domingo, 15 de julho de 2012

A AMPLA CIDADE



Rui Peralta

Israel

O Ministro israelita do Interior, Eli Yshai, conhecido por ser o porta-voz da campanha xenófoba de expulsão de trabalhadores estrangeiros é, ao mesmo tempo, o membro do governo que assina os vistos de trabalho para a importação de mão-de-obra barata provinda da China e do Sri-Lanka, para a construção civil. O ministro até recomendou aos seus colegas de gabinete que fossem aprovadas correcçöes nos acordos com a China, Moldávia e Sri-Lanka, para facilitar a importação de trabalhadores desses países.

Em Agosto de 2011, sob proposta de Yshai, o governo autorizou a importação de 6800 trabalhadores estrangeiros. Só que o Ministério da Economia, cujo ministro votara contra a proposta do seu colega do interior, conseguiu impor, por um acordo estabelecido com a Bulgária, que o governo desse prioridade aos trabalhadores Búlgaros. Só que as empresas israelitas de construção civil e as agências de contratação de mão-de-obra (quase todas propriedade das empresas de construção) fizeram pressão para que os contractos fossem efectuados com a China, fazendo fracassar o acordo. Isto porque cada trabalhador chinês, para além de vender a sua força de trabalho a um valor muito mais baixo do que um trabalhador búlgaro, paga cerca de 20 mil shekels de “prenda” para chegar a Israel, coisa que não existe na Bulgária. Ao importarem 6 mil trabalhadores da China, as empresas israelitas ganham 120 milhões de shekels, limpos de qualquer carga fiscal, antes mesmo de um trabalhador pegar num martelo.

Existe um consenso entre os economistas israelitas de que estas contractaçöes para a agricultura, construção civil e obras públicas, gera desemprego entre os trabalhadores israelitas e árabes. Só na agricultura foram assinados contractos com 26 mil trabalhadores tailandeses, deixando no desemprego milhares de mulheres árabes, que geralmente ocupavam essa função, fazendo disparar a taxa de desemprego entre a população activa feminina árabe de Israel, para 75%. Por outro lado as empresas pretendem apenas contractar nos países em que podem estabelecer os seus esquemas ilícitos de contractaçäo, gerando mais-valias ilícitas que são depois usadas na corrupção de funcionários israelitas e na constituição de lobys parlamentares e ministeriais.

Enquanto Yshai e seus acólitos adoptam discursos demagógicos e nacionalistas, em conjunto com a extrema-direita israelita, deixando no desemprego milhares de trabalhadores e expulsando milhares de sudaneses e africanos do país, abrem as portas á mão-de-obra escrava proveniente de países em que as facilidades de contractaçäo estão isentas de direitos e onde as máfias da corrupção dominam as saídas para o estrangeiro.

Ausência

Resta uma eternidade para o final da tua ausência. Deambulo pela cidade aguardando por um sinal da tua existência.

Os indígenas

As comunidade aborígenes, constituem 5% da população mundial e mais de 15% dos pobres do mundo. A maior proporção de indígenas encontram-se na China, cerca de 36%, seguindo-se a região da Ásia meridional, com 32%. A ONU estima a população indígena mundial em 350 milhões, todos eles marginalizados, económica, politica e socialmente. Daí ter posto mais enfase nos últimos tempos na temática das populações indígenas, criando através do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) o Foro Permanente para as Questões Indígenas, focado no aumento da participação política das populações indígenas. Este crescente interesse por parte da ONU, tem a ver com os Objectivos de Desenvolvimento para o Milénio, um enunciado da ONU para a redução da pobreza e a fome, educação, igualdade do género e sustentabilidade ambiental.

Na América Latina e no Caribe, em 2010, o número de pessoas que vivem com 1 USD ou menos por dia, duplica nas populações indígenas. A China foi o único país do mundo onde foi verificada a redução da pobreza nas populações indígenas, graças á aplicação de programas adequados. Nos USA 26% da população indígena vive abaixo do limite de pobreza. Em 2000 o Congresso aprovou a constituição de um fundo de mil e seiscentos milhões de USD ao Bureau de Assuntos Indígenas, para gestão de programas de educação, saúde e protecçäo ambiental, mas o fundo nunca chegou a ser constituído, por incumprimento do governo federal. No passado mês de Maio, o Tribunal Supremo ordenou o pagamento imediato desse fundo e a indeminização devido às tribos pelo atraso na constituição do mesmo, após uma luta de mais de 10 anos, travada pelos representantes tribais.

Ausência

Sinto-me um argonauta, navegando por mares adversos, um cosmonauta a percorrer universos, paralelos e omitidos, na tua pele castanha, com beijos incontidos. Vivo na ausência estranha.

O equinócio Primaveril

Uma revolução implica, necessariamente, o início de uma transformação radical (de raiz). É um processo profundo, em que as forças capazes da transformação destroem as velhas estruturas e constroem novas estruturas e no longo prazo implicam novas superestruturas em substituição das velhas superestruturas.

Nos países que passaram pelo processo denominado pelos media de Primaveras Árabes, os governos tombaram ante as revoltas, existiram alterações de pessoal, mas não existiram quaisquer alterações das estruturas. Os governos são os mesmos – com outras caras – os sistemas permaneceram intactos – mudaram apenas os actores – não existiram alterações aos sistemas económicos, nem nas componentes sociais, enfim, foi uma operação mais de “retoques e melhoramentos” do que o inicio de um processo revolucionário.

Na Tunísia, por exemplo, desde a queda de Ben Ali, as visitas de cortesia e os aconselhamentos forma muitos, desde Zapatero a Hillary Clinton, sempre bem recebidos pelos actuais actores, tais como o foram pelos anteriores. Outro exemplo, o Egipto, para onde Cameron não perdeu tempo a conhecer os novos governantes, mesmo que transitórios e estabeleceu pontes de relacionamento em todos os sectores e todos os sectores colocaram-se em bicos de pés para receberem Cameron.

O problema das Primaveras é o problema de separar o trigo do joio. Já vimos que na Tunísia e no Egipto o sistema económico mantem-se inalterável, o sistema politica não sofreu qualquer alteração de fundo, ou seja não existiram processo de democratização mas sim de liberalização. Ficou tudo mais ou menos na mesma, apenas mais liberalizado, por enquanto. Na Líbia, onde se falou muito em revolução e em revolucionários e forças revolucionarias, acabámos por assistir afinal a uma produção de série B da OTAN, em que foram assassinados milhares de cidadãos líbios, terminando o poder nas mãos de gente que, nos países da OTAN, estariam atrás das grades por andarem a vender droga nas ruas, ou a roubarem viaturas e assaltarem residências, para além de agredirem negros, á boa maneira dos skinheads do ocidente. De facto aqui poderemos dizer que existiram alterações profundas, pois em menos de nada a Líbia perdeu qualidade de vida e os cidadãos devem fechar-se a sete chaves, não vão os seus “revolucionários lideres” precisarem de dinheiro ou bens. Aqui houve uma mudança radical…para a barbárie.

Este tipo de mudança está, também, em curso na Síria. É um país que vive uma situação interna complexa e uma mais complexa situação externa. É que o problema das Primaveras tem muito a ver com os aproveitamentos geopolíticos externos, imperialistas, das dinâmicas sociais internas. A Síria, por si, não é um objectivo final, apenas um meio para atingir o objectivo. A soberania popular é que deverá decidir o presente e o futuro da Síria e não os bandos armados do Exército Sírio Livre, ou outras Otanices e Obamices. O governo sírio é legitimo, assim como legitima é a sua negação. O que é ilegítimo, irresponsável e criminoso é o aproveitamento dos interesses externos, alheios á Síria e para os quais esta não passa de um obstáculo – que até não é incontornável, só que fica mais perto e serve de campo de ensaio – onde podem ser colocados uns farsantes locais a fazerem o papel de revolucionários e preparando o país para a…barbárie.

Não estou a pôr em causa a revolta e o descontentamento. Pelo contrário. Penso que o maior amigo dos regimes injustos é o imperialismo, porque atrasa e falsifica os processos e obriga muitas vezes a alianças contra natura.

Por uma questão de respeito para com os sírios, deixemos a luta de classes seguir o seu caminho. A questão síria tem a ver com a Democracia. Todas as transformações revolucionárias que forem efectuadas na Síria representarão maior democratização. O resto ou é apenas liberalização e sai Bashar entra outro, ou a barbárie a que a OTAN sempre recorre quando não pode implementar “livres economias de mercado”.

Quanto às Primaveras elas estão sempre depois do Inverno e antes do Verão e são da mesma classe do Outono.

Ausência

E se o sol fosse de água e a lua de luz? Que voz gritaria a mágoa a que a pele conduz? E qual seria o meu pecado? Uma solitária reclusão num quarto fechado ou uma muda omissão?

India

Em 2009 o governo anunciou a instalação de forças paramilitares nos estados de Chhattisgarh, Orissa, Jharkland e Bengala Oeste. Três anos após um “conflito de baixa intensidade” o governo anuncia que vai colocar no terreno as forças armadas indianas, devido ao “intenso fluxo da guerrilha maoista” e que “a força aérea tem autorização para bombardear as áreas dominadas pela guerrilha”. Um dos maiores exércitos do mundo é assim mobilizado para combater a “ameaça” representada pelos pobres e famintos da India, uma “ameaça” ao “Bom clima para o investimento”.

Campas anónimas e não menos anónimas piras de cremação, espalham-se em Cachemira, Manipur e Nagaland, após cada “visita” do exercito às aldeias, ou após cada “voo de limpeza” sobre as áreas da guerrilha na floresta. Centenas de pessoas são diariamente detidas e interrogadas nas zonas da India Central, por serem suspeitas de “simpatias pelos maoistas” ou “militantes”. As prisões encontram-se cheias de adivasis, que para além de serem adivasis, não cometeram qualquer crime e nem sabem do que são acusados.

Depois surgem casos como o de Soni Sori, uma professora primária de Bastar, presa e torturada pela policia. Introduziram-lhe pedras pela vagina para que confessasse ser um “correio” maoista. Acabou por ser enviada, pelo médico da cadeia, para o Hospital de Calcutá onde lhe removeram as pedras. Levou o caso ao Supremo Tribunal, onde apresentou as pedras que lhe foram retiradas no hospital e o relatório médico. Mas o Supremo acabou por coloca-la de novo na prisão, a aguardar a conclusão do processo, tal como Ankit Garg, o Superintendente da Policia que conduziu o interrogatório a Soni e que foi condecorado por bons serviços nas cerimonias oficiais do dia da Republica.

Se ouvimos falar da reengenharia social e ecológica da India Central é graças á guerrilha. O governo não dá informações. Os memoranduns de entendimento säo secretos. Alguns órgãos de comunicação deixam transpirar, de quando em vez, noticias sobre o que se passa na região, mas é bom não esquecer que, para além da censura prévia militar a que são sujeitos os artigos escritos sobre o tema, grande parte dos media são propriedade de corporações com fortes interesses na cintura mineira como a RIL, que é proprietária de 27 canais de TV. Mas também existe o fenómeno contrário. O Dainik Bhaskar, por exemplo, um dos maiores jornais da região, com mais de 17 milhões de leitores, publicado em 4 línguas e vendido em 13 estados, é proprietário de 69 empresas nos sectores mineiros, electricidade, imobiliário e têxtil, tendo todas as suas empresas negócios e explorações na região da India Central.

E para terminar vou recorrer a Shakespeare: “Meu senhor, isto ainda não é a peça, é tão só um entremez.”

Fontes
Ethan Freedman; La mayoría de los indígenas está en la pobreza; http://www.rebelion.org
Asaf Adiv; Eli Yishai’s hidden agenda. Sudanese out Chinese in; http://www.haaretz.com
Arundhati Roy; Capitalism: A Ghost Story; http://www.zcommunications.org

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