segunda-feira, 23 de julho de 2012

Cabo Verde/Eleições: Boa Entrada e Cruz Grande saíram por um dia do anonimato




José Sousa Dias, da agência Lusa

Assomada, Cabo Verde, 23 jul (Lusa) - Os "estados-maiores" dos dois principais partidos de Cabo Verde "reuniram-se" no domingo em duas pequenas localidades para repetirem as autárquicas, tendo-se "fiscalizado" mutuamente, com aparente descontração a disfarçar o nervosismo.

No domingo, as "desconhecidas" Boa Entrada e Cruz Grande, nos arredores da Assomada, sede do concelho de Santa Catarina, no interior da ilha de Santiago, foram pequenas para acolher o vaivém constante de viaturas, gerando inéditos engarrafamentos, quer de viaturas, quer de apoiantes dos dois candidatos.

Longe de respeitarem as regras da Lei Eleitoral, as cúpulas dirigentes do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) e do Movimento para a Democracia (MpD) e os respetivos candidatos à autarquia de Santa Catarina acompanharam literalmente de perto uma votação, cujos resultados oficiais estão ainda por divulgar.

Em Boa Entrada, localidade com 341 eleitores inscritos, situada numa encosta íngreme e "colada" à Assomada, a estrada sinuosa foi pequena para o vai e vem de viaturas, em que a mesa de voto estava instalada numa antiga escola que, à porta, ainda ostenta símbolos do antigo regime monopartidário do PAIGC.

O panorama não mudou em Cruz Grande, em que a escola local, em plena estrada que liga a Assomada ao Tarrafal, ostenta também a "estrela negra", símbolo de um passado monopartidário e que em nada terá influenciado os eleitores, uma vez que, confirmaram à agência Lusa vários deles, sempre lá se votou e a opção de voto foi "reforçada" ao longo da última semana.

Das cerca de duas dezenas de eleitores contactados pela Lusa após terem votado, nenhum deles assumiu à Lusa ter mudado de ideias em relação ao candidato a votar.

Alguns admitiram ter sido "pressionados" para votar, assumindo não o terem feito a 01 deste mês - as listas dos cadernos eleitorais dessa votação foram divulgadas na imprensa antes de domingo e sabia-se quem tinha e não tinha votado.

Dados oficiosos recolhidos pela Lusa nas duas mesas de voto indicaram que a taxa de abstenção desceu significativamente em Boa Entrada - passou de 14 para 5,98 por cento -, descendo também em Cruz Grande também de 20 para 17,06 por cento.

Se ninguém falou dos "contactos" feitos previamente pelos dirigentes, militantes e apoiantes das duas candidaturas, vários eleitores das duas localidades admitiram que receberam "visitas" dos candidatos (Francisco Tavares, do MpD, e José Maria Veiga, do MpD) antes do dia da votação.

Durante todo o período em que decorreu a votação, os dois "estados-maiores" do PAICV e do MpD "reuniam-se" quer no pequeno café de Cruz Grande, a menos de 20 metros da mesa de voto, ou em plena rua, "vigiando" os eleitores e, ao mesmo tempo, vigiados pelas forças policiais, que tentavam manter um perímetro de segurança em redor das assembleias.

As mesas do único café em Cruz Grande eram ocupadas, ora pela "cúpula" do PAICV, ora pela do MpD, juntando-se ambas com frequência e no meio de grandes gargalhadas, à espera das imagens das televisões e da fotografia dos jornalistas, ajudando, paralelamente, a serenar uns ânimos que, durante a votação, ainda aqueceram alguns apoiantes, mas sem consequências.

O dia estava longo, mas seria ainda maior, uma vez que, após o encerramento das urnas, a contagem dos votos demorou até cerca das 00:30 locais de hoje (02:30 em Lisboa), com o café de Cruz Grande já com vários telemóveis a carregar.

Às 23:00 locais, chegavam os resultados oficiosos de Boa Entrada, dando vantagem de um voto ao candidato do MpD, enquanto em Cruz Entrada, a falta de luz natural obrigou ao atraso no início da contagem dos votos.

E seis horas e meia depois do encerramento das urnas, ainda sem resultados oficiais, Francisco Tavares reivindicou a vitória no município santa-catarinense, contrastando com o silêncio de José Maria Veiga, que adiou para hoje um comentário à votação.

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