terça-feira, 14 de agosto de 2012

AO CONTRÁRIO DE JEFFERSON, ADVOGADO ACUSA LULA POR MENSALÃO




O advogado Luiz Francisco Correia Barbosa destinou um tempo mínimo à defesa do presidente do PTB, Roberto Jefferson. Fiel ao estilo boquirroto do cliente, preferiu o ataque. Criticou o procurador-geral da República, o ministro revisor Joaquim Barbosa e acusou o ex-presidente Lula de ser o mandante do mensalão, apesar de seu próprio cliente ter dito reiteradas vezes à imprensa, à CPI e à Justiça que “Lula não sabia de nada”.

Najla Passos e Vinicius Mansur - Carta Maior

Brasília - Autor da denúncia que deu origem ao escândalo do mensalão, o presidente do PTB, Roberto Jefferson, afirmou, reiteradas vezes, à imprensa, à CPI e à Justiça, que o esquema criminoso de compra de votos de parlamentares para garantir a aprovação de projetos de interesse do governo era comandado pelo então ministro da Casa Civil, José Dirceu, à revelia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que nada sabia sobre isso.

A versão, entretanto, apresentada por seu advogado de defesa, Luiz Francisco Correia Barbosa, esta tarde, na tribuna do Supremo Tribunal Federal (STF), foi outra. Conforme ele, o verdadeiro mentor e ordenador do esquema do mensalão era o ex-presidente, que só não figura como réu no processo devido à blindagem efetuada pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e pelo ministro revisor do STF, Joaquim Barbosa. “É uma turma de zagueiros do Lula. Fizeram tudo de caso pensado”, acusou o advogado, em coletiva à imprensa.

Seu pronunciamento na corte, momentos antes, soou como uma bomba, capaz de constranger ministros, corar o procurador-geral da República e excitar a imprensa, já desanimada com o desenrolar tedioso que tem marcado o julgamento. Corrêa Barbosa dedicou um tempo mínimo à defesa de Jefferson, acusado pelos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva, em função do recebimento de R$ 4 milhões, em espécie, das mãos do publicitário Marcos Valério. Seguindo à risca o estilo boquirroto que notabilizou seu cliente, preferiu o ataque.

Insistiu que o tribunal deveria convocar Lula a testemunhar, mesmo que, para isso, precisasse transformar o julgamento em diligência. Acusou o ex-presidente de favorecer o Banco BMG que, por ato de ofício dele, entrou no mercado de crédito consignado, “ultrapassando até mesmo a Caixa Econômica em volume de operações. O advogado afirma que, desde abril de 2011, pediu a inclusão de Lula no rol de acusados, sem obter acolhida do MPF. “O assunto nem chegou ao conhecimento da corte, porque o ministro relator não permitiu”, explicou depois à imprensa.”

Para Luiz Francisco, não há contradição entre as acusações que ele faz à Lula e as históricas e conhecidas entrevistas dadas pelo seu cliente, que responsabilizam José Dirceu pelo fato. “O Roberto Jefferson só falou sobre o que ele conhecia à época. O envolvimento de Lula só foi configurado no desenrolar do processo”, disse.

Investidas contra Gurgel

Ele também teceu duras críticas à ação penal articulada por Gurgel, que chegou a classificar de “farelo”. “O procurador-geral da República não fez seu trabalho de reunir provas justamente para que o STF não tenha como condenar ninguém. Com uma ação penal açodada, incompleta e intimidatória, ele joga para a torcida, joga o povo contra o STF que, com base nos autos, não terá condições de condenar ninguém. Podem esperar um festival de absolvições”, insistiu.

Acusou o procurador-geral de ser o “pioneiro” do cargo a responder pelo crime de responsabilidade por omissão, em ação movida pelo senador Fernando Collor (PTB-AL). E, ignorando os ministros e o procurador presentes à corte, dirigiu-se à imprensa: “Se esse tribunal não cumprir sua tarefa, digam ao povo que isso foi coisa do procurador geral da república, que não fez o seu trabalho”.

A denúncia do mensalão

Segundo a versão do advogado, seu cliente, ao tomar conhecimento dos movimentos do então subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência da República, Waldomiro Diniz, no sentido de cooptar e comprar votos de parlamentares, informou os ministros Ciro Gomes (Integração Nacional) e Miro Teixeira (Comunicação). “Mas a coisa continuava”, acrescentou. O presidente do PTB, então, procurou o presidente da República e deu ciência sobre a prática. Na descrição de Jefferson, relembrada pela defesa, Lula se mostrou surpreso e, dizendo-se traído, chegou a lacrimejar. “Prometeu providências. E nada”, continuou o advogado.

Jefferson, então, voltou ao gabinete de Lula e reiterou a denúncia. Enquanto isso, “uma manobra da Casa Civil, usando agentes da Abin [Agência Brasileira de Inteligência], para silenciar Jefferson”, teria sido armada para flagrar o pagamento de propina a diretor dos Correios, Mauricio Marinho, indicado ao cargo pelo PTB. Depois do episódio, Jefferson denunciou, via imprensa, a existência do mensalão.

Em reiteradas referências à Lula, o advogado afirmou que ele não é “um pateta” e, portanto, sabia do mensalão. E listou adjetivos para o ex-presidente: “omisso”, traidor da confiança do povo”, “mandante dessa história”, “safo doutor honoris causa”. Segundo a defesa, os “empregados” receberam ordens, mas deixaram “o patrão fora disso”.

“Inocência” de Jefferson

Apesar de sustentar a existência de compra de parlamentares em votações, Corrêa Barbosa disse que os R$ 4 milhões que seu cliente admite ter recebido nada tem a ver com o suposto mensalão: tratavam-se apenas de recursos para a eleição municipal de 2004. O advogado ainda ressaltou que Jefferson não sabia da origem do dinheiro, o que, portanto, descartaria a acusação de lavagem. “Não pode haver crime de lavagem sem ciência prévia do recebedor de que se trata de dinheiro sujo. E o PTB recebeu um repasse do PT, fruto de empréstimos bancários”, argumentou.

Na tentativa de desmontar a tese da compra de votos durante a votação da Reforma da Previdência, ele ainda lembrou que PTB foi o partido que inventou esta política no Brasil e que Roberto Jefferson foi redator dos capítulos referentes à Previdência na Constituição. “Estranho seria ele votar contra”, contra-argumento.

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