sexta-feira, 22 de junho de 2012

Frelimo: I Congresso evitou declaração de guerra contra Portugal -- Marcelino dos Santos



PMA - Lusa

Maputo, 21 jun (Lusa) - O I Congresso da Frelimo evitou declarar guerra ao colonialismo português para "não embaraçar" a Tanzânia, bastião do movimento, que receava assumir-se frontalmente como reduto de uma revolta militar, recordou Marcelino dos Santos, fundador da frente independentista.

A Frelimo - Frente de Libertação de Moçambique - assinala 50 anos da sua fundação no próximo dia 25, culminando um vasto programa de comemorações, lançado a 25 de junho de 2011, para marcar o jubileu do partido no poder no país.

Atualmente com 83 anos, Marcelino dos Santos teve um envolvimento ativo na criação da Frelimo, tendo sido elaborados por ele os estatutos que o movimento adotou no congresso da fundação.

Lembrando a importância do I Congresso, realizado na capital tanzaniana, Dar es Salaam, Marcelino dos Santos disse que o encontro, além da eleição do seu primeiro presidente, Eduardo Mondlane, serviu para a organização aprovar os princípios fundamentais da luta contra o colonialismo português.

"Foi o congresso que definiu os princípios fundamentais da Frelimo. A unidade nacional fundada sobre a igualdade de todo o povo do território e a luta pela independência por todos os meios", enfatizou Marcelino dos Santos, durante um simpósio sobre as bodas de ouro da organização.

Contudo, salientou, ao escrever nos estatutos que "a luta devia ser por todos os meios", a Frelimo quis evitar a referência expressa à luta armada, para não alarmar a Tanzânia, país que estava a completar a sua transição política da administração colonial britânica.

"É importante sublinhar que a luta armada não foi invocada nos estatutos da Frelimo, dizíamos que era preciso ter cautelas, para não criar embaraços à Tanzânia", sublinhou Marcelino dos Santos.

O então novo Governo da Tanzânia, chefiado pelo Presidente Julius Nyerere, não queria ser visto como reduto da revolta militar contra os regimes minoritários brancos da África Austral, mas acabou tolerando que a Frelimo optasse, finalmente, pela guerra, a 25 de setembro de 1964, depois de o ditador português Oliveira Salazar ter rejeitado uma solução política para a reivindicação de independência.

Marcelino dos Santos apontou "a cláusula da não exploração do homem pelo homem como outra decisão de fundo" tomada no congresso da fundação, princípio que alicerçou a criação das "lojas do povo" nas zonas que o movimento libertou da administração colonial portuguesa.

"Quando surgiram as primeiras zonas semi-libertadas pela Frelimo, os ´cantineiros` portugueses evaporaram-se e tivemos de criar as lojas do povo", realçou Marcelino dos Santos.

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