sábado, 25 de agosto de 2012

TODOS AO LADO DO “ESCOLHIDO DE DEUS”

 


Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*
 
Ele é presidente do MPLA, presidente da República há 33 anos (nunca foi eleito), chefe do governo, o homem mais rico de Angola e amigo íntimo (para além de mentor financeiro) dos dirigentes políticos e económicos de Portugal.
 
Para além de pôr de joelhos e de mão estendida políticos como José Sócrates, Passos Coelho e Cavaco Silva, José Eduardo dos Santos é quem dita as regras de muitas empresas portugueses, sejam financeiras ou de comunicação social.
 
O processo português de bajulação do dono de Angola começou, de facto, há muito tempo. Recordo-me, por exemplo, que o então presidente da Assembleia da República de Portugal elogiou no dia 17 de Dezembro de 2007, em Luanda, a política externa angolana e deu os "parabéns" ao país pela "ambição" de um papel cada vez maior no continente africano e no Atlântico Sul.
 
"Um país com estas capacidades, aliando o seu potencial económico à sua diplomacia criativa e à capacidade militar, tem que ter uma ambição regional. Parabéns Angola por ter uma ambição regional!", felicitou Jaime Gama num discurso aplaudido e que, mais coisa menos coisa, poderia ter sido feito por um qualquer deputado da maioria, ou seja do MPLA.
 
E disse, com nova revoada de aplausos das bancadas do Parlamento, que Angola "olha de igual para igual" para os principais protagonistas do Atlântico Sul, como o Brasil, Argentina ou África do Sul: "Parabéns Angola por olhar para o Atlântico Sul."
 
O discurso apologético de Jaime Gama poderia, igualmente, ter sido feito por outro dos socialistas portugueses que integravam a comitiva e que, aliás, já foi (ou é?) também ilustre militante do MPLA, Vítor Ramalho.
 
No capítulo das relações bilaterais, Jaime Gama salientou o crescendo do investimento português em Angola, cujo mercado tem um lugar especial nas empresas portuguesas que procuram a sua internacionalização, e apontou o igualmente significativo investimento angolano em Portugal em áreas como a banca, a energia e outras que se (des)conhecem.
 
Jaime Gama depositou uma coroa de flores no monumento a Agostinho Neto, suposto fundador da nacionalidade angolana e primeiro presidente do país com a ajuda, entre outros, de russos, cubanos e – é claro – portugueses.
 
Entretanto, falando no Lubango no âmbito da campanha eleitoral, Eduardo dos Santos, também conhecido por “querido líder” ou “o escolhido de Deus”, disse que os angolanos não vão deixar que "os mentirosos, os demagogos e os caluniadores cheguem ao poder" nas eleições gerais de 31 de Agosto.
 
"Aqueles que teimam em fomentar agitação, instabilidade e negar o que toda a gente tem diante dos olhos terão a devida resposta nas urnas", avisou José Eduardo dos Santos.
 
E quem são os mentirosos, demagogos e caluniadores? De uma forma geral são todos aqueles que não alinham no MPLA.
 
São, por isso, todos aqueles que dizem que em Angola:
 
- Todos os dias, a todas as horas, a todos os minutos há angolanos que morrem de barriga vazia. 70% da população passa fome;
 
- 45% das crianças angolanas sofrem de má nutrição crónica, e que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos;
 
- No “ranking” que analisa a corrupção em 180 países, Angola está na posição 158;
 
- A dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos e que o silêncio de muitos, ou omissão, deve-se à coação e às ameaças do partido que está no poder desde 1975.
 
- A corrupção política e económica é, hoje como ontem, utilizada contra todos os que querem ser livres, que 76% da população vive em 27% do território, que mais de 80% do Produto Interno Bruto é produzido por estrangeiros; mais de 90% da riqueza nacional privada foi subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população de cerca de 18 milhões de angolanos;
 
- O acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.
 
E se fazer estas denúncias significa ser mentiroso, demagogo e caluniador, então o Alto Hama está incluído.
 
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
 
Título anterior do autor, compilado em Página Global: A ARTE SIMIESCA DO JORNAL DO MPLA
 

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