Hoje todos se dizem amigos próximos - políticos, empresários, jornalistas. E isso não é nada saudável
João Adelino Faria – Dinheiro Vivo, opinião
É uma espécie de medalha dos deslumbrados. Em Portugal, quando alguém quer mostrar que é importante porque conhece gente poderosa, diz: "Até o trato por tu!". Ou: "Até tenho o telefone pessoal e almoço com ele." E pronto. Como se esta proximidade e tratamento de igual para igual fosse uma espécie de livre conduto de entrada direta para o poder.
Nos últimos anos foi-se esboroando a separação, por interesse mútuo, entre quem tem poder e quem é contrapoder. Entre políticos, jornalistas, advogados, empresários, juízes e muitos outros cargos institucionais deixou de existir uma espécie de distância saudável. De repente conhecemo-nos todos muito bem, tratamo-nos quase todos por tu, vamos aos mesmos restaurantes, partilhamos amigos e alguns até cama, comida e roupa lavada. Como borboletas em volta da luz, as relações entre quem tem poder, quem fiscaliza, quem tem negócios e quem faz jornalismo tornaram-se demasiado próximas. Nos últimos anos, em Portugal, cresceu uma atração fatal entre política, justiça, forças de segurança, banca, negócios e comunicação social. E como todas as relações fatais... também estas não acabam bem.
Não digo que um bom relacionamento entre todos estes poderes não é saudável - e até desejável. Claro que o é, e recomenda-se. Mas os problemas surgem quando a proximidade começa a colidir com as obrigações e interesses de cada um. Nessa altura, como em qualquer relação de verdadeiros amantes, começam os ajustes de contas. E o resultado final é quase sempre uma separação dolorosa com recriminações mútuas.
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