quinta-feira, 9 de agosto de 2012

MIGUEL RELVAS E ANTÓNIO COSTA: UMA COLIGAÇÃO INESPERADA




João Lemos Esteves – Expresso, opinião, em Blogues

1. O Partido Socialista está absolutamente moribundo: António José Seguro arrisca-se a entrar para a história como o pior líder socialista de sempre. Ziguezagueante, sem uma ideia forte, sem convicções - um autêntico cata-vento, que define a sua agenda política ao sabor da espuma dos dias. Verdadeiramente, António José Seguro não é um líder, sendo apenas o gerente ou o administrador de insolvência de um partido (dito) socialista que se encontra completamente insolvente (mesmo falido!) de ideias. Compreendo que é difícil um líder de oposição se afirmar no momento presente, em que Portugal se encontra adstrito ao cumprimento de uma série de obrigações muito apertadas e exigentes contraídas com instituições internacionais. Mas que diabo! Se compararmos as oposições dos países que se encontram em dificuldades financeiras com a prestação do Partido Socialista, porventura, iremos concluir que o PS português é a pior oposição de todas.

2. Estas considerações levam-nos ao protagonismo granjeado por António Costa no presente Verão. O timing da entrevista de António Costa foi cautelosamente pensado: aproveitou o período que antecede as férias (esta época é vulgarmente chamada "silly season") para marcar a sua posição dentro do PS e condicionar, por essa via, António José Seguro. Convém chamar a atenção para o facto de António Costa ter ensaiado já o disparo do tiro fatal a António José Seguro - mas o actual líder do PS gorou-lhe as expectativas. Como? Com o recurso a um expediente ilegal e manhoso de revisão dos Estatutos, fazendo tábua rasa das regras procedimentais próprias da Constituição do partido. Aí, António José Seguro revelou que, para além de um líder político fraco, é uma pessoa com o mesmo carácter de Miguel Relvas. Desta feita, António Costa aproveita o desaparecimento absoluto do líder socialista para o remeter para a mais tremenda insignificância política. Seguro desapareceu do mapa político nas últimas (largas!) semanas porque não tem uma ideia, uma sugestão, um reparo ao Governo - muito menos uma convicção forte. Esse é o problema: António José Seguro é um político despido de convicções, num país à deriva, com um Governo fanaticamente pró-troika. António Costa percebe e, apesar de não conseguir ser guarda-redes do Benfica, será o ponta de lança socialista brevemente. E goleará, naturalmente, António José Seguro.

3. Contudo, chamo a atenção dos caríssimos leitores para um pormenor que passou despercebido aos comentadores políticos: é que António Costa recebeu uma bênção de Miguel Relvas (o Estado, como se sabe, assumiu uma dívida de 277 milhões de euros da Câmara) que torna quase impossível a tarefa de o derrotar nas próximas autárquicas. Explicação? Aparentemente trata-se de uma decisão inacreditável de Miguel Relvas, que poucas semanas antes, tinha lançado o nome de Fernando Seara para Lisboa. Mas não: Miguel Relvas actuou com o intuito de beneficiar António Costa. Facilmente se percebe a razão de ser desta decisão: para o Governo de Passos Coelho, é crucial aguentar António José Seguro na liderança do PS. Porque é um líder fraco; porque é um homem que não se impõe internamente muito menos no país; porque é um conhecido e amigo pessoal de Miguel Relvas e, portanto, muito previsível - Seguro não faz mossa ao Governo. Ao invés António Costa, por muitos defeitos políticos que tenha é um homem de causas; aguerrido no combate político; muito experiente e com um discurso muito agressivo para com o Governo. E os eleitores gostam de António Costa. Já se sabe que com Seguro o PS não descola nas sondagens, mesmo com as medidas duras do Governo, Miguel Relvas e Passos Coelho sentem que com António Costa o filme poderia ser diferente. E tal cenário seria desastroso para o Governo, nesta altura. Por conseguinte, Miguel Relvas ajudou António Costa para o levar a recandidatar-se à presidência da Câmara de Lisboa e tornar mais fácil a sua vitória. Julga-se, assim, que António Costa ficará afastado da corrida à liderança do PS, deixando António José Seguro disputar as próximas eleições legislativas. Miguel Relvas coliga-se objectivamente com Costa, preferindo perder Lisboa do que criar um sarilho futuro para o Governo. Só que estas contas podem sair mal - e vão sair furadas. Porquê? Porque se António Costa ganhar Lisboa e o PS não ganhar com uma folga considerável as autárquicas, o peso de António Costa dentro do PS aumentará. Conclusão: a mente brilhante de Miguel Relvas poderá ter começado a escrever a ascensão de António Costa no PS e, quem sabe, no país.

PS - Em tempo de Verão e de férias, chamo a vossa atenção para a música do jovem João Só e sua banda, com os seus temas muito bem compostos e interpretados - e com letras muito divertidas e repletas de significado. Para assistir a actuações ao vivo de grande qualidade musical, é ver a jovem banda " Konsumo Obrigatório" com a sua vocalista Mónica Rodrigues, que irá tocar nas noites quentes (espera-se) de Lisboa.

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