Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*
Os assaltos a bancos e instituições de crédito em Portugal aumentaram 63,6% nos primeiros quatro meses deste ano. Sempre ouvi dizer que ladrão que rouba ladrão tem 100 anos de perdão.
Diferente é o caso dos roubos a residências que, no mesmo período, cresceram 40,9%, segundo dados oficiais divulgados hoje pelo Gabinete Coordenador de Segurança (GCS).
E porque no roubar (legal ou ilegal) é que está o ganho, os assaltos a ourivesarias também subiram 42,6%, enquanto a falsificação e passagem de moeda falsa cresceu quase para o dobro (92,6%), em relação ao mesmo período de 2011.
Porque dá mais trabalho, presumo eu, houve um decréscimo do número de crimes nos furtos em edifícios não habitacionais por arrombamento, escalamento ou chaves falsas (-29,6%), roubos a farmácias (-26,2%), furto de veículos motorizados (-21,8%), roubos na via pública sem ser por esticão (-15,6%), furtos em residências por arrombamento, escalamento ou chaves falsas (-7,9%) e roubo por esticão (-7,7%).
Entre as conclusões divulgadas consta que a criminalidade geral subiu 0,4%, quando comparada com os primeiros quatro meses do ano passado, enquanto a criminalidade violenta e grave caiu 7,7%. Quanto à localização, houve aumentos de criminalidade nos distritos de Bragança (16,6%), Vila Real (11,6%), Santarém (4,9%), Coimbra (4,4%), Lisboa (1,3%) e na região dos Açores (7%). Em contrapartida, ocorreram descidas em Braga (-9,9%), Viseu (-9,3%), Faro (-5%), Leiria (-2,1%) e Porto (-2%).
E enquanto “no céu cinzento, sob o astro mudo, batendo as asas, pela noite calada, vêm em bandos, com pés de veludo, chupar o sangue fresco da manada”, os portugueses lá vão aguentando as políticas do Governo que, em síntese, também se podem chamar de roubo. Não, não foi um lapso. É mesmo ladroagem. Todos os dias o Governo põe os portugueses de pernas para o ar, sacudindo-os na ânsia insana de lhes roubar todos os cêntimos.
Mas, não terão os portugueses, pelas mesmas razões (desde logo porque não foram eles que criaram os pântanos, os buracos colossais), legitimidade para sair às ruas e pelos meios possíveis correr com um governo que os está a espoliar?
Será que não estão criadas as condições para que os portugueses, espoliados e ultrajados, avancem com um processo judicial contra este e os anteriores governos por negligência grave durante os respectivos mandatos?
Em Setembro de 2010, o parlamento islandês decidiu processar por "negligência" o antigo chefe do Governo, Geeir Haarde, que liderava o país na altura em que o sistema financeiro islandês entrou em (co)lapso, em Outubro de 2008.
A caminho de ultrapassar um milhão e duzentos mil desempregados, com 20% dos cidadãos a viver na miséria e às escuras e outros tantos que começam a ter saudades de uma... refeição, Portugal poderia adoptar já igual procedimento em relação a Pedro Passos Coelho e todos os seus super-ministros, (quase) todos eles sublimes exemplos da impunidade reinante.
Pedro Passos Coelho, a não ser que pague direitos de autor, não poderá dizer que “está para nascer um primeiro-ministro que faça melhor do que eu". Mas pode, com certeza, adoptar uma que diga: “Está para nascer um primeiro-ministro que tão rapidamente tenha posto os portugueses a viver sem comer”.
Como matéria de facto para um eventual processo judicial contra o actual primeiro-ministro acrescente-se que, quando todos julgavam (também foi o meu caso, reconheço) que José Sócrates tinha levado o país a bater no fundo, aparece Pedro Passos Coelho e a sua super-equipa a provar que, afinal, ainda é possível afundar um pouco mais.
Bem dizia Guerra Junqueiro que os portugueses são “um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas”.
Passos Coelho sabe, como sabe a maioria dos políticos lusos, que os portugueses são – citando Guerra Junqueiro – “um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta”.
Cavaco Silva sabe, como sabe a maioria dos políticos lusos, que em Portugal existe – citando Guerra Junqueiro – “uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos”.
Vítor Gaspar sabe, como sabe a maioria dos políticos lusos, que em Portugal existe – citando Guerra Junqueiro – “um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País”.
Entretanto, alguns portugueses (não tantos quanto o necessário) sabem que – citando Guerra Junqueiro – Portugal tem “partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar”.
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
Título anterior do autor, compilado em Página Global: POVO MATUMBO, SIPAIO CALCINHA
- Com participação no título PG: AGÊNCIA LUSA, A VOZ DE QUE DONOS? (1)
Sem comentários:
Enviar um comentário