RTP, com foto Wolfgang Kumm, Epa
O "super-domingo" eleitoral de 6 de maio não anuncia nada de bom para a política da chanceler alemã. Em França e na Grécia os seus principais aliados vão às urnas com sondagens desfavoráveis. Na Alemanha, também o Land Schleswig-Holstein pode apear do poder um Governo regional democrata-cristão.
A principal dor de cabeça para a chanceler alemã é sem dúvida a eleição presidencial francesa. Nicolas Sarkozy tem sido o seu parceiro de todas as horas e agora está ameaçado de perder a eleição para o rival socialista François Hollande. Se se confirmar que a perde, há-de juntar-se à derrota a circunstância duplamente humilhante de ser o primeiro presidente francês em exercício a perder a batalha da reeleição.
França: em qualquer caso uma relação mais difícilUm provável render da guarda no Eliseu significaria, então, um questionamento de toda a estratégia que até aqui tem inspirado o eixo franco-alemão. François Hollande tem vindo, nomeadamente, a pôr em causa o tratado orçamental, que vários parlamentos europeus ainda não ratificaram e que, uma vez questionado a partir do próprio directório da União Europeia, se tornará ainda menos ratificável.
A eleição de Hollande poderia, além do mais, alimentar-se dos alertas lançados ultimamente pelo FMI contra uma receita austeritária que esqueça o crescimento económico. E não é de esperar que o novo presidente venha a suavizar rapidamente as arestas da sua campanha, porque a pré-campanha das eleições legislativas ficará no terreno praticamente desde o domingo, com o escrutínio a uma distância de poucas semanas.
Fontes da democracia-cristã alemã citadas por DER SPIEGEL têm-se agarrado à esperança de que o novo presidente acabaria por cair na realidade, depois de terminada a maré eleitoral - uma expectativa que só o futuro permitirá verificar.
Inversamente, contudo, há o receio de que Sarkozy, pressionado pela campanha eleitoral, se tenha comprometido de tal forma com o nacionalismo agressivo da sua rival Marine Le Pen, que, no caso improvável de ganhar, não possa voltar à mesa dos entendimentos com Merkel na mesma posição dócil e construtiva de antes.
Grécia: subida dos partidos anti-troikaNa Grécia, os partidos que subscreveram o memorando vão certamente continuar a ser os mais votados - mas também váo ser os que perderão mais votos. O Movimento Socialista Pan-Helénico (PASOK) e o partido da direita Nova Democracia (ND) reúnem em conjunto 40 por cento das intenções de voto e obterão, nesse caso, mais assentos parlamentares que as outras três dezenas de partidos somadas.
Resta saber se ND e PASOK estarão dispostos a formar um governo conjunto e a fazer maioria no parlamento, em tempos de uma crise indomada, com tudo para desgastar ainda mais um bloco central, já de si frágil por natureza e definição. Se assim for, o partido mais votado - com toda a probabilidade a ND - colocará à cabeça da coligação o seu dirigente Antonis Samaras.
Mas Samaras, como um Sarkozy em eventual segundo mandato, é muito menos previsível do que os socialistas Papadopoulos e Venizelos, a quem Merkel quase sempre ditava os seus desejos sem receio de ser contraditada. Com efeito, o chefe da ND votou contra o primeiro pacote de assistência financeira, embora depois tenha aprovado o segundo. E, com as suas intenções de voto na ordem dos 25 por cento, continua a preferir um governo minoritário a uma coligação com o PASOK.
Tanto um bloco central como um governo minoritário irão, de qualquer modo, encontrar-se em posição frágil perante uma oposição que cresce à esquerda e à direita. Aos comunistas gregos anuncia-se uma forte votação e a direita nacionalista atinge já, no caso do Partido dos Gregos Independentes, 11 por cento das intenções de voto - a favor da proposta programática que seria interditar a entrada em território grego ao comissário do FMI, Paul Thomsen.
Os partidos que crescem à esquerda e à direita no espectro político só têm em comum ser "partidos anti-memorando" e atraírem os votos de um eleitorado que atingiu a saturação perante sucessivas medidas de austeridade, perante as dinastias políticas que desde há décadas governam a república e que têm brilhado por uma bem conhecida corrupção. O voto de protesto não elegerá, como em França, uma alternativa de poder, mas pode complicar as contas de quem ficar no governo.
Eleitorado alemão também ameaça MerkelEnfim, Angela Merkel corre o risco de perder amanhã as eleições em Schleswig-Holstein. Trata-se de um Land pequeno, mas que pode marcar um ponto de viragem sob vários aspectos.
Se, após sondagens mais ou menos empatadcas, a votação pender para o lado do SPD, Merkel verá invertida a maioria que tem em governos de Länder (oito contra sete dos social-democratas). A vitória do SPD poderia pesar também no resultado da eleição, dentro de uma semana, no Land mais populoso do país, o da Renânia-Norte Vestefália.
Por outro lado, o partido liberal FDP, parceiro de Merkel na coligação federal, pode sofrer em Schleswig-Holstein uma derrota eleitoral grave, ficando abaixo dos 5 por cento que o separam de ser um partido extra-parlamentar. Uma derrota tal, a confirmar as sondagens, não deixaria de ter impacto sobre o comportamento político, já hoje inseguro, do partido como parceiro de coligação em Berlim.
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