Nós temos aqui um gabinete da Uniogbis (gabinete integrado das Nações Unidas para a Consolidação da paz na Guiné-Bissau) que está para isso em representação das Nações Unidas no sentido da procura da paz para a Guiné-Bissau", afirmou o porta-voz do Comando Militar.

Daba Na Walna voltou a acusar Angola de ter outros interesses na Guiné-Bissau "que não têm nada que ver com a ajuda", pelo que, assinalou, aquele país quer implantar uma força invasora no país "a coberto de uma força de manutenção da paz".

"Essa força viria para garantir segurança ao Djaló Pires e ao seu Governo e também aos angolanos, aos seus interesses aqui, para que possam sugar o mais forte possível os nossos recursos", considerou Na Walna.

Este oficial militar diz não compreender que a comunidade internacional só agora esteja preocupada pela paz na Guiné-Bissau, lembrando que aquando dos assassínios de dirigentes "como o Presidente 'Nino' Vieira, ou o general Tagmé Na Waié, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas", não se viram as mesmas preocupações.

Daba Na Walna afirmou ser falso quando o ministro dos Negócios Estrangeiros guineense, Mamadu Djalo Pires diz na sede das Nações Unidas que o golpe de Estado do passado dia 12 só teve lugar porque os militares não queriam deixar o Governo do primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior (que está detido), prender o atual chefe das Forças Armadas, António Indjai.

"Ouvimos o ministro Djaló Pires a tentar indexar este levantamento militar a um bando de traficantes da droga. Ouvimos o Djaló Pires a acusar o general António Indjai em como terá sido o autor deste golpe de Estado (...) porque aquele estava a evitar que fosse combatido o tráfico de droga no país", disse.

Daba Na Walna afirmou que Djaló Pires antes de ser nomeado ministro dos Negócios Estrangeiros foi ministro da Justiça mas nunca disse nada relacionado com o tráfico de droga contra António Indjai.

"Agora que há este levantamento militar é que ele tenta confundir a opinião pública internacional sobre as verdadeiras razoes deste levantamento militar", observou Na Walna.

O autointitulado Comando Militar nomeou na quinta-feira o ex-presidente da Assembleia Nacional Serifo Nhamadjo, para a chefia do Estado interina até à realização de eleições, mas a comunidade internacional não reconhece as autoridades nomeadas pelos militares.

Também na quinta-feira, o conselho de Segurança das Nações Unidas discutiu a situação na Guiné-Bissau e os chefes da diplomacia de Portugal, Angola (pela CPLP), o próprio ministro dos Negócios Estrangeiros guineense, Mamadu Djaló Pires, e o embaixador da Costa do Marfim (pela CEDEAO) pediram o envio de uma força de interposição para devolver o poder aos civis.

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