terça-feira, 5 de junho de 2012

CALEM LÁ ESSA BOQUINHA CAROS DOUTORES E SÁBIOS





O antigo diretor para a Europa do FMI, António Borges e atual funcionário mais ou menos misterioso, em simultâneo, do Governo e da Jerónimo Martins, declara que "a diminuição de salários não é uma política, é uma urgência".

Teodora Cardoso, do mais ou menos misterioso Conselho das Finanças Públicas (criado por este mesmo Governo que jurou ir diminuir as gorduras do Estado) acha que não é a reduzir salários que lá vamos.

Há dias Christine Lagarde, diretora do FMI, misturou numa entrevista crianças esfomeadas do Níger, fuga aos impostos na Grécia e condições para apoiar o país.

O economista chefe da OCDE, Pier Carlo Padoan, veio dizer em conferência de imprensa que Portugal "não pode abrandar o ritmo da consolidação orçamental" mesmo que tenha de "adotar novas medidas de austeridade".

Estes quatro economistas são altamente qualificados e nem me atrevo a contestar isso, embora verifique estarmos neste lamaçal graças, em grande parte, ao valioso contributo de inúmeros especialistas da mesma estirpe.

Também vou ignorar os grandes salários livres de impostos de Borges e Lagarde no FMI, os erros frequentes das previsões da OCDE ou a perversidade de muitos destes "craques" terem carreiras feitas no mundo da especulação financeira que arruinou os Estados, ou em organismos reguladores que nada viam, ouviam ou liam.

Esta classe utiliza cada vez mais o seu prestígio pessoal e profissional, merecido ou não, para intervir junto dos media, sugerindo medidas políticas que apresentam, debaixo de uma ilusória autoridade intelectual ou funcional, como indiscutíveis e inevitáveis.

Quando Padoan aconselha mais austeridade em Portugal, Lagarde diz aos gregos como gerir o seu dinheiro ou Teodora Cardoso e António Borges atiram frases sobre o nível salarial dos trabalhadores, estão a ultrapassar o âmbito das suas missões públicas que, não sendo estritamente técnicas, tendo componentes políticas, devem estar subordinadas a um dever de contenção imposto pela simples falta de legitimidade institucional.

António Borges, Teodora Cardoso, Carlo Pardoan, Cristine Lagarde e toda esta gente terão óptimas cabeças, sábias até, mas se querem ser políticos que se candidatem a eleições e a cargos de governo. Se gostavam, apenas, de ser comentadores nos jornais, deviam ter seguido outra carreira ou tratar de sair das funções que exercem...

Falta saber se esta gente, ao menos, fala para quem os contratou - os políticos que foram escolhidos para decidir, em nosso nome, as políticas que nos governam.

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