domingo, 20 de maio de 2012

Moçambique: MOTORISTA DE “CHAPA”, PROFISSÃO ODIADA E MAL PAGA



Helena Cumaio (texto) e António Silva (fotos), da Agência Lusa

Maputo, 20 mai (Lusa) - Obrigados a conviverem, os motoristas dos "chapas" e os seus passageiros em Maputo têm uma relação conflituosa e não é por se verem todos os dias que o ódio comum diminui.

"A maior parte dos passageiros não nos respeita. Logo cedo, enfatizamos que queremos passageiros com dinheiro trocado, mas alguns entram no carro sem dizer nada e quando querem descer entregam ao cobrador uma nota de 500 meticais para pagar 5 meticais. Sinceramente!", queixa-se o chapeiro Armando Guilinga, que faz a popular rota Museu-Xipamanine, na capital moçambicana.

"Sabemos que os chapeiros são muito importantes, mas não respeitam os passageiros. Antes de entrarmos no carro somos amigos, mas quando já lá estamos, começam a dizer palavrões, empurram-nos de qualquer maneira ", responde Sebastião Mavota.

Sem os chapeiros, a capital de Moçambique não vivia, pois são eles quem conduz, muitas vezes de forma irresponsável, os "chapas", carrinhas informais de transporte de passageiros, velhas carcaças fora do prazo de validade e que carregam três e quatro vezes a lotação para que foram construídas, entre os arredores e o centro da cidade.

É um trabalho arriscado, com muitas vítimas nas estradas, que se prolonga por muitas horas e é mal pago.

"Perco amigos porque nunca tenho tempo para eles, tenho vários inimigos porque não posso fazer tudo o que os passageiros querem. Devem respeitar o nosso esforço, eu levanto-me às 4:00 da manhã e volto a casa por volta das 10:00 da noite, todos os dias sem folgas. Essa é a minha rotina", diz o motorista Silas Cardoso.

A maior parte dos chapeiros recebe entre 150 e 200 meticais por dia (entre 4,30 e 5,80 euros).

"Tenho filhos, esposa, mas poucas vezes tenho tempo para eles, e quando estou em casa quero dormir por causa do cansaço. Acho que às vezes os meus filhos esquecem que têm pai", aponta Pedro Cuna.

Por isso, não admira que não haja mulheres nesta profissão informal, que representa mais de 60 por cento do setor de transportes em Moçambique.

"Trabalhar como chapeiro requer muita concentração, muita visão, estudar as coisas antes de acontecerem e andar muito rápido, ser flexível e as mulheres não podem aguentar essa cena. Isso não é para elas", defende o chapeiro Muwety.

Ultimamente, o coro de críticas aumentou com o chamado "encurtamento de rotas", que obriga os passageiros a apanharem mais de um chapa para o mesmo percurso, encarecendo ainda mais o seu dia-a-dia.

Mais uma vez, são os chapeiros os alvos das queixas perante uma decisão que terá sido tomada pelos donos dos chapas, que ninguém sabe muito bem quem são.

"Depois de subir no carro, o cobrador perguntou onde eu ia e depois de dizer, mandou-me descer, alegando que eu ia até ao terminal e eles não querem pessoas que vão até ao terminal", acusa Catarina João, estudante.

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