Ex-militares desistiram de sair à rua
RTP - Lusa
A anunciada manifestação não autorizada dos ex-militares para hoje em Luanda foi cancelada, e a razão invocada pelos organizadores foi para que não houvesse "acusações de ligação à da UNITA".
Segundo o coordenador da Comissão de Ex-Militares Angolanos (COEMA), general na reforma Silva Mateus, a decisão visou "não dar motivos ao regime para relacionar a luta dos ex-militares com as reivindicações da UNITA".
A COEMA pretendia com o protesto de hoje chamar a atenção para os atrasos, nalguns casos de 20 anos, do pagamento de pensões, subsídios e vencimentos.
A concentração dos ex-militares estava marcada para o cemitério de Santana, defronte do edifício do Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional, o mesmo local escolhido pela UNITA para a manifestação que decorreu hoje em Luanda.
Os ex-militares protagonizaram já duas manifestações na capital, a 7 e 20 de junho, tendo nessas duas ocasiões surpreendido as autoridades, ao aproximarem-se da Cidade Alta, onde estão sedeados vários ministérios e a Presidência da república,
Desta vez, foi montado um dispositivo junto ao cemitério de Santana, com unidades de polícia a cavalo e, no Largo da Maianga, no início da rua que conduz à Cidade Alta.
Registe-se ainda o facto de ao longo do dia, a agência Angop ter apresentado várias notícias sobre o pagamento em curso a antigos combatentes.
Líder do MPLA reconhece necessidade de "política mais justa" para antigos combatentes
RTP - Lusa
Angola precisa de uma política "mais realista e justa" de apoio aos antigos combatentes, defendeu hoje em Menongue, sudeste do país, o líder do MPLA, durante um comício integrado na campanha eleitoral para as eleições gerais do próximo dia 31.
"É um reconhecimento merecido, necessário, mas não suficiente aos antigos combatentes", disse José Eduardo dos Santos.
"Sem o seu contributo à causa da Pátria, hoje nós não estaríamos aqui. A situação atual mostra que o país precisa de uma política mais realista e justa de apoio aos verdadeiros antigos combatentes e é isso que nos propomos fazer", acrescentou.
Nesta deslocação às chamadas "terras do fim do mundo", como eram designadas no período colonial e que José Eduardo dos Santos disse querer transformar em "terras de progresso e de esperança no futuro", o líder do MPLA e Presidente da República chamou a atenção para a obra feita pelo seu Governo.
"O prometido é devido, como se diz. Disse há alguns meses atrás que viríamos inaugurar a estação central do Caminho-de-Ferro de Moçâmedes e aqui estamos. Viemos de Luanda com uma delegação importante para participar na festa do povo alusiva a esta grande vitória", afirmou.
Além da recuperação da linha ferroviária, José Eduardo dos Santos citou como exemplos do programa de investimentos públicos em infraestruturas a inauguração, na sexta-feira, de um terminal de derivados de petróleo e gás, que servirá toda a região, incluindo a Zâmbia e a Namíbia.
"Estas duas obras mostram que o país está a avançar também nesta província", defendeu.
As novas estradas e aeroportos foram outros exemplos citados por José Eduardo dos Santos, que anunciou para o próximo mandato o aumento da oferta de energia elétrica e água.
"São intensas as relações comerciais entre Angola e a Namíbia e entre Angola e a Zâmbia, através da fronteira comum e nessa atividade está envolvido um significativo número de agentes económicos que prestam importantes serviços para as nossas comunidades", acrescentou.
José Eduardo dos Santos referiu-se depois ao facto da província de Cuando-Cubango ter sido palco da "agressão estrangeira e da guerra imposta pelos seus aliados internos", e destacou as minas como "uma das consequências mais graves".
"Graças à liberdade e à paz conquistadas, hoje já podemos participar em pé de igualdade, com os nossos vizinhos da Zâmbia, Zimbabwe, Botswana e Namíbia num grandioso projeto, o KAZA ou Okavango-Zambeze, que vai transformar esta região austral de África na maior área transfronteiriça de conservação do mundo", sublinhou.
A importância daquele projeto foi evidenciada com a possibilidade da região vir a tornar-se "um dos maiores destinos turísticos do mundo", afirmou.
Fantasmas, um muçulmano gangster e alguns políticos em protesto da UNITA
RTP - Lusa
A manifestação convocada hoje pela UNITA em Luanda reuniu várias formas de descontentamento na sociedade angolana contra a Comissão Nacional Eleitoral (CNE), num protesto que começou num cemitério, teve dois fantasmas e terminou com alertas à caça ao homem.
A ação do maior partido de oposição angolano teve início a meio da manhã com centenas de `motards` junto ao cemitério de Santana, na saída norte de Luanda, em frente do Comando Provincial da Polícia Nacional, que pouco teve de se mostrar.
As cores vermelha e verde do partido do Galo Negro dominaram a larga avenida que liga Luanda e Viana, num cortejo pacífico no mesmo dia e local para onde estava prevista uma manifestação não autorizada dos ex-militares, que não apareceram.
"Os cadernos eleitorais estão demorados, das atas [síntese das secções do voto] não sabemos. Os delegados dos partidos não têm cartões. Eu sou delegado e não tenho cartão. Em 1992, foi assim, em 2008 foi assim, em 2012 não vai ser assim", afirmou Domingos Coragem, 28 anos, seguindo as críticas da liderança da UNITA à CNE, à frente de um grupo de jovens cheios de vontade de falar.
"Para fazer estradas, partem casas e metem as pessoas em tendas", acusa um. "E depois há as casas evolutivas, que chegam a ser partilhadas por quatro famílias", prossegue outro, "não há empregos", "não temos dinheiro para a universidade", "os professores são obrigados a ser do MPLA"... "Não somos malucos, é a frustração", resume Coragem, enquanto os seus "maninhos" continuam a desfilar o rol de críticas ao partido no poder.
À frente de um tosco bailado, ergue-se um retrato do fundador da UNITA, Jonas Savimbi, que surge, dez anos após a sua morte em combate, como uma assombração, embalada pelo cântico "queremos um angolano", em alusão ao velho fantasma são-tomense de José Eduardos dos Santos, a outra figura essencial da história recente angolana,
Pela manifestação circulam muitas fotocópias que ligam o Presidente da República a São Tomé e Príncipe, embora a biografia oficial informe que o chefe de Estado nasceu no bairro do Sambizanga, em Luanda, e o grito "queremos um angolano" será ouvido muitas mais vezes.
Apesar de convocada pela UNITA, várias formas de descontentamento, abrigaram-se do guarda-chuva do maior partido de oposição e do seu slogan "unidos pela mudança".
"Nem todos os que estão aqui são da UNITA, mas todos estão aqui pela frustração", afirma José Alberto, um engenheiro mecânico de 33 anos que garante não ter filiação partidária. "É um ato voluntário, não viemos para ouvir cantar ou beber, mas porque esperamos pela mudança há 37 anos."
Vários artistas entoam no palco da concentração final os seus poemas antirregime: "Até na Bíblia está escrito que o pouco é para todos, mas aqui em Angola é só para eles", canta um "rapper" que se identifica como Muçulmano Gangster. A jelaba branca mostra o nome Bin Laden sobre uma cruz cristã, a frase "Xtou Vivo" e ainda "32 é muito", o `slogan" dos jovens da sociedade civil que promoveram manifestações contra o Governo, numa alusão aos anos de poder de José Eduardo dos Santos.
As frases chave estão em toda a parte: "A intimidação é a arma dos fracalhotes", "O arquiteto da Fraude", "onde estão Cassule e Kamulingue?", dois militares veteranos desaparecidos num protesto recente e também recordados por Isaías Samakuva, líder do partido, quando finalmente sobe ao palco para fazer o seu discurso contra a CNE e pedir "coragem" para novos possíveis protestos.
No Largo da Família, estão poucos milhares de pessoas, numa mobilização bem distante das multidões arrastadas pelo MPLA, e o líder da UNITA usa a quantidade como um argumento: "Vocês não precisam que vos metam nos autocarros à força." E um aviso: "Podem andar estar aí para nos caçar, não aceitem provocações, estão a compreender?" Alguns disseram que preferiam ficar.
*O título nos Compactos de Notícias são de autoria PG
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