Paulo Peres – Debates Culturais
O engenheiro Alfredo Bondukim, presidente do Sinditêxtil-SP, comenta que, depois de 189 anos de sua independência de Portugal e de uma história de nação soberana permeada de governos de exceção e regimes voláteis, o Brasil desde as “Diretas Já”, em 1984, parece ter consolidado uma firme democracia, que tem resistido às mais duras provas.
Mas assinala que a liberdade política parece não ter afastado de modo definitivo o estigma do colonialismo, pois estamos trocando a antiga subserviência econômica ao fraterno povo lusitano por uma nova dependência da China.
“A exemplo do que fazíamos há mais de dois séculos”, explica o engenheiro, “quando éramos meros fornecedores de riquezas naturais e minerais a Lisboa, recebendo em troca poucos bens de valor agregado, estamos exportando para Pequim produtos essenciais e de alta relevância nesta era da sustentabilidade, como petróleo, ferro e soja, e importando um monte de quinquilharias. E, o que é pior, pagando por elas preços de produtos de alto valor agregado”.
Alfredo Bondukim adverte que, “por conta desse equívoco estratégico em termos de política industrial, a indústria de transformação brasileira fechou 2010 com déficit superior a 70 bilhões de dólares em sua balança comercial, com risco de ultrapassar 90 bilhões ao cabo de 2011. Desse total, a indústria têxtil e de confecções terá saldo negativo de 05 bilhões. Em meio ao potencial de nossa economia em relação a um mundo tomado por graves crises, parece que não estamos percebendo a corrosão de nossa manufatura e um perigoso avanço para a sino-dependência”.
Graças a uma correta ação de nossa política econômica, temos reservas cambiais superiores a 350 bilhões de dólares e uma situação fiscal equacionada. Portanto, não precisamos, como os Estados Unidos, que os chineses comprem títulos de nossa dívida para garantir o seu adequado serviço. Assim, não devemos temer qualquer represália caso adotemos medidas mais eficazes de proteção comercial contra uma concorrência muito desigual quanto à qualidade dos produtos, manipulação cambial, respeito às condições sociais e trabalhistas mais dignas, cuidados com o meio ambiente, utilização de insumos saudáveis e práticas civilizadas no tocante às leis de mercado, sustenta Bondukin.
O governo brasileiro argumenta que a China é nosso maior parceiro comercial e principal comprador de nossos produtos, afirma Alfredo. “Por isso, devemos, então, ter muito cuidado para não ferir suas suscetibilidades, pois isso poderia reduzir suas importações, afetando nossa balança comercial. Ora, tal justificativa não é suficiente para nos resignarmos à dependência, conformando-nos em ser parceiros da África no fornecimento de produtos primários à potência asiática. O ministro Mantega já afirmou que o Brasil somente seria afetado pela crise se a China reduzisse suas encomendas, o que já indica nossa dependência”.
Para o engenheiro, “a indústria brasileira tem feito seu papel, investindo pesadamente nos últimos anos em inovação, modernização e ampliação de capacidades. Somente a indústria têxtil investiu 2 bilhões de dólares em 2010. Temos um parque industrial moderno, pujante e dos maiores do mundo, que garante uma pauta diversificada de exportações”.
Mesmo se nos impusermos no comércio bilateral, os chineses continuarão precisando, e muito, de nossas commodities, alimentos e aço, dentre outros produtos, acrescenta Alfredo Bondukim. “Devemos, ainda, aproveitar e valorizar a força do ascendente mercado interno nacional. Qual o sentido estratégico para o nosso país de aumentar a exportação de fibras de algodão e, ao mesmo tempo, ampliar o volume de roupas importadas? Ou seja, não temos nenhuma razão para reinstituir o Brasil colônia”.
*Artigo publicado no site Tribuna da Internet
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