segunda-feira, 9 de julho de 2012

ARRELVAS-TE E SERÁS MINISTRO PÁ




José Alberto Quaresma – Expresso, opinião, em Blogues

Arrelvas-te e serás ministro, pá. Topas? Sim, arrelvar-se é tornar-se verdejante. Que jovem o não deseja?

Como é que se faz? Simples. Assim que te aparece o buço preenches a cartolina da Jota. Desempatas o 12º ano num curso profissional qualquer, jardineiro, por exemplo. Nem precisas de pegar na enxada ou de marrar. Depressa chegarás a secretário-geral da Jota.

Depois matriculas-te numa universidade. De preferência numa que seja livre, autónoma, independente, lusófona. Nesta, claro, não te vais armar aos cágados a falar estrangeiro.

Na livre tens mais liberdade. Inscreves-te em direito porque ali ninguém te entorta. Tentas concluir uma disciplina somente, tipo ciência política e direito constitucional. Não sabes o que é? Não interessa. Não precisas de mais. O pior pode ser a prova oral. Mas não terás de engolir em seco porque a nota está garantida. Só precisas de lábia. Dez é seguro. Poderás ainda frequentar umas aulitas de história para teres uma noção do teu passado brilhante.

Depois descansas uns anos. Vais andar por aí. Assentas o rabinho numa das cadeiras daquela casinha na rua de São Caetano. Reúnes muito. Ninguém te mandará pró Caetano. Pelo contrário. Chegarás a secretário-geral. Não tardará a seres convidado para um cargo no governo. Não precisas de levar a enxada porque não é cargo de trabalhos agrícolas. Vais ganhando curridículo, perdão, currículo, e experiência.

Terás de ter paciência, aprender a dizer "yes mano". E esperar duas dezenas de anos. Ou menos. Depois, com as vastas habilitações adquiridas, frequentarás uma coisa lusófona onde possas falar a tua lusíada língua e ser devidamente compreendido, pelo menos, pelo Camões.

Um curso de ciência política e relações internacionais é bom e acessível. É ciência porque aumenta, qual big bang, o teu universo. Num ano consegues fazer três. Dão-te créditos porque acreditam em ti. E serás doutor. A parte das relações internacionais é só para poderes falar sem sotaque, em português, com parlamentares. E com sindicatos, organizações empresariais, comunicação social.

À última não darás confiança. Ameaçarás apenas com sorriso mavioso e voz de falsete. Os gajos dos media não são de fiar. Dão com a língua nos dentes. Têm o vício de noticiar. E pior. Descobrem coisas impossíveis. Até vasculham as secretarias, de universidades privadas extintas, em busca de cadeiras e pragas de bicho-carpinteiro. São peçonhentos. Cuidado.

Adquirirás, fruto do teu esforço e mérito, competências acima de qualquer mortal. Poderás ser deputado, presidente de qualquer assembleia municipal ou região de turismo. De turismo saberás tu sobretudo se viajaste, em novo, de Angola para a parvónia.

Terás perfil para secretário da administração local. Local é óptimo porque fica perto. O caminho para ministro adjunto e dos assuntos parlamentares é mais longo mas está à mão. Ainda que o teu primeiro tenho um percurso académico tardio, bem apadrinhado, e altamente prestigiado. E, de resto, serás sempre um acólito anónimo e dedicado.

Para chegares onde queres basta que as urnas recebam muitos papelinhos de gente descontente, como contra o outro que nem respeitava o dia do senhor, o Domingo, para fazer cadeiras. Era independente.

Depois é só aguentar os desmandos da populaça, armada em famélica, e rezar para não vires a ser demitido. Caso venha a acontecer terás, à tua espera, reforma dourada. Poderás valer ouro. És refulgente.

De uma coisa terás a certeza - o teu ministro da educação e ciência, se for o actual, terá imenso orgulho em ti e no teu percurso académico.

Porfia mano. Quem porfia mata caça. Não precisaste de andar a gastar os olhos em calhamaços arcaicos ou a fazer copy & paste da internet em trabalhos académicos. Serás um eleito.

Nunca correrás o risco de ser corrido à traulitada. A padeira de Aljubarrota está inerte. O povo é manso. O teu primeiro considerará sempre as tuas habilitações um "não assunto". Quererás melhor?

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