Maria João Guimarães – Público, Lisboa – em Presseurop, foto Athina Kazolea-Público
Seja qual for o partido vencedor das eleições de 6 de maio, a reforma do Estado será um dos grandes desafios. Mas, de uma forma tão surpreendente como encorajadora, uma instituição norte-americana elegeu um grego como melhor funcionário público do mundo.
Panagiotis Karkatsoulis é um homem de entusiasmos. Ele fala, reproduz diálogos fazendo vozes diferentes em que se representa a si próprio (mais grave) e aos outros (mais agudo), gesticula, coça a cabeça, escrevinha diagramas no papel, volta a rabiscar, não consegue estar parado. Às vezes acaba um discurso com um "ufffff – isto fui eu a tentar explicar esta ideia".
Por exemplo, ser visto como uma raridade é algo que inspira uma destas tiradas. Ele indigna-se e ri-se ao mesmo tempo. "Uma exceção, eu? Eu não sou uma exceção!" Mas lembra-se, com uma gargalhada, da reportagem que fizeram quando foi anunciado que tinha vencido o prémio da Sociedade Americana de Administração Pública (atribuído a alguém que tenha promovido mudanças no setor da administração pública), há uns meses. "Foram perguntar a pessoas na Praça Syntagma de que nacionalidade seria o melhor funcionário público do mundo. Um respondeu: "Sueco, finlandês, alemão... grego é que não é de certeza!"". Outro disse apenas: "Qualquer uma, menos grego".
Karkatsoulis trabalha no Ministério da Reforma Administrativa – e por isso tem lidado de perto com responsáveis da troika – e é professor na Escola Nacional de Administração Pública. Recebe-nos no seu gabinete, onde tem várias reproduções, uma, por exemplo, da dupla Gilbert & George, num cor-de-rosa que, hoje, condiz com a sua camisa.
Ele garante que no seu departamento há uma equipa de funcionários públicos muito capazes e dedicados. "Este era um dos departamentos mais bem pagos, com salários de cerca de 3000 euros. Agora, estes salários são de mil e tal euros. Estas pessoas podiam ter ido todas para o setor privado. Mas não foram, ficaram. E trabalham mais horas. Porquê? Não sei, bom, não lhe queria chamar patriotismo..."
A indignação de Karkatsoulis passa, ao de leve, pela pesada e, sim, louca máquina da administração pública grega – um estudo que fez junto com 200 colegas a pedido da troika descobriu que a administração central tem cerca de 23 mil responsabilidades diferentes, e que estas estão a mudar constantemente, numa média de 1140 vezes por ano. Mas hoje, ele desvaloriza isto. "Esses números mostram qualquer coisa: 23 mil competências formais escritas é imenso, blá, blá. Mas, se olharmos com atenção, vemos que todas estas 23 mil competências não afetam os funcionários da mesma maneira, umas continuam lá, mas não estão a fazer nada.
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