domingo, 29 de julho de 2012

António Costa assume “algumas qualidades” para ser secretário-geral do PS



Público - Lusa

Concentrado na vida autárquica, António Costa admite que houve alturas em que quis ser secretário-geral do PS e que tem mesmo “algumas qualidades” úteis para a função, mas lembra que este não é o momento para colocar a questão.

Cinco anos depois de ter tomado posse como presidente da Câmara de Lisboa, a 1 de Agosto de 2007, o ex-ministro da Administração Interna diz, em entrevista à agência Lusa, que governar um município “tem de implicar um grande gosto” e disponibilidade permanente, envolvendo um grau de exigência “muito superior a ser membro do Governo”.

Há alguns anos não se imaginava à frente da autarquia da capital, mas, de qualquer forma, entende que não se escolhe o que se quer fazer na política: “Já vi gente tão infeliz com imensos sonhos de vida que não realizaram e o que tenho visto é que a vida política é menos aquilo que nós queremos que seja, mas aquilo que em cada momento uma pessoa pode ser em função da utilidade que tem”.

Sobre a possibilidade de ser secretário-geral socialista, como defenderam já várias figuras do partido, António Costa considera que “nunca se verificaram as circunstâncias” para assumir o cargo. “Houve alturas em que eu queria e não podia ser, houve alturas em que eu queria e havia pessoas mais bem colocadas, houve alturas em que não queria. Essas perguntas não se fazem em abstracto, fazem-se no momento certo, quando as oportunidades existem. Neste momento é um problema que não se coloca, o PS tem um líder. Se um dia estiver em discussão, poder-me-á fazer a pergunta e logo verei que resposta estarei em condições de dar”, afirma.

Por isso, e apesar de assumir que poderá voltar a candidatar-se nas autárquicas de 2013, a hipótese não está excluída. “Se me perguntar se eu posso ser guarda-redes do Benfica, digo-lhe claramente não posso ser guarda-redes. Ser secretário-geral do PS é diferente. Acho que tenho algumas qualidades que poderia mobilizar a favor dessa função. É uma pergunta que se pode fazer em abstracto, não se pode é responder em abstracto”, sustenta.

Governo “não aproveita oportunidades”

O presidente da Câmara de Lisboa criticou também o Governo por alguns “cortes cegos” e por não aproveitar todas as oportunidades para relançar a economia, nomeadamente por ainda não ter começado a trabalhar numa candidatura ao próximo quadro comunitário.

António Costa lamentou que ainda “não se saiba nada sobre o que é que o Governo anda a fazer ou se anda a fazer alguma coisa” quanto ao quadro comunitário de 2014-2020, que envolve uma “atenção nova para as cidades” na área da reabilitação urbana. No seu entender, um dos erros deste executivo foi não ter criado, no âmbito da reprogramação do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN), uma “linha fortíssima” a este nível.

“Portugal terá vivido excessivamente dependente do sector da construção, mas não é de um dia para o outro que se pode prescindir de um sector que foi fundamental ao longo de 40 anos na economia do país. A reabilitação urbana tem não só essa função de criar emprego, de mobilizar materiais de produção nacional (madeiras, tijolo, cimento, vidro), como constitui uma mais-valia para o turismo, para a qualidade de vida das cidades e, portanto, tem impacto económico muitíssimo importante”, defendeu.

Para o presidente da câmara da capital, onde se estima que sejam necessários cerca de oito mil milhões de euros para reabilitação urbana, é nesta área que “o Governo deveria estar a trabalhar, de modo a preparar um grande programa” que beneficiasse de fundos comunitários.

António Costa criticou o Governo por estar “concentrado sobretudo no aumento dos impostos e no corte cego de algumas despesas, daí não ter resultado nenhuma consolidação das finanças públicas, como se vê pelos números de execução orçamental”. Por isso, na sua opinião, o Governo tem de compreender que para ultrapassar a actual conjuntura há que conseguir simultaneamente rigor na gestão e relançamento da economia.

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