O FUTURO DA LÍNGUA LUSÓFONA EM TIMOR-LESTE
Por sentirmos natural intenção de esclarecer e proporcionar as verdades de factos que ocorrem nos temas que abordamos decidimos publicar na integra as palavras proferidas pelo presidente timorense Taur Matan Ruak e que ao que tudo indica foram mal interpretadas pelo jornalista do jornal Público, de Portugal, que na realidade alterou (corrigiu) posteriormente na página correspondente daquele jornal o texto inicialmente publicado. Assim constatámos.
Deixamos à consideração dos leitores a interpretação que considerem correta acerca das palavras proferidas. É sabido que a língua portuguesa não é uma língua materna de Timor-Leste, contudo também não a consideramos propriamente estrangeira (por já estar assente naquele país há séculos) comparativamente a outras. Sem concordarmos com a totalidade das palavras do PR Taur pelo que futura para o ensino do português em Timor-Leste, já nos esclareceram em off as razões por que assim ele pensa e aquilo que pretende. De tudo isto ressalta a balbúrdia que vai no ensino timorense e que abre portas aos adversários da lusofonia. Sem mais, por agora, passamos à apresentação do discurso integral com excepção dos salamaleques das saudações próprias dos protocolos destas cerimónias em que repetem vezes sem conta excelentíssimos “estes e aqueles”. (AV)
O DISCURSO MAL COMPREENDIDO
Excelências, Amigos,
Fiquei feliz ao tomar conhecimento que esta recepção teria lugar nesta Escola que é hoje um marco de qualidade no panorama do ensino em Timor-Leste. E, já não apenas em Díli, mas num processo de alargamento aos distritos o que tanto beneficiará as crianças e as famílias que nunca teriam a possibilidade de acesso a um ensino com a qualidade deste.
Pessoalmente, esta Escola tem um significado especial para mim e para a Isabel, a minha mulher, pois os nossos filhos estudam aqui e é aqui que recebem uma parte significativa da formação que ditará o seu futuro.
O facto de termos feito essa opção para os nossos filhos revela claramente qual a posição que assumo em relação à língua portuguesa, como língua oficial, constitucionalmente consagrada, em Timor-Leste.
Sou demasiadas vezes questionado pela comunicação social, nacional, de língua portuguesa e de outras línguas, sobre a minha posição relativamente ao português, se não seria preferível o inglês, o malaio-indonésio, se o português não mata o Tétum, etc.
Para que não restem dúvidas: Nós fizemos uma opção política, estratégica e identitária. O português está para ficar.
Recordo um episódio simbólico da nossa relação com os portugueses em décadas recentes. Dentro de momentos vou manifestar o reconhecimento do país ao Senhor General António Ramalho Eanes, antigo Presidente da República Portuguesa, pela sua acção solidária com a casa de Timor-Leste. Recordo a expedição do Lusitânia Expresso, a que o Senhor General deu o apoio generoso e desinteressado, incluindo através da sua presença abordo. O organizador daquela iniciativa, o Dr. Rui Marques, está também entre nós. Em 1992, o Lusitânia Expresso atravessou oceanos, entre Portugal e o Taci Mane de Timor, para dar a conhecer ao mundo a nossa causa, num momento muito doloroso da nossa luta. Essa expedição foi organizada por homens e mulheres de boa vontade, jovens activistas católicos portugueses, que reuniram o apoio de activistas de muitas nacionalidades e de portugueses de muitas correntes de opinião.
Optámos pela língua portuguesa porque queremos consolidar a nossa Identidade Nacional que entre outros, tem por pilares o catolicismo e o português. Foram dois marcos de distinção e de afirmação de identidade.
O nosso Tétum é cada vez mais utilizado no quotidiano dos nossos cidadãos e na administração pública, mas com uma grande diferença, pois nestes últimos anos, o número de conceitos, verbos, vocábulos em português que o Tetum readquiriu é visível.
Isto comprova que o próprio uso do português começa a ser mais alargado e, mesmo falando com erros gramaticais, os nossos cidadãos esforçam-se por aprender e falar o português.
Existe a vontade política e existe a vontade dos cidadãos. Então o que falta?
Há que trabalhar mais no ensino da língua portuguesa. O português hoje já está presente de forma incomparável com há cinco anos atrás. Já não é motivo de conflito ou de questionamento. Mas temos de que trabalhar mais para o implantar e disseminar.
Se analisarmos as línguas mais utilizadas nos meios urbanos, e não só, em Timor-Leste, verificamos que são línguas de construção lexical e gramatical menos complexa que a portuguesa. Isto não ajuda, ou facilita a aprendizagem do português.
Por isso, permitam-me que faça um reparo crítico mas com um genuíno espírito construtivo. O ensino do português em Timor-Leste, à excepção do administrado na Escola Portuguesa, tem de ser faseado. Nesta fase, e para que dentro de uma década o panorama linguístico esteja, de facto, alterado, o ensino do português deve assumir características de ensino de língua não materna, de língua estrangeira. Não pode nem deve ser administrado como língua mãe. Acredito que esta alteração no método de ensino poderá beneficiar os resultados e mostrar maior eficácia.
Simultaneamente, em Timor-Leste também devemos fazer um esforço no sentido de não existirem contradições entre a opção política claramente assumida e constantemente afirmada e a acção prática, nomeadamente na área da educação. Mas essa é uma tarefa que nos cabe a nós assumir e completar.
Aos portugueses que aqui trabalham e vivem connosco, quero agradecer o esforço, a entrega e o empenho permanentes que colocam no vosso trabalho e no convívio e quotidiano com os timorenses. É o vosso exemplo que eu gostaria também de ver replicado com os restantes povos irmãos da família da CPLP: o contacto directo e o intercâmbio entre cidadãos da mesma família. Continuem o trabalho que realizam, continuem a transmitir os vossos conhecimentos e competências aos timorenses, continuem o exemplo do que a cooperação entre Estados e cidadãos deve ser.
Agradeço terem-me dado a oportunidade de partilhar estes momentos convosco.
Deus nos Abençoe.
Muito Obrigado!
Pessoalmente, esta Escola tem um significado especial para mim e para a Isabel, a minha mulher, pois os nossos filhos estudam aqui e é aqui que recebem uma parte significativa da formação que ditará o seu futuro.
O facto de termos feito essa opção para os nossos filhos revela claramente qual a posição que assumo em relação à língua portuguesa, como língua oficial, constitucionalmente consagrada, em Timor-Leste.
Sou demasiadas vezes questionado pela comunicação social, nacional, de língua portuguesa e de outras línguas, sobre a minha posição relativamente ao português, se não seria preferível o inglês, o malaio-indonésio, se o português não mata o Tétum, etc.
Para que não restem dúvidas: Nós fizemos uma opção política, estratégica e identitária. O português está para ficar.
Recordo um episódio simbólico da nossa relação com os portugueses em décadas recentes. Dentro de momentos vou manifestar o reconhecimento do país ao Senhor General António Ramalho Eanes, antigo Presidente da República Portuguesa, pela sua acção solidária com a casa de Timor-Leste. Recordo a expedição do Lusitânia Expresso, a que o Senhor General deu o apoio generoso e desinteressado, incluindo através da sua presença abordo. O organizador daquela iniciativa, o Dr. Rui Marques, está também entre nós. Em 1992, o Lusitânia Expresso atravessou oceanos, entre Portugal e o Taci Mane de Timor, para dar a conhecer ao mundo a nossa causa, num momento muito doloroso da nossa luta. Essa expedição foi organizada por homens e mulheres de boa vontade, jovens activistas católicos portugueses, que reuniram o apoio de activistas de muitas nacionalidades e de portugueses de muitas correntes de opinião.
Optámos pela língua portuguesa porque queremos consolidar a nossa Identidade Nacional que entre outros, tem por pilares o catolicismo e o português. Foram dois marcos de distinção e de afirmação de identidade.
O nosso Tétum é cada vez mais utilizado no quotidiano dos nossos cidadãos e na administração pública, mas com uma grande diferença, pois nestes últimos anos, o número de conceitos, verbos, vocábulos em português que o Tetum readquiriu é visível.
Isto comprova que o próprio uso do português começa a ser mais alargado e, mesmo falando com erros gramaticais, os nossos cidadãos esforçam-se por aprender e falar o português.
Existe a vontade política e existe a vontade dos cidadãos. Então o que falta?
Há que trabalhar mais no ensino da língua portuguesa. O português hoje já está presente de forma incomparável com há cinco anos atrás. Já não é motivo de conflito ou de questionamento. Mas temos de que trabalhar mais para o implantar e disseminar.
Se analisarmos as línguas mais utilizadas nos meios urbanos, e não só, em Timor-Leste, verificamos que são línguas de construção lexical e gramatical menos complexa que a portuguesa. Isto não ajuda, ou facilita a aprendizagem do português.
Por isso, permitam-me que faça um reparo crítico mas com um genuíno espírito construtivo. O ensino do português em Timor-Leste, à excepção do administrado na Escola Portuguesa, tem de ser faseado. Nesta fase, e para que dentro de uma década o panorama linguístico esteja, de facto, alterado, o ensino do português deve assumir características de ensino de língua não materna, de língua estrangeira. Não pode nem deve ser administrado como língua mãe. Acredito que esta alteração no método de ensino poderá beneficiar os resultados e mostrar maior eficácia.
Simultaneamente, em Timor-Leste também devemos fazer um esforço no sentido de não existirem contradições entre a opção política claramente assumida e constantemente afirmada e a acção prática, nomeadamente na área da educação. Mas essa é uma tarefa que nos cabe a nós assumir e completar.
Aos portugueses que aqui trabalham e vivem connosco, quero agradecer o esforço, a entrega e o empenho permanentes que colocam no vosso trabalho e no convívio e quotidiano com os timorenses. É o vosso exemplo que eu gostaria também de ver replicado com os restantes povos irmãos da família da CPLP: o contacto directo e o intercâmbio entre cidadãos da mesma família. Continuem o trabalho que realizam, continuem a transmitir os vossos conhecimentos e competências aos timorenses, continuem o exemplo do que a cooperação entre Estados e cidadãos deve ser.
Agradeço terem-me dado a oportunidade de partilhar estes momentos convosco.
Deus nos Abençoe.
Muito Obrigado!
1 comentário:
Uma visão realista das línguas faladas em Timor. Parabéns!
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