O País (ao)
Antigos militares das Forças Armadas de Libertação de Angola (FAPLA), Exército de Libertação de Angola (ELNA) e das Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA) voltaram a manifestar-se na última quarta feira, em Luanda, no Regimento das Transmissões do Exército, para reclamar a sua integração na Caixa de Segurança Social das FAA.
Segundo os antigos soldados, desde que o processo começou ainda não viram nenhum responsável da Caixa de Segurança Social a prestar qualquer esclarecimento a respeito das pensões vitalícias e os respectivos salários em atraso.
Os ex-soldados revoltaram-se no interior da unidade, pelo facto de não terem visto cumprida a promessa feita por Bento Kangamba, na semana passada, de dar resposta às suas reivindicações.
A presença da Polícia de Intervenção Rápida (PIR) no terreno não constituiu ameaça, porque os an tigos soldados estavam dispostos a enfrentá-los, caso houvesse tentativa de deter alguém. No Regimento das Transmissões o clima era tenso, sendo que o general indigitado foi dado como interlocutor inválido. Os presentes exigiam a presença do ministro dos Antigos Combatentes e Veteranos de guerra, porque a situação já perdura por longo tempo. Carlos Ginga, 55 anos, ingressou nas fileiras das FAPLA em 1974 e foi desmobilizado em 1992. O antigo combatente disse que, até hoje, não usufrui da pensão devida e não sabe o que fazer.
Para sobreviver, trabalha numa quinta em Catete, mas acha que podia receber a sua pensão, porque lutou para a construção da paz efectiva, uma vez que o processo começou há muitos anos. Carlos Ginga disse que os seus filhos atribuem~lhe várias culpas, devido as dificuldades que a família atravessa para conseguir o seu sustento.
O ex-soldado pediu que as instâncias superiores resolvam o problema o mais rápido possível, de modo que haja justiça social em Angola. “Lutámos para garantir o futuro desta geração e hoje não somos recompensados”, lamentou.
No Instituto Médio 17 de Setembro, instalado no interior do regimento, as aulas no período da manhã paralisaram de imediato. Os estudantes temiam que o clima tenso terminasse em violência física. Os estudantes entraram em pânico e esperam que nos próximos dias se encontre uma solução para se resolver o problema, sob pena de se interromper as aulas no instituto. Manuel, estudante de electricidade, disse a O PAÍS que alguns colegas puseram-se em fuga e permaneceram nas cercanias até que tudo voltasse ao normal, mas já não regressaram às aulas.
Muitos soldados não têm casa própria, muito menos emprego, desde que deixaram de cumprir serviço militar obrigatório com a assinatura dos Acordos de Bicesse em 1991. José Félix, 43 anos, cumpriu oito anos de tropa no Moxico na década de oitenta. O antigo soldado das FAPLA fez a sua recruta no Regimento das Transmissões, local onde hoje clama pelo seu dinheiro.
Falando a O PAÍS, semblante carregado, José Félix disse que não trabalha e para se deslocar até ao quartel onde espera ver resolvido o seu problema é obrigado a pedir emprestado dinheiro a um vizinho. O ex-tanquista adiantou que não querem ser pagos à mão como prometeram, porque as coisas depois podem não funcionar. “Queremos ser inseridos na Caixa Social e receber todos os meses o nosso dinheiro”, disse.
Muitos reclamaram as condições sociais que o país vive e acham que com transparência as coisas podem mudar, uma vez que o país tem tudo para dar boas condições aos seus filhos.
Os antigos combatentes fizeram saber que há indivíduos que nem sequer cumpriram a tropa mas auferem salários altos na Caixa de Segurança Social das FAA. Segundo os antigos militares, “o nível de injustiça social está a estragar o país, porque uns comem e outros não.
Se as coisas continuarem assim vamos ter dias piores”. João Paulo ingressou nas fileiras das FAPLA nos anos 80, mobilizado em plena rua à saída da escola. Hoje não tem emprego, mas já trabalhou como segurança na Tele-Service, na província da Lunda-Norte. O ex-soldado da TGFA, de 46 anos, não consegue dar outro rumo à sua vida, porque não sabe o que fazer.
Nos empregos que tentou não tem sido aceite, por não ter habilitações literárias. Enquanto isso, um outro grupo dirigiu-se ao centro da cidade, no Largo da Maianga, mas foi impedido pela Polícia de Intervenção Rápida.
No local, houve feridos e disparos para dispersar os manifestantes. O trânsito automóvel na Baixa de Luanda entrou parcialmente em colapso, com viaturas largadas pelos seus proprietários em qualquer lugar. Uma fonte da Direcção de Pessoal e Quadros das FAA adiantou que tudo pode estar resolvido em breve.
Sebastião Félix
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