António Perez Metelo – Dinheiro Vivo
A engenhoca com a TSU rebentou com os diques da paciência da arraia-miúda, no fim do 3.º ano consecutivo de medidas estatais de austeridade. A necessidade e a dimensão do novo aperto nem são cabalmente explicadas nem se apresenta qualquer horizonte futuro de alívio.
Até à votação final global do OE13 - seja ele qual for! - vamos assistir a uma sucessão de ações de rua, que são outras tantas formas de gritar: "Basta! Estamos fartos!" Se esse grito, à luz da dureza da purga que lhe pedem que engula e do desconchavo da execução orçamental deste ano (resultante do purgante de 2012) é inteiramente justificado, mesmo inevitável, ele não contém ainda alternativa racional, efetiva e aceitável para a arraia-miúda. Para construí-la é preciso pôr preto no branco metas, constrangimentos, alternativas possíveis e razoáveis de corte da despesa do Estado e recomposição da receita em tempos de emergência. Esta é uma tarefa que a todos diz respeito.
O governo, e a maioria de centro-direita que o sustenta, aparentemente esqueceram este princípio básico de reforçar o envolvimento de todos os atores relevantes na cena das restrições financeiras e orçamentais, em vez de afunilar o discurso e a procura de soluções na tecnoestrutura ministerial e troikista. Por mais que o não queira, Coelho e Gaspar vão ter de apresentar outro cozinhado orçamental aos credores externos, um que a generalidade dos contribuintes aceite engolir. E fá-lo-ão agora em posição de maior fraqueza.
Ninguém parece ter a receita ideal pronta a servir. Mas este surto de indignação popular imparável mostra que hão de ser "os de cima" a ter de sentir bem fundo o grau de sacrifícios que "os de baixo" têm vindo a fazer, desde 2009. Os parasitas, que sabem sempre banquetear-se à mesa do Orçamento, têm de sentir que o vento mudou.
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