sábado, 25 de agosto de 2012

Isaías Samakuva e a UNITA acreditam que Angola é o que não é: um Estado de Direito

 


Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*
 
O líder da UNITA, Isaías Samakuva, continua a acreditar – apesar das evidências que até os cegos vêem – que Angola é o que não é: um Estado de Direito democrático.
 
Então não é que hoje, em Luanda, quando falava a milhares de apoiantes (o MPLA garante que não chegaram a mil) que participaram na manifestação de protesto, Samakuva disse estranhar a ausência de observadores da União Europeia (UE) nas eleições gerais em Angola?
 
Francamente. A esmagadora maioria dos observadores, a começar pelos da UE, estão ou estarão em Angola para subscrever as teses do regime do MPLA, sejam elas quais forem. E para isso, convenhamos, não precisam de estar no país. Já hoje podem dizer que as eleições do dia 31 de Agosto foram justas e transparentes.
 
Como se isso não fosse bastante, Isaías Samakuva voltou a acusar o Governo angolano de recusar a emissão de vistos a observadores estrangeiros. e referiu-se à ausência da União Europeia.
 
Há muito tempo que Isaías Samakuva mostrou ao mundo que as democracias ocidentais estão a sustentar um regime corrupto e um partido que quer perpetuar-se no poder. E de que lhe valeu isso?
 
Embora reconheça que o 4 de Abril de 2002 representou "o início de uma nova etapa do processo político angolano", a UNITA lamenta que continuem por se cumprir "os objetivos políticos preconizados no âmbito da democratização e da reconciliação nacional".
 
Para o maior partido da oposição, as reformas previstas nos vários Acordos de Paz, para a criação de "um verdadeiro Estado de Direito Democrático em Angola e para o estabelecimento de um sistema de Governo realmente democrático, apenas conheceram passos muito tímidos".
 
Pois é. As liberdades fundamentais dos angolanos, constitucionalmente consagradas, continuam coartadas com a intensificação, nos últimos tempos, de actos de intolerância política praticados em quase todo o país, de forma coordenada, por elementos afectos ao partido no poder que, perante o silêncio conivente das autoridades do país, destroem propriedades, símbolos partidários e causam desaparecimentos, ferimentos e perda de vidas humanas entre militantes e membros de partidos na oposição, sobretudo os da UNITA.
 
Creio que pouco, ou nada, adianta hoje continuar a defender que a UNITA deve ser salva pela crítica e não assassinada pelo elogio. Apesar disso, tenho um compromisso moral com o que Jonas Savimbi me disse, em 1975, no Huambo: “a UNITA, tal como Angola, não se define – sente-se”. Por isso...
 
Alguém se lembra de que, como estão as coisas, nunca será resgatado o compromisso de Muangai?
 
A UNITA mostrou até agora, é verdade, que sabe o que é a democracia e adoptou-a, embora nem sempre da forma mais transparente. Tê-lo-á feito de forma consciente? Tenho algumas dúvidas, sobretudo depois das manipulações e vigarices eleitorais de que foi vítima, que já não esteja arrependida.
 
Depois da hecatombe eleitoral de 2008, provocada também pela ingenuidade da UNITA acreditar que Angola caminha para a democracia, Samakuva alterou os jogadores, a forma de jogar e prometeu pôr o Galo Negro a voar.
 
Creio, contudo, que o líder da UNITA conseguiu juntar alguns bons jogadores mas esqueceu-se que não bastam bons jogadores para fazer uma boa equipa. Dia 31 ver-se-á quem tem razão.
 
Muitos desses craques, tal como queria o MPLA, não conseguem olhar para além do umbigo, do próprio umbigo. Ou seja, olham para o mensageiro e não para a mensagem. Habituaram-se à lagosta e esqueceram a mandioca.
 
Em 2008 o mundo ocidental esteve de olhos fechados (nem sequer vale a pena falar de Portugal porque esse só vê o que o MPLA deixa) para o enorme exemplo que a UNITA deu. Em 2003, abriu bem os olhos porque esperava o fim do partido. Em 2012 adoptou as leis do MPLA: só os cegos podem manifestar-se sobre o que vêem em Angola.
 
Agora estamos a ver que ao Ocidente basta uma UNITA com 10% dos votos para dar um ar democrático à ditadura do MPLA. Aliás, por alguma razão o Ocidente não reagiu às vigarices, às fraudes protagonizadas pelo MPLA. E não reagiu porque não lhe interessa que a democracia funcione em Angola. É sempre mais fácil negociar com as ditaduras.
 
A democracia, quando existe, tem parâmetros que a definem. E esses não existem em Angola. Alguém vê os tribunais a julgar? Não. Alguém vê o Parlamento a legislar? Não. Alguém vê o Governo a governar? Não.
 
Quem manda, quem se substitui aos tribunais, à Assembleia Nacional e ao Governo é uma entidade não eleita que dá pelo nome de Presidente da República.
 
Segundo a UNITA, o Presidente da República “é apenas um dos vários poderes constituídos da República”. Errado. Seria assim se, de facto e de jure, Angola fosse o tal Estado de Direito Democrático.
 
Como não é, o Presidente (da República e do MPLA) é o único poder existente. Ele tem o poder absoluto que, aliás, tem a cobertura da comunidade e instituições internacionais, mau grado não ter sido eleito.
 
Ao acreditar na democracia, ao querer para Angola um Estado de Direito, a UNITA dá um bom exemplo que, contudo, não tem impacto interno e muito menos externo.
 
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
 
Título anterior do autor, compilado em Página Global: UM EXEMPLO PARA ÁFRICA E PARA O MUNDO!
 

1 comentário:

Anónimo disse...

Mais papista que o Papa !

O das 24 horas é que devia estar à frente da UNITA : talvez assim ela deixasse de ser o pouco nacionalista que é , para regressar a apêndice do colono !

O das 24 horas deve ter pertencido à Operação Madeira !

Não acham ?

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