MB - Lusa
Bissau, 20 abr
(Lusa) -- O porta-voz do Comando Militar que tomou o poder na Guiné-Bissau no
passado dia 12 disse hoje que qualquer força estrangeira enviada para o país
seria considerada pelos militares uma força invasora "porque o país não
está em guerra".
Segundo o
tenente-coronel Daba Na Walna, não se justifica o envio de uma força
estrangeira "seja de interposição como de manutenção da paz" para a
Guiné-Bissau porque "o país não se encontra em nenhuma guerra".
O porta-voz do
Comando Militar guineense falava numa conferência de imprensa para
"responder às declarações do Ministro dos Negócios Estrangeiros da
Guiné-Bissau e do senhor Georges Chicoti (chefe da diplomacia angolana)",
na quinta-feira, na sede das Nações Unidas.
"O envio de
uma força para aqui, para nós será uma força de invasão. A Guiné-Bissau está a
procura de uma solução endógena para os seus problemas", disse Na Walna,
criticando o posicionamento de Angola, de Portugal e do chefe da diplomacia da
Guiné-Bissau, Mamadu Djaló Pires.
Para o porta-voz do
Comando Militar, estas três entidades pretendem levar a comunidade
internacional a assumir uma posição errada perante os problemas da
Guiné-Bissau.
"Esperamos que
o bom senso governe o mundo e que as Nações Unidas, ou o Conselho de Segurança
não dê provimento a este pedido, porque na verdade uma força de manutenção de
paz implicava necessariamente que o país estivesse em conflito, ou que houvesse
uma guerra e tornasse necessária a intervenção da comunidade internacional no
sentido da manutenção da paz", defendeu Daba Na Walna.
"Nós temos
aqui um gabinete da Uniogbis (gabinete integrado das Nações Unidas para a
Consolidação da paz na Guiné-Bissau) que está para isso em representação das
Nações Unidas no sentido da procura da paz para a Guiné-Bissau", afirmou o
porta-voz do Comando Militar.
Daba Na Walna
voltou a acusar Angola de ter outros interesses na Guiné-Bissau "que não
têm nada que ver com a ajuda", pelo que, assinalou, aquele país quer
implantar uma força invasora no país "a coberto de uma força de manutenção
da paz".
"Essa força
viria para garantir segurança ao Djaló Pires e ao seu Governo e também aos
angolanos, aos seus interesses aqui, para que possam sugar o mais forte
possível os nossos recursos", considerou Na Walna.
Este oficial
militar diz não compreender que a comunidade internacional só agora esteja
preocupada pela paz na Guiné-Bissau, lembrando que aquando dos assassínios de
dirigentes "como o Presidente 'Nino' Vieira, ou o general Tagmé Na Waié,
chefe do Estado-Maior das Forças Armadas", não se viram as mesmas
preocupações.
Daba Na Walna
afirmou ser falso quando o ministro dos Negócios Estrangeiros guineense, Mamadu
Djalo Pires diz na sede das Nações Unidas que o golpe de Estado do passado dia
12 só teve lugar porque os militares não queriam deixar o Governo do
primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior (que está detido), prender o atual chefe
das Forças Armadas, António Indjai.
"Ouvimos o
ministro Djaló Pires a tentar indexar este levantamento militar a um bando de
traficantes da droga. Ouvimos o Djaló Pires a acusar o general António Indjai
em como terá sido o autor deste golpe de Estado (...) porque aquele estava a
evitar que fosse combatido o tráfico de droga no país", disse.
Daba Na Walna
afirmou que Djaló Pires antes de ser nomeado ministro dos Negócios Estrangeiros
foi ministro da Justiça mas nunca disse nada relacionado com o tráfico de droga
contra António Indjai.
"Agora que há
este levantamento militar é que ele tenta confundir a opinião pública
internacional sobre as verdadeiras razoes deste levantamento militar",
observou Na Walna.
O autointitulado
Comando Militar nomeou na quinta-feira o ex-presidente da Assembleia Nacional
Serifo Nhamadjo, para a chefia do Estado interina até à realização de eleições,
mas a comunidade internacional não reconhece as autoridades nomeadas pelos
militares.
Também na
quinta-feira, o conselho de Segurança das Nações Unidas discutiu a situação na
Guiné-Bissau e os chefes da diplomacia de Portugal, Angola (pela CPLP), o
próprio ministro dos Negócios Estrangeiros guineense, Mamadu Djaló Pires, e o
embaixador da Costa do Marfim (pela CEDEAO) pediram o envio de uma força de
interposição para devolver o poder aos civis.
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