quinta-feira, 26 de julho de 2012

Brasil: O CHOQUE DA MORATÓRIA NO CREBE




Direto da Redação – Estado do Emigrante

Jornalista tem de saber ler nas entrelinhas e de anunciar as coisas assim que acontecem. Esse é mínimo. Na época da ditadura militar, todos os bons jornalistas se tornaram mestres na leitura dos versos de Camões no Estadão e nas notícias que conseguiam varar a censura.

Chico Buarque também ludibriava os censores com suas composições disfarçadas em dores de amantes abandonados que nós todos entendíamos imediatamente. Por isso, hoje em dia é jogo de criança decifrar o fraseado minimalista de um diplomata acostumado a falar itamaratyquês, coisa que nem chove nem molha, que maldosos podem qualificar de linguagem de vaselina.

Mas um jornalista dos anos 60, da escola dos Wainer e Abramo, não sabe fazer recheio e nem se preocupa em agradar ou badalar as "otoridades". Por isso, tão logo ouvi o diplomata do Itamaraty, secretário Aminthas Silva naquela linguagem do vai-não-vai mas deixando tudo no ar, percebi que o pior já tinha acontecido – o decreto de morte do CRBE estava assinado, agora era só esperar a execução, sem alarde, sem público, porque não haverá nem assembléia geral e nem reunião secreta.

Nove dias antes, a ministra-conselheira Luiza Lopes em reunião com o presidente Carlos Shinoda e o secretário José Paulo Ribeiro tinha conseguido manter o suspense. Haveria um período de "vacância", como contou Zé Paulo, no encontro Skype com meia-dúzia de gatos pingados do CRBE, entre a elaboração de um novo regimento e um novo sistema de votação, mas a ilusão perdurava. Ao pronunciar as palavras « o senhor está nos anunciando a moratória do CRBE! » estourei a bolha de sabão.

Exit CRBE e como acabo de ler num email, vindo da Califórnia, falamos em moratória ou pós-CRBE ? Mas ao quebrar o brinquedo das crianças do CRBE com minha última coluna, na qual mostrava o rei nu e dizia as coisas como são, longe estaria de imaginar que seria alvo de uma insidiosa campanha vinda do Japão, onde arranjei mais inimigos (a técnica de fazer amigos do Dale Carnegie nunca foi minha preocupação) ao denunciar o lobby das escolas privadas brasileiras, responsáveis por um gueto de analfabetos na lingua japonesa.

Entretanto, se me reporto a documentos, existe um Decreto e uma Portaria fixando certas regras de existência e de funcionamento do CRBE. Reuniões obrigatórias e assembléia-geral ou Conferência Brasileiros no Mundo. Mas o Itamaraty ou MRE, o governo dentro do governo, é quem dita a lei para os emigrantes. E assim, o ex-presidente Lula assinou num papel sem valor, não num Decreto, e a presidenta Dilma, na qual votei, nem vai saber do que se passa na política da emigração, porque como disse, em outras palavras, o ex-dirigente da Subsecretaria Geral dos Brasileiros no Exterior, SGEB, "vocês são uns tolos com seus emails, será que não perceberam que todos voltam para cá, pois somos nós que fixamos a política da emigração ?".

Nem todos são tolos. Há os que estão no CRBE para mamar e outros para ter prestígio. Não uso cartão de visita e se usasse só colocaria – jornalista. É o que sou. Mas existem os que colocam o brasão da República e se anunciam como funcionários do Itamaraty. E isso funciona. E adianta alertar e se irritar diante do abuso de pessoas que utilizam o CRBE ? Acabo de receber uma resposta do Itamaraty, que se pode resumir mais ou menos assim - "cada membro faz o que quer, se for amigo de golpistas isso não é da sua conta".

Por que as coisas são assim nesse Conselho de Emigrantes? Porque o CRBE foi criado para servir de vitrina, de mostruário. Uma prova ? O presidente e o secretário do CRBE foram dia 5 a Brasília se encontrar com a SGEB, onde tomaram um sabão diplomático, mas quem pagou a viagem deles foram eles mesmos !! Ou seja, o MRE criou um órgão que lhes fornece informações e serve de contato com os emigrantes mas não põe um tostão nisso. Isso é mais que absurdo – é irreal ! E porque continua sendo assim ? Porque os mais abonados, que desfrutam do prestígio do CRBE, acham normal essas despesas. Se não fosse uma fição, o CRBE seria um órgão da elite emigrante.

E se você não concorda com isso, por que não se demite do CRBE? me perguntam alguns colegas de olho numa eleição para deputado emigrante ou num cargo de consul-honorário. Porque achávamos que o CRBE poderia ser uma etapa para um órgão institucional emigrante e porque alguns têm de ficar dentro do CRBE para tentar acordar o governo, sensibilizar a grande imprensa, mobilizar os emigrantes e os políticos.

Tive a curiosidade de ir ao site

www.estadodoemigrante.org onde estão meus primeiros textos sobre o CRBE e fiquei surpreso – já em 2008, no retorno da I Conferência Brasileiros no Mundo eu falava em teatro, coisa para inglês ver e mesmo comparava os membros do CRBE com marionetes ou vaquinhas de presépio e, logo depois, quase fui expulso por meus democráticos colegas.

Exit CRBE – é hora do governo da presidente Dilma levar a sério os emigrantes e lhes oferecer alguma coisa mais correta e sem a tutela do Itamaraty. Os emigrantes não são imbecis nem incapazes, sempre digo, existem doutores formados em Harvard, na Sorbonne, nas melhores universidades americanas, asiáticas e européias. Vamos, por favor, acabar com essa farsa que é a atual política brasileira da emigração.

Que solução proponho ? Que o governo reúna representantes dos diversos ministérios (não só do MRE), do Conselho Nacional de Emigração, alguns deputados e senadores, e de líderes emigrantes e se constitua (como pediram os emigrantes na I Conferência Brasileiros no Mundo) uma Comissão de Transição para se criar uma verdadeira e correta política brasileira de emigração, calcada inclusive na experiência de países de emigração.

Rui Martins

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