Adalberto Ceita, Cabinda – Jornal de Angola, com foto de Lelo Congo
O comandante Lelo Congo bateu-se de armas na mão, nas fileiras da FLEC. Em 1993 foi ferido em combate e algum tempo depois o governo iniciou o processo que culminou com o Memorando de Entendimento do Luena. Hoje vive em Cabinda com a sua gente mas os seus dias são perturbados “pelos ecos que me chegam de apelos à guerra por parte de intelectuais que enriqueceram à custa do sangue dos guerrilheiros que se bateram nas matas”. Um pássaro verde e amarelo poisa num galho e solta o seu canto alegre. É um tchimpepele. O comandante aponta para a ave e diz: “este pássaro gosta de se aproximar das pessoas quando elas estão a conversar. Vai dar-nos sorte”.
Jornal de Angola - A sorte que lhe faltou quando foi ferido em combate?
Lelo Congo - Quem vai à guerra não espera pela sorte. Sofri graves ferimentos, perdi um braço e coxeio de uma perna. Mas se pensarmos bem, tive sorte. Estou vivo e regressei ao convívio dos meus amigos e familiares. Vejo o meu país progredir. Os angolanos vivem hoje melhor do que viviam ontem e pelo que estamos a ver, amanhã vamos todos viver muito melhor. O tchjimpepele está comigo.
JA - Porque razão ainda há homens da FLEC em armas?
LC – Essa pergunta deve ser feita ao Nzita Tiago e ao Alexandre Tati. Eles que respondam, mas com verdade. Digam por que razão continuam a fazer a guerra quando decidimos que a solução é o diálogo. Mas há outros que ainda têm mais responsabilidades do que ele nessa loucura de alimentar um clima de belicista.
JA - Há quem mande mais do que eles na FLEC?
LC - Hoje temos de falar da FLEC Estado, capitaneada pelo Nzita, e da FLEC Enclave, dirigida pelo Alexandre Tati. Teoricamente, eles é que mandam. Mas nesta fase, em que não há um único homem em armas na província de Cabinda, quem manda é o dinheiro. Os negócios escuros dominam a organização pela qual me bati e derramei o meu sangue.
JA - Quer explicar melhor?
LC – É a primeira vez que a comunicação social me dá esta oportunidade. Vou aproveitar. Alexandre Sambo é um dos responsáveis pelo clima belicista. O Félix Sumbo é outro. Esses dois fazem tudo para matar o diálogo e a paz. Se forem falar com alguns empresários de Cabinda, vão ficar a saber de coisas ainda mais graves. Quero recordar que certos políticos da FLEC se especializaram na chantagem e na extorsão de dinheiro. O Félix Sumbo trabalha aqui em Cabinda. O Alex Sambo foi mandado pela sua empresa para Luanda. Temos o diabo em casa.
JA - São eles os senhores do dinheiro?
LC - Calma. Tenho mais a dizer. Outro que faz tudo para matar o diálogo e promover a guerra, é o Belchior Tati. Este é professor de economia na Universidade 11 de Novembro. Mas também é dono de uma padaria em Cabinda e de uma empresa de madeira no Necuto. Os madeireiros da região tinham que pagar muito dinheiro à FLEC. O Belchior está isento. Ele devia explicar aos angolanos o que faz com o dinheiro que angaria supostamente para alimentar os combatentes da FLEC.
JA - Está a dizer que um professor de uma universidade pública defende a guerra em Angola?
LC - Estou. Mas digo mais. O Ivo Macaia, que se intitula secretário da Defesa, está implicado em acções terroristas. Com o dinheiro extorquido aos empresários e ao povo, adquiriu explosivos e armamento para fazer um atentado contra o aeroporto de Cabinda. Ele e o seu grupo recomendam ataques terroristas contra militares isolados, de preferência embriagados depois de saírem das festas, e contra pessoas de raça branca. Isto é muito grave.
JA - E os padres da FLEC?
LC - Os padres excomungados são os maiores violadores dos direitos humanos na província de Cabinda. As organizações que dizem defender os direitos humanos nunca falaram comigo. Aqui lhes deixo um desafio: venham falar comigo a Cabinda que eu dou-lhes provas irrefutáveis de que eles e os seus amigos violam gravemente os direitos humanos.
JA - De que está a falar?
LC - Vamos devagar. A situação actual aqui em Cabinda é esta: o Raul Danda quer continuar com as mordomias de deputado e por isso diz que a FLEC deve continuar aliada à UNITA. O padre Jorge Casimiro Congo defende uma aliança com a CASA-CE do senhor Abel Chivukuvuku. Pelo menos é corajoso. O padre Raul Tati não quer uma coisa nem outra. Diz que é preciso mobilizar o povo para a guerra. E dá exemplos a seguir: Xanana Gusmão em Timor e Nelson Mandela na África do Sul.
JA - O que tem isso a ver com a febre do dinheiro?
LC - Já lá vamos. O padre Raul Tati está enganado. Nelson Mandela não fez a guerra na África do Sul. Foi ao contrário. Os sul-africanos fizeram uma guerra destrutiva e sangrenta em Angola para decapitar o partido de Mandela, o ANC. É preciso ser verdadeiro. Um padre não pode mentir só porque a febre do dinheiro comanda a sua vida.
JA - Raul Tati quer a guerra para ganhar dinheiro?
LC - Ele está a ganhar imenso dinheiro. Tanto que nos três últimos anos teve o prémio de melhor cliente do BAI. Esse dinheiro vem dos grupos de oração nas capelas dos bairros. Ele impôs dízimos aos fiéis. Os catequistas dizem ao povo: esta semana pagam cinco mil. E eles entregam o dinheiro que eles exigem. Depois depositam milhões na conta pessoal do padre excomungado. Vou dar uma notícia em primeira mão: aquela contestação a D. Filomeno Vieira Dias foi um mero truque.
JA - Pode explicar?
LC - Ele e os seus apoiantes há muito que queriam impor na Igreja de Cabinda um dízimo arbitrário. Mas nunca conseguiram, o bispo era contra. Quando o Vaticano decidiu nomear novo bispo para Cabinda, chegou às autoridades eclesiásticas uma lista com os nomes de Raul Tati e Jorge Congo. Não foram aceites. O vaticano propôs um padre do Necuto que vivia em Roma. Eles trataram de inventar coisas para o denegrir. A escolha acabou em D. Filomeno. Raul Tati contestou, mas o que ele queria era um pretexto para sair e ficar com mãos livres para cobrar o dízimo. Então fundou a Lubundunu (União) e começou a extorquir dinheiro aos crentes, nas capelas dos bairros. Está milionário! Ele serve-se da FLEC para enriquecer.
JA - O dinheiro angariado não é para a FLEC?
LC - Agora temos a certeza que não. Os 29 guerrilheiros capturados e que foram para Benguela aprender profissões, estão de volta a Cabinda e já estão a trabalhar. Falámos com eles. Nos acampamentos da FLC na República Democrática do Congo não há medicamentos nem comida. Combatentes e população sofrem com fome e doença. De longe a longe aparece alguma comida. Faço um desafio às organizações de defesa dos direitos humanos: peguem nestes homens como guias e vão a esses autênticos campos de concentração para verem o que se passa. O povo e os combatentes estão sequestrados. Os que querem regressar são ameaçados. Metem-lhes medo. Isto é desumano.
JA - Como sabe que o dinheiro fica com os dirigentes que estão em Cabinda ou Luanda?
LC – Os próprios catequistas afirmam que depositam o dinheiro na conta pessoa do padre Raul Tati. Dizem a toda a gente que depositam tudo na conta dele. E o BAI considera-o um grande cliente. O povo de Cabinda dizia que ele era um enviado de Deus para salvar-nos e afinal é um diabinho.
JA - Perdeu a confiança dos crentes que o seguiram?
LC - Tinha que perder. O homem casou em Dezembro com a médica Maria Carlota, que tirou o curso em Cuba com uma bolsa do nosso governo. O Raul Tati perdeu a cabeça e diz que mesmo quando era padre já namorava com a doutora, que trabalha no Hospital de Cabinda. É esta a moral desse senhor. Por isso, o catequista Jorge Simba, das capelas do bairro Chiweca, já o abandonou e regressou ao seio da Igreja. Eles sabem que D. Filomeno é um grande bispo e tem sempre as portas abertas, mesmo aos que tão mal o trataram.
JA - E o padre Congo?
LC - Esse manda os outros para a luta enquanto fica na retaguarda a enriquecer. Ele jamais ficará sem um braço e a coxear de uma perna como eu estou. É dono de uma clínica, de uma padaria e de uma carpintaria. Os fiéis que o seguem compram-lhe os caixões quando têm que enterrar algum familiar. Ganha dinheiro que se farta. Era bom que explicasse o destino do dinheiro que devia ser enviado para os desgraçados da FLEC que ainda andam na mata, na RDC.
JA - O padre Congo ainda é o homem de confiança de Nzita Tiago, a FLEC Estado?
LC - Foi despromovido. O Nzita trocou-o pelo Belchior Tati que agora coordena todas as acções e também trata do dinheiro. Estou a falar de um professor numa universidade pública e que participou, com o grupo de Paris, no atentado à comitiva desportiva do Togo. O Executivo exagera na defesa dos direitos humanos. Até protege suspeitos de acções terroristas. Se as organizações que dizem defender os direitos humanos quiserem ouvir-me, eu revelo-lhes todas as acções terroristas destes senhores. Penso que o pior atentado contra os direitos humanos é matar civis indefesos e disparar sobre jornalistas e desportistas. Espero que em breve todos esses senhores que se dizem intelectuais da FLEC respondam pelos seus crimes, que são graves atentados aos direitos humanos.
JA - Quem apoia Nzita Tiago e Alexandre Tati no exterior?
LC - O Alexandre Tati está em Ponta Negra. O Presidente Denis Sesso Nguesso diz que é amigo de Angola mas deixa-o organizar ataques terroristas contra Angola. Os seus parceiros estão todos na República Popular do Congo. O Presidente Kabila deu ordens para expulsar o pessoal da FLEC da República Democrática do Congo. Menos mal. Mas o Manuel Vaz António está em Kinshasa.
JA - É dirigente da FLEC?
LC - É jornalista e funcionário da ONU. Este senhor é que despacha falsas notícias para os jornais e blogues que fazem a propaganda da FLEC. É também ele que paga os serviços dos jornalistas. Aqui em Angola temos alguns que recebem dinheiro manchado com o sangue de angolanos inocentes. Noutra oportunidade digo o nome deles todos e dos blogues e jornais onde trabalham. Por agora faço-lhes um apelo: deixem Angola e os angolanos em paz! E desafio o professor Belchior Tati a abraçar o diálogo ou então que se demita de funcionário do Estado Angolano. Seja leal, pelo menos uma vez na vida. Um professor universitário não pode ser um senhor da guerra disfarçado.
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