Sonho de Chivukuvuku em chegar à Presidência esteve sempre presente
23 de Agosto de 2012, 09:29
Luanda, 23 ago (Lusa) - Num encontro em 2010 que manteve com Dan Mozena, então embaixador dos Estados Unidos em Luanda, Abel Chivukuvuku revelou ao diplomata a ambição que ainda alimenta: "Vou ser o futuro Presidente de Angola."
A revelação foi divulgada pelo sítio da Internet Wikileaks e, na ocasião, Chivukuvuku, que no passado chegou a ser apontado como delfim de Jonas Savimbi, fundador da UNITA, tentava reunir apoios para disputar com Isaías Samakuva a liderança do partido.
A estratégia fracassou e desde então para cá, Abel Epalanga Chivukuvuku, que completa 55 anos no próximo dia 11 de novembro, data da independência de Angola, tratou de construir um projeto político alternativo.
Esse projeto chama-se Convergência Ampla de Salvação de Angola (CASA-CE), uma coligação eleitoral que é o instrumento para Chivukuvuku cumprir o sonho de chegar à Cidade Alta, sede da Presidência da República.
A resiliência que deu provas em 1992, quando foi ferido na sequência dos acontecimentos que se seguiram à recusa da UNITA em aceitar os resultados eleitorais das então primeiras eleições multipartidárias, contribuiu para manter intacto o prestígio dentro do partido do "Galo Negro".
Detido pelas autoridades de Luanda até 1996, Abel Chivukuvuku foi escolhido em 1997, por unanimidade, para liderar a bancada parlamentar da UNITA.
Nascido em Luvemba, na província do Huambo, Abel Chivukuvuku aprendeu as primeiras letras na missão de Dondi, e prosseguiu os estudos na escola da Bela Vista, localidades daquela província do Planalto Central angolano.
Aderiu à UNITA em 1974 e dois anos depois ingressou nas Forças Armadas de Libertação de Angola, braço armado da UNITA, onde chegou à patente de brigadeiro.
O prestígio que foi consolidando levou o fundador da UNITA a nomeá-lo representante daquele movimento guerrilheiro em Portugal e no Reino Unido.
A sua conhecida capacidade de organização vai ser agora posta à prova nas eleições gerais do próximo dia 31, escassos cerca de quatro meses depois de ter apresentado publicamente a CASA-CE.
Neste período percorreu quase todo o país, contactando eleitores e lançando as bases da coligação, que se apresenta como "terceira via" perante os crónicos atores principais da vida política angolana: a "sua" UNITA, agora adversário na corrida para protagonizar a alternância contra o partido no poder desde a independência, MPLA.
Corredor de fundo, que tem sabido esperar a chegada da sua hora, Chivukuvuku acredita que se a CASA-CE alcançar um bom resultado eleitoral, isso coloca-a na "pole position" para a corrida presidencial de 2017.
O tempo corre a seu favor. Resta saber se os eleitores angolanos lhe dão já a 31 deste mês o primeiro sinal de que o ajudarão a cumprir o sonho de se sentar na Cidade Alta.
EL.
"Não teremos seguramente eleições livres" -- Abel Chivukuvuku
23 de Agosto de 2012, 09:29
Luanda, 23 ago (Lusa) - As eleições gerais do próximo dia 31 em Angola "não serão seguramente livres, justas e transparentes", disse em entrevista à Lusa Abel Chivukuvuku, que lidera uma coligação em que cabem dissidentes dos dois maiores partidos angolanos.
"O objetivo é tentar fazer com que tenhamos eleições livres. Mas, objetivamente, não as teremos assim", reafirmou aquele dirigente, dissidente da UNITA e que chegou a ser apontado como delfim de Jonas Savimbi, fundado do partido do "Galo Negro".
Apesar da desconfiança da coligação que lidera, a Convergência Ampla de Salvação de Angola (CASA-CE), à forma como a Comissão Nacional Eleitoral (CNE) está a organizar o escrutínio, Abel Chivukuvuku deixou uma certeza: "A única certeza é que vamos a votos."
Identificado como a "terceira via" entre o MPLA, partido que governa Angola desde a independência, em 1975, e a UNITA, contra a qual disputou uma guerra civil de quase três décadas, a CASA-CE acolheu figuras de relevo daquelas duas formações.
"A CASA-CE é mais do que uma coligação. Junta dirigentes de relevo de vários partidos e muitos independentes. Angola, do ponto de vista político, já não será como antes do surgimento da CASA-CE, em que havia quase certezas absolutas sobre os processos políticos", acentuou.
Entalada entre os personagens principais desde que Angola ascendeu à independência, a CASA-CE considera que este já não é o tempo de "eleitorados cativos".
"Tudo é disputa. E é por isso que esta eleição é interessante e que seja levada, apesar do desafio que nós representamos, com lisura, com civismo, com urbanismo, mas sobretudo com alegria e festa", afirmou.
Porque o mais importante é que as eleições em Angola passem a representar uma diferença relativamente ao passado.
"As eleições não devem ser uma questão de vida e morte, mas simplesmente exercício de opções temporárias, porque é só um mandato de cinco anos do rumo que o país deve ter", defendeu.
O modelo que defende passa pela apresentação de uma imagem diversa da que os agentes políticos têm atualmente.
"Queremos evoluir para modelos de governação mais transparentes, mais sérios, em que o serviço público não seja servir os dirigentes, como tem sido até aqui", sublinhou.
"Quando se tem maiorias esmagadoras, os regimes tornam-se autistas, arrogantes e insensíveis. Quando há equilíbrios, os regimes são obrigados a serem responsáveis, a responderem pelas necessidades básicas do cidadão para ver se podem continuar na legislatura seguinte", acrescentou.
Nas "linhas mestras de governação", como chamou ao documento síntese das propostas para um futuro governo da coligação, Abel Chivukuvuku quer que a CASA-CE empunhe a bandeira da luta contra a corrupção.
"Está hoje provado que a maioria dos cidadãos tem expectativa e esperança de uma mudança e precisa de garantia de que esta mudança seja positiva, responsável e ordeira. Queremos que a CASA-CE seja fator relevante definidor da política nacional. E podemos sê-lo como governo ou como elemento mais importante da oposição", destacou.
O adversário principal é o MPLA, que Chivukuvuku acusa de protagonizar um sistema baseado no nepotismo e tráfico de influências.
"Temos é que estruturar um alicerce para a construção de uma sociedade séria e isso pressupõe reformular o conceito de serviço público. Temos de reformular o conceito de postura individual, honestidade. O que nós temos hoje é esperteza", sentencia.
Sobre José Eduardo dos Santos, Presidente da República há mais de 32 anos, Abel Chivukuvuku diz que "não tem convicções absolutamente nenhumas"
"Apenas se preocupa com o exercício do poder político. É inaceitável que alguém que há 15 anos mandava para a cadeia quem fosse encontrado com uma nota de 50 dólares no bolso, de repente, em menos de 10 anos, tornou-se multibilionário. Alguém que defendia completamente a economia de planificação central, de repente foi para aquilo que eu chamo de capitalismo selvagem nepótico, dominado pela família, pelos filhos e por todos esses interesses", denunciou.
EL.
*O título nos Compactos de Notícias são de autoria PG
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