sexta-feira, 22 de junho de 2012

A LUTA CONTINUA E A VITÓRIA É CERTA!


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Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

Mesmo que amanhã o MPLA tenha alguns milhões de voluntários devidamente obrigados a dar vivas a Eduardo dos Santos, a luta continua e a vitória é certa! Pode demorar, mas vai chegar.

O MPLA em Luanda prevê mobilizar mais de um milhão de militantes, simpatizantes e amigos do partido, para – repara-se na definição - o “acto político de massas”, marcado para amanhã no Estádio 11 de Novembro e que visa apoiar a candidatura do presidente José Eduardo dos Santos, como cabeça de lista do partido nas eleições gerais de 31 de Agosto.

Apesar do exemplo que a imagem mostra, ou seja, a carta que o director Provincial de Educação de Luanda encaminhou para os directores de Escolas solicitando a mobilização de alunos para que estejam amanhã presentes no “acto político de massas”, acho que o MPLA está a perder fôlego.

Se o partido que está no poder desde 1975, que tem a dirigir o país há 33 anos um presidente não eleito, não consegue arregimentar aí uns cinco milhões de adeptos só em Luanda… então é porque já há demasiados (para o gosto do MPLA) angolanos a pensar sem ser com a barriga.

Tendo na memória as manifestações dos jovens ou a mais recente de ex-combatentes, não adianta, pelo menos por enquanto, dizer que a polícia (armada até aos dentes) e os seus capangas à civil, desrespeitam o direito à manifestação e os direitos humanos. E não adianta porque Angola não é um Estado de Direito mas, antes, um reino em que o soba tem plenos poderes, inclusive para mandar matar quem pense de maneira diferente.

Seja como for, todos esses manifestantes ajudam a semear a Primavera, embora até agora vivam no mais duro Inverno. Todos gritam que "a polícia é do povo, não é do MPLA", ma continuam a esquecer-se que o MPLA é Angola e Angola é o MPLA.

Recorde-se que a 3 de Setembro do ano passado, uma manifestação organizada pelo movimento de jovens terminou com a detenção de 21 manifestantes, 18 dos quais foram julgados e condenados a penas de prisão entre um mês e 90 dias, por ofensas corporais à Polícia e danos materiais.

Em Angola "vive-se uma democracia com medo", disse na altura o "rapper" angolano Mona Dya Kidi. Mentira. No reino de Eduardo dos Santos existe a mais avançada democracia de que há conhecimento… Duvidam? É só perguntarem, entre outros, a Cavaco Silva, Passos Coelho ou Armando Guebuza.

Falar, no caso de Angola, de democracia com medo é uma forma de branquear a situação, compreensível no contexto de que os angolanos sabem que o regime mata primeiro e pergunta depois. Aliás, se existe medo é porque não existe democracia.

O regime de Eduardo dos Santos sabe bem que a melhor forma de exercer a sua “democracia” é ter 70% da população na miséria, é ter tirado a coluna vertebral à esmagadora maioria dos seus opositores políticos, a começar pela UNITA, é dizer ao povo que tem de escolher entre a liberdade e um saco de fuba.

O regime não brinca em serviço e, por isso, nada como preventivamente mostrar aos manifestantes (bem como aos jornalistas) que quem manda é o MPLA.

José Eduardo dos Santos que tem, que ainda tem, a cobertura internacional (comprada, mas tem), sabe que pôr o povo a pensar com a barriga é a melhor forma de o manter calado e quieto.

Aliás, se assim não for o que lhe restará? Provavelmente, “peixe podre, fuba podre, 50 angolares e porrada se refilares”.

Defender a liberdade de expressão não é nada do outro mundo, mas é algo que o regime não quer. Tudo quanto envolva a liberdade (com excepção da liberdade para estar de acordo com o regime) é algo que causa alergias graves a Eduardo dos Santos.

Recorde-se, a propósito das manifestações, que Bento Bento, o chefe do posto do MPLA em Luanda, foi claro quando disse: "Quem tentar manifestar-se será neutralizado, porque Angola tem leis e instituições e o bom cidadão cumpre as leis, respeita o país e é patriota."

Apesar de tudo, as manifestações fazem – por muito pequenas que (ainda) sejam - tremer o regime. A tal ponto que – relembremos - perante o anúncio da primeira manifestação, o Governo angolano apressou-se a pagar salários em atraso nas Forças Armadas e na Polícia, a fazer promoções em série e a, inclusive, a mandar carradas de alimentos para a casa de milhares de militares.

Basta também ver que, perante essas manifestações, o regime põe nas rua e por todo o lado – mesmo em locais onde os angolanos nem sabem que iria haver manifestações – os militares e a polícia a avisar que qualquer apoio popular aos insurrectos significava o regresso da guerra.

No entanto, por muita força que tenha a máquina repressora do regime angolano (e tem-na), por muito apoio que tenha de alguns órgãos de comunicação estrangeiros, como a RTP, nunca conseguirá fazer esquecer que 70% dos angolanos vivem na miséria.

Nunca fará esquecer que apenas um quarto da população angolana tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade, que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos.

Nunca fará esquecer que 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos.

Nunca fará esquecer que a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos, que 80% do Produto Interno Bruto é produzido por estrangeiros, que mais de 90% da riqueza nacional privada é subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população, que 70% das exportações angolanas de petróleo tem origem na sua colónia de Cabinda.

Nunca fará esquecer que o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.

Por tudo isto, mesmo que amanhã tenha alguns milhões de voluntários devidamente obrigados a dar vivas a Eduardo dos Santos, a luta continua e a vitória é certa! Pode demorar, mas vai chegar.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: MPLA ACENA COM FANTASMA DA GUERRA

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