segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Fragilidade do mercado de trabalho leva jovens a emancipação tardia na Espanha

 


Liana Aguiar, Barcelona – Opera Mundi – foto EFE
 
Fatores econômicos e sociais reduzem lares chefiados por jovens; sete em cada dez espanhóis entre 20 e 29 anos vivem com os pais
 
As dificuldades para encontrar um emprego bem remunerado e ter acesso à moradia própria fazem com que cada vez mais os jovens espanhóis adiem a emancipação. Estudo da Fundación La Caixa divulgado recentemente mostra que 67,4% dos espanhóis entre 20 e 29 anos vivem com os pais.

Nos últimos quatro anos, houve uma queda da porcentagem de lares chefiados por jovens espanhóis, passando de 16,4%, em 2008, para 14,5%, em 2011, o que representa uma tendência, segundo a doutora em Sociologia e coordenadora do estudo, Almudena Moreno. “É muito duro para um jovem ou um casal ter a expectativa de pagar um imóvel, ter responsabilidades da vida adulta e, de repente, voltar a depender dos pais. Sentem-se desmotivados”, comenta.
 
O desemprego e a crise econômica são os principais responsáveis pelo retorno à casa da família. A taxa de desemprego juvenil na Espanha cresce a números alarmantes e, segundo a Eurostat, é a maior da Europa, junto com a Grécia. Chegou a 53,28% no segundo trimestre deste ano, de acordo com últimos dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE). Mas até mesmo os jovens que trabalham têm dificuldades para se emancipar: 18,7% dos ocupados de 30 a 34 anos e 43,9% dos de 25 a 29 anos ainda vivem com os pais.

A crise piorou, ainda que ligeiramente, a já difícil condição de trabalho dos jovens espanhóis. Isso porque, mesmo nos tempos de bonança econômica, eles estavam em uma situação complicada, caracterizada pela elevada taxa de trabalho temporário, salários reduzidos e o maior nível de desemprego em relação ao restante da população ativa.

Outro fator que influencia esse comportamento é institucional. O gasto em juventude na Espanha representa 2,9% de todo o gasto social, enquanto é de 6,6% no Reino Unido e 6,5% na Dinamarca. “O Estado não tem ajudado com políticas públicas para os jovens espanhóis. A consequência disso é que 70% deles estão dispostos a sair do país”, analisa Moreno.

Segundo a socióloga, é também uma questão cultural a que explica que na Espanha não se valoriza tanto a independência, pois, mesmo antes da crise, os jovens se emancipavam mais tarde em comparação ao que ocorria em outros países europeus. “Os pais espanhóis incentivam os filhos a sair com estabilidade, portanto, a tendência é de que eles saiam para formar um casal ou uma família. Por outro lado, os outros europeus experimentam mais, moram sozinhos, dividem apartamento com amigos, vivem esse período de transição”, compara.
 
Essa cultura familiar é característica dos países do sul da Europa (Espanha, Portugal, Itália, Grécia), enquanto a ideia de independência e autonomia é mais vista nos países nórdicos (Suécia, Finlândia, Dinamarca). Enquanto na Espanha a idade média para o jovem deixar a casa familiar é 29 anos, em países como Finlândia, a média é de 23 anos.

O estudo conclui que, na Espanha, a situação dos jovens passou de “dependência familiar por opção” para “dependência familiar imposta” pelas circunstâncias econômicas adversas.

Regresso à casa familiar

Para mudar esse cenário, a socióloga diz que seria necessário que os jovens tivessem expectativas de mudança, o que não existe neste momento. Assim se encontram Sandra Pato, 29 anos, auxiliar administrativa, e o namorado Miguel Rodríguez, 31, operário em um armazém. Ambos levam mais de dois anos em trabalhos temporários e não podem pagar um aluguel.

Sandra saiu da casa da família aos 19 anos para viver com o antigo namorado. Afetada diretamente pela crise, hoje ela tenta na justiça sanar uma dívida das prestações do imóvel e voltou a viver com os pais, na cidade de Santa Perpétua, próxima a Barcelona. O atual namorado, Miguel, ainda não alcançou a independência financeira e também mora com os pais, na cidade de Ripollets.

Os planos do casal de morar junto e ter filhos estão adiados devido à falta de melhores oportunidades de trabalho.“Temos vontade de dar um passo adiante na nossa relação, mas não podemos”, lamenta Sandra. O casal diz que ficará na casa dos pais até conseguir pagar um aluguel.
 
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