sexta-feira, 22 de junho de 2012

Cabo Verde: PODER AUTÁRQUICO E GOVERNATIVO CONFUNDE ELEITORES




José Sousa Dias, da Agência Lusa

Cidade da Praia, 21 jun (Lusa) - A poucos dias das eleições autárquicas de 01 de julho em Cabo Verde, os munícipes reconhecem que os problemas locais são, afinal, comuns a todos os concelhos e apresentam queixas mais do foro governativo do que do camarário.

As faltas de emprego, energia, água, saneamento e habitação, bem como a crescente insegurança nos principais centros urbanos, são temas que têm dominado o início da campanha eleitoral, iniciada a 15 deste mês e marcada pelo porta a porta dos candidatos e por comícios de bairro.

Na Cidade da Praia, o maior município do país, albergando mais de um terço dos cerca de meio milhão de habitantes do arquipélago, vários eleitores entrevistados pela agência Lusa apontam algumas deficiências e melhorias na capital de Cabo Verde, mas acabam sempre por resvalar para questões que não dependem do executivo camarário.

Carlos Almeida, um enfermeiro reformado, praiense de 70 anos, assume que os problemas são comuns a todos os municípios e que, apesar de muito ter sido feito nos últimos anos, há ainda outro tanto a fazer nas infraestruturas, energia - queixou-se por passar frequentemente longas horas sem eletricidade - e a insegurança.

Os mesmos problemas são repetidos à Lusa por Luís Lopes, 25 anos, e Silvina Monteiro, 27, ambos estudantes e também naturais da Cidade da Praia. O jovem estudante foi, contudo, mais longe, e queixou-se da falta de espaços lúdicos na capital, onde os jovens possam ter um ponto de encontro para discutir, por exemplo, literatura.

Vera Figueiredo, 36 anos e técnica de comunicação, "praiense de gema", falou, por seu lado, da "falta de civismo" da parte dos jovens, o que tem levado ao "aumento de uma promiscuidade que nunca existiu" em Cabo Verde.

Defendendo a necessidade de se "moralizar" o cidadão para valores culturais e educacionais que, no seu entender, "já pertencem ao passado", Vera Figueiredo salientou que o exemplo era também de vir de cima, dos políticos, cuja "liberdade de ação", para o bem ou para o mal, leva o exemplo aos apoiantes.

Na Cidade da Praia, o ambiente eleitoral é morno e os cartazes são maioritariamente pertencentes ao Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) e ao Movimento para a Democracia (MpD), dando a ideia aos menos atentos que se trata de uma votação para as legislativas.

Só quando se olha para os "outdoors", de maior dimensão, é que se percebe que a votação é para a autarquia praiense, com as caras dos dois principais candidatos: Ulisses Correia e Silva, que concorre a novo mandato pelo MpD, e Fernando Moeda, um conhecido empresário apoiado pelo PAICV.

Imune à "poluição" de cartazes, "outdoors" ou de qualquer sinal visível de campanha, o centro histórico da capital, o Plateau, surge como uma "ilha" dentro de outra, apesar do rufar dos tambores e da claque amarela de Moeda e das meninas que, de patins e vestidas de vermelho, distribuem panfletos de Correia e Silva.

Dos outros dois candidatos - Austelino Moreira (União Cabo-Verdiana Independente e Democrática - UCID) e José Augusto Fernandes (Partido do Trabalho e Solidariedade - PTS) -, nem panfletos, nem cartazes, nem "outdoors".

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