António Veríssimo
No primeiro mandato presidencial Cavaco Silva achava que em 10 de Junho em Portugal se comemorava o Dia da Raça, à boa maneira do ditador Salazar. Assim o declarou. Na atualidade ainda não o fez, o que não significa que não continue a pensar e a comemorar o Dia da Raça na intimidade. Até porque ele é um PR conservador (é favor), nunca se engana e raramente tem dúvidas, ou vice-versa.
Hoje, como ontem, publicamente, oficialmente, Cavaco e os das ilhargas comemoram o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades… obrigadas a emigrar por esse mundo para não passarem fome nem mais dificuldades criadas pelas más políticas de Cavacos e quejandos que enxameiam a política portuguesa em conluios, corrupções e outras maroscas que lhes reservam todo o direito de impunidade num país que para eles é de maravilhas, é a terra prometida, à custa de para a maioria ser a terra maldita e a Pátria Madrasta.
Temos então que pela surra Cavaco e os das suas ilhargas comemoram o Dia da Raça… Mas também o dia da Pátria do Cifrão que lhes retempera a ganância. Os portugueses nem isso nem a fome, nem as dificuldades, comemoram. Ou, se comemorarem em consciência só o podem fazer como Dia da Treta. Porque uma Pátria que tem políticos tão malvados, tão mentirosos, tão oportunistas, tão egoístas, tão corruptos, que abdicam de comemorar com toda a pompa e devida circunstância a Implantação da República (05 de Outubro) é uma Pátria da Treta. Porque uma Pátria que abdica de comemorar a Restauração da Independência (libertação do invasor e ocupante do reino espanhol), por iniciativa de políticos que de portugueses demonstram pouco ou nada possuir, é uma Pátria da Treta.
Vimos os donos de Portugal e os lacaios dos donos de Portugal, em festarolas e em cerimónias distantes do povo em troca de mimos ditos ou doados entre si, implantando medalhas de pirilimpimpim. Ouvimos as suas baboseiras acompanhadas da baba da abastança indevida que lhes escorre pelas bocarras com que mentem, manipulam e ludibriam o povo… Vimos e ouvimos tudo isso, se quisermos até à exaustão que os órgãos da sua comunicação veiculam de hora a hora… Eles comemoram o que melhor couber no ludibrio do povinho: dia da raça, do cifrão, do raio que os parta… Podem fazê-lo.
Hoje, 10 de Junho, para a maioria dos portugueses é o Dia da Treta, mais um. Neste dia até entre eles trocam medalhas, baboseiras e babas. Vimos mesmo alguns ainda decentes serem contaminados por aquelas condecorações da treta no dia do mesmo nome, sujeitando-se a vender a alma aos diabos que dominam Portugal e este povo aborregado, manso, que julga que as suas defesas (cornos) são para enfeitar, até ao dia da revelação em que aprenda ou se recorde que os cornos servem para marrar e expulsar indesejados. Assim será, num ano qualquer do Senhor. Talvez daqui por mais 40 anos, como antes de Abril 1974? Há os que lamentam já não poderem participar em vida desse regresso às cornadas, do regresso da liberdade, da democracia, do povo unido que se distrai e é vencido. Não se distraiam mais. Nunca mais.
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