quinta-feira, 3 de maio de 2012

PORTUGAL – UMA DAS PLACAS GIRATÓRIAS AO DISPÔR DO BILDERBERG – III



Martinho Júnior, Luanda

Já há largas décadas que se vem discutindo questões como a existência duma Nova Ordem Mundial, hegemonia uni polar, Governo Mundial, BILDERBERG…

Mesmo em Portugal, alguns se debruçaram sobre este tipo de assuntos e entre eles sobressai Fernando Pacheco de Amorim., antes mesmo do BILDERBERG ser conhecido em Portugal.

Não estou de acordo com ele em algumas das suas apreciações em relação ao 25 de Abril de 1974, mas no que diz respeito às questões que se prendem com a economia, as finanças, a banca e a formação de elites, o seu ponto de vista merece ser considerado, pois me parece fundamentado o suficiente para se perceber a constituição quer da aristocracia financeira mundial, quer das oligarquias e elites onde quer que sejam, quer dos “think tanks” que articulam os “lobbies” que corrompem a democracia representativa e a torna refém do poder do capital detido pelas grandes burguesias e pelos banqueiros.

Escreveu Fernando Pacheco de Amorim em “Governo Mundial – 25 de Abril, Episódio do Projecto Global” (http://macua.blogs.com/files/25abril_episodiodoprojectoglobal.pdf) em relação aos aspectos da formação das elites financeiras e bancárias:

“Não é de surpreender que os banqueiros sempre tenham estado atentos à evolução da vida política nos diferentes Estados ligados aos seus interesses, dada a íntima relação entre a vida política e a financeira.

Daí o não ser igualmente surpreendente que se tenham apercebido, especialmente a partir da Revolução Francesa, da ameaça que pesava sobre o seu poder com a passagem do poder político das mãos da aristocracia de sangue, para o poder anónimo das massas populares, eufemìsticamente representadas pelos partidos.

Resultado este, pensavam, que traduzia o fracasso da burguesia que tendo-se revelado capaz de substituir o poder da aristocracia de sangue pelo seu próprio poder, não tinha conseguido mantê-lo ao entregá-lo ao voto anónimo das massas populares.

Ora, esta demissão da burguesia perante as massas populares, criara um vazio de poder que importava urgentemente preencher.

As massas populares eram incapazes, por definição, de tomarem decisões sobre o que interessa à humanidade quando, de maneira tão evidente, se revelam incapazes de se aperceberem onde está o seu próprio interesse para além do imediato.

Daí a ideia surgida entre os banqueiros, para o bem próprio e o da humanidade, de preencher esse vazio deixado pela incapacidade da burguesia para assumir a chefia dos acontecimentos, já que o poder de que cada banqueiro dispunha uma vez articulado com os demais, constituiria uma força verdadeiramente imbatível.

Consideravam como tal que as condições fundamentais para se constituírem em classe dirigente já existiam, bastando apenas para se transformarem num poder efectivo à escala mundial, concertarem as suas acções.

Para dar uma maior solidez à força que representavam, consideraram como muito importante, seguindo aliás na esteira da antiga aristocracia, que promovessem os casamentos entre os membros das suas respectivas famílias, o que não representaria dificuldade de maior dado serem em número reduzido e até haver já uma certa tradição nestas ligações.

Assim se constituiria uma nova aristocracia, com um poder e um nível cultural que nenhuma outra em qualquer tempo teria tido”.

(…)
“Cosmopolitas internacionais, estão em estreito relacionamento, directo ou indirecto, com os governos que frequentes vezes deles dependem, através sobretudo de empréstimos, mas não só, para se manterem no Poder.

Por outro lado, estes banqueiros internacionais não dirigem propriamente bancos, mas sociedades que englobam por vezes dezenas de bancos.

Sendo, só por si, como banqueiros uma força considerável, agora unidos e concertados numa estratégia comum, passaram a representar uma força poderosíssima que foi aumentando continuamente à medida que nela foram incorporados bancos comerciais e bancos de poupança, bem como companhias de seguros e empresas multinacionais de maior envergadura, formando um todo verdadeiramente fabuloso.

Pode dizer-se que formam um verdadeiro sistema financeiro internacional que pela sua dimensão e o seu poder tem capacidade de manipular a quantidade e o fluxo de dinheiro onde quer que lhes convenha e, como tal, dominar os governos através da capacidade de que dispõem para interferir na vida financeira e económica de qualquer país”.

De certo modo Fernando Pacheco de Amorim soube prever: com o 25 de Abril de 1974 punha-se fim a uma ditadura, uma ditadura política fascista e colonial, mas abria-se, a partir do momento que Portugal entrou na Europa, uma outra, aquela constituída em “diktat” da aristocracia financeira mundial, fomentadora do tentáculo de castas e elites afins, um sistema cultor do “mercado global” e de sua constelação de bancos, explorando as “open societies” e… submetendo os eleitorados, eles próprios inebriados pela argúcia e pela enorme capacidade de inteligência dos meios de comunicação ao dispor do “sistema”.

É assim que chegamos a Francisco Pinto Balsemão, à sua própria trajectória e à sua disponibilidade elitista, ideológica e politicamente constatada: esteve na “Ala Liberal” do fascismo, esteve ligado à ditadura no seu ocaso… desde o 25 de Abril, agora, está ele ligado à ditadura do capital, aceitando o papel de representante do BILDERBERG em Portugal e sistemático frequentador desse “think tank” elitista… no fundo houve coerência na trajectória “liberal” de sua própria vida!

Um defensor lúcido desse modelo de globalização não pode deixar-se de interrogar sobre o que está a acontecer sobre os escombros do século XX.

Em Portugal António de Almeida Santos é um desses “filósofos”, que também com curriculum na ditadura (foi censor em Moçambique) acompanhou a filtragem do próprio PS pelos interesses do BILDERBERG e, por que faz parte da “via chinesa” da Fundação Oriente a que se refere o artigo do Notícias da Amadora (um vanguardista de Stanley Ho, de Macau, na Geocapital), é outro homem decisivo do “sistema” e, tal como Francisco Pinto Balsemão, embora com outra inserção, um estudioso com um fôlego muito curto desse “sistema”.

António Almeida Santos esconde por completo que a lógica capitalista é a razão causal do estado desta globalização e por isso fica-se pela folhagem e alguma ramagem crítica a ela!

Por isso ele advoga uma Europa que é agora visível no seu estado de crise, uma crise em tudo similar à que antes eclodira no outro lado do Atlântico!

Atacou os Estados Unidos, com base nas “conquistas” da União Europeia, mas agora com a crise da Europa, como se irá “posicionar”?

Perdeu uma oportunidade para reflectir sobre a lógica do sentido da vida, reflectir por exemplo, sobre o que se passa na América Latina, essencial para a “aldeia global”, por que para ele nenhuma outra lógica pode existir senão a capitalista!

No seu livro “Que Nova Ordem Mundial?” (1ª edição saiu em 2008), ele não tendo a coragem de reconhecer o essencial, contribui para relegar o homem, as humanísticas e a política para um papel de subalternização, senão de completa submissão, acabando por referenciar muitos dos rescaldos:

“As soberanias entraram em desvalorização, a caminho do esgotamento.

O princípio da territorialidade, base do estado clássico, foi cedendo às novas realidades, sendo que no espaço da União Europeia já praticamente não há fronteiras físicas, enquanto nos demais espaços são cada vez mais apenas jurídicas.

E a globalização dos mercados e das trocas, ao universalizar e reforçar a ferocidade da competição económica, fez de cada competidor um inimigo.

O ser humano dessolidariza-se.

Assim por que, repito, a globalização se fez até agora por metade.

E fez-se só por metade porque era isso que convinha aos interesses hegemónicos dos EUA e dos seus parceiros do G-8.

Fez-se a globalização económica e travou-se a globalização política.

Terei a oportunidade de evidenciar como e porquê.

Adianto desde já que se quis a globalização económica sem organização e sem regras, para que o triunfo do forte sobre o fraco – grosso modo do rico sobre o pobre – não fosse travado, ou sequer dificultado, por qualquer ordem política global.

Daí que a globalização económica se venha processando em ambiente de liberdade económica e de vazio político.

O clima ideal para o forte esmagar o fraco.

E há que reconhecer que, sobretudo a partir do fim da divisão bipolar do mundo, o forte não tem feito cerimónia!

O número de esmagados explodiu.

E continua a explodir.

Até quando?

E nesse quando acontece o quê?

É neste estado das artes que verdadeiramente estamos.

As novas tecnologias da informação universal e do grande capital têm donos.

E, até ver, escassa partilha”.

Embora não haja sinal algum de presença no BILDERBERG, Almeida Santos enquanto “filósofo” da lógica capitalista, tem vindo a África por muito capitalistas razões.

Viveu 20 anos em Moçambique durante o colonialismo e tem-se deslocado frequentes vezes, sobretudo em função da Geocapital, a Moçambique, a Angola e à Guiné Bissau, onde há interesses bancários e financeiros dessa instituição com raiz em Macau: ele próprio seguiu uma das trilhas do dinheiro e por isso conhece por dentro alguns dos seus meandros e das mãos que tão ferozmente o manipulam, inclusive em África! (“A China que interessa aos bancos” – http://pontofinalmacau.wordpress.com/2010/11/14/a-china-que-interessa-aos-bancos/).

Gravura:
Capa do livro de António de Almeida Santos, “Que Nova Ordem Mundial?”

A CONSULTAR:
- CLUB BILDERBERG – OS SENHORES DO MUNDO – http://macua.blogs.com/files/senhores-do-mundo-pdf1.pdf
- CONFERÊNCIAS BILDERBERG E A FREQÊNCIA PORTUGUESA DESDE 1988 – http://pt.scribd.com/doc/23164608/Conferencias-Bilderberg-e-a-frequencia-portuguesa-desde-1988
- Geocapital de Stanley Ho entrou no mercado bancário angolano – http://www.macauhub.com.mo/pt/2008/10/24/5950/
- Geocapital, de Stanley Ho, entra no sector financeiro da Guiné-Bissau – http://www.macauhub.com.mo/pt/2007/07/23/3402/
- Geocapital Holdings assina acordo para investir em Moçambique – http://www.macauhub.com.mo/pt/2005/12/08/135/

* Ver todos os artigos de Martinho Júnior – ligação também em autorias na barra lateral

1 comentário:

Ricardo disse...

Só não tenho ainda a certeza de uma coisa(entre muitas)a ameaça comunista no pós 25 de abril foi mesmo séria(claro que até ao 25 de novembro tivemos aqueles governos provisórios do gonçalvismo/cunhalista pró soviético)ou foi uma estratégia para dividir o povo português para melhor o controlar?Ora, os comandos de Jaime Neves primeiro(sob a ameaça de ditadura comunista) e depois o sr Soares(confessado membro do oriente lusitano) levaram a política(de governo) portuguesa para fora do marxismo(ou estalinismo) e entregaram o país aos interesses americanos e dos bilderbergs.Voltando à questão inícial,estava tudo de acordo com o plano dos bilderbergs ou a situação saiu fora de controlo com a influência comunista nas FA(mfa copcon etc)?

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