segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O ÚLTIMO 11 DE SETEMBRO – I

 

Martinho Júnior, Luanda
 
1 – O Consulado dos Estados Unidos em Benghazi, a cidade que esteve na origem das acções armadas contra o regime de Kadafi, na sequência duma série de demonstrações que têm percorrido alguns países árabes por causa dum filme considerado insultuoso pelos muçulmanos, foi alvo dum ataque pelas 22 horas do dia 11 de Setembro, no preciso momento em que se encontrava nas instalações o Embaixador dos Estados Unidos na Líbia, J. Christopher Stevens.
 
Do ataque morreu o Embaixador, o Cônsul em Benghazi e mais dois outros funcionários.
 
As notícias não são coincidentes sobre a causa da morte: algumas referem que o Embaixador foi morto por um míssil, mas outras não põem de lado a possibilidade de ter havido linchamento. (“El Embaxador de EEUU en Líbia asesinado com un mísil” – http://www.voltairenet.org/El-embajador-de-EEUU-en-Libia).
 
Uma coisa parece certa: o ataque foi planificado por profissionais que sabiam o exacto momento em que o Embaixador se encontraria dentro do Consulado e o artifício da justificação toca as raias do cinismo, o mesmo cinismo com que os norte americanos justificam muitas das suas operações ditas “humanitárias”. (“Ataque contra o consulado dos EUA foi planeado” – http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/africa/2012/8/37/Ataque-contra-consulado-dos-EUA-foi-planeado,a456d546-a0ea-4a33-83b4-1b6393868aaf.html).
 
A escola parece ser sem dúvida a mesma e as regras não o serão? (“Ataque a consulado dos EUA na Líbia vinga a morte do nº 2 da Al Qaeda – SITE – http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/internacional/2012/8/37/Ataque-consulado-dos-EUA-Libia-vinga-morte-Qaeda-SITE,6beebce4-807d-4327-bc2e-2973fc4cfcac.html).
 
2 – As condenações ao assassinato têm sido unânimes por parte dos mais diferenciados estados e entidades e uma parte delas reflectem estupefacção e incredibilidade pelo inesperadamente bárbaro acontecimento.
 
Nenhum estado que alinhe a sua conduta por uma lógica alternativa pode deixar de condenar o acto, por maioria de razão aqueles estados que estão apostados na lógica com sentido de vida como Cuba.
 
Cuba foi dos primeiros a condenar o pérfido ataque. (“Cuba condena ataques à Embaixada dos EUA na Líbia” – http://tudoparaminhacuba.wordpress.com/2012/09/14/cuba-condena-ataques-a-embaixada-dos-eua-na-libia/).
 
Da minha parte o acto pérfido não é tão surpreendente assim: por várias vezes e em lugares distintos, interesses norte americanos foram fustigados por fundamentalistas islâmicos, além do ataque às torres gémeas a 11 de Setembro de 2001, um ataque em relação ao qual alguns põem em causa a versão oficial norte americana.
 
O Global Research tem sido um dos grupos independentes que têm divulgado outras versões sobre o 11 de Setembro de 2011 (“Revealing the Lies, Commemorating the 9/11 Tragedy” – http://www.globalresearch.ca/the-911-reader-the-september-11-2001-terror-attacks/).
 
3 – Os Estados Unidos, de acordo com o meu ponto de vista, está num ponto de não retorno em relação às questões que abarcam o mundo islâmico!
 
A sua posição é geo estratégica e alicerçada sobre os interesses históricos norte americanos em relação ao petróleo.
 
Nesse âmbito, o compromisso assumido com as monarquias arábicas, em especial a Arábia Saudita, é fundamental.
 
Em Março de 2011 publiquei “Salvar o(s) rei(s)” (http://pagina--um.blogspot.com/2011/03/salvar-os-reis.html) e entre outras coisas referi:
 
“No momento em que o petróleo dos países árabes (Médio Oriente e Norte de África), segundo o que numerosos analistas vão sustentando, inicia a curva descendente após o pico de Hubert, interligando-se ao encadeado da crise global provocada pelo neo liberalismo, a todo o transe a hegemonia procura salvar o(s) rei(s)!

Em primeiro lugar o rei e a monarquia da Arábia Saudita, depois os reis e as monarquias da Jordânia e de Marrocos, por fim os senhores e as monarquias periféricas dos Emiratos Árabes Unidos, de Bahrein, de Mascate e Oman…

… Por fim e ali onde houve monarquias mal paradas que passaram à história, começam por ressuscitar a bandeira, conforme à expressão histórica colonial da Líbia…

É evidente que sobre aqueles que nada têm a ver com monarquias, emiratos, sultanatos e outros derivados, os riscos são maiores: enquanto nos regimes feudais e manifestamente anti democráticos (ainda que tisnados com os benefícios das sociedades de consumo modernas) as elites estão consolidadas de geração em geração com as sucessões naturais mobilizando as tribos à boa maneira de Lawrence da Arábia (o Cecil John Rhodes do petróleo), nas repúblicas bananeiras da região a cosmética de democracia não chegou para as encomendas”…

Esse enredo interessa também a Israel, que estimula as tensões regionais tendo em conta a necessidade de desviar a atenção sobre a Palestina: enquanto se salvam os reis atacando a Líbia, a Síria e preparando o ataque ao Irão, esquece-se esse contencioso histórico!
 
4 – Já antes havia publicado o “Iraque, Iraque, 75 anos depois” (http://pagina--um.blogspot.com/2011/03/iraque-iraque-75-anos-depois.html), onde entre outras coisas apontava:
 
“Se há país no Mundo que historicamente se tornou expoente da crise civilizacional compulsada pela lógica capitalista que alimenta o modelo neo liberal, esse país é o Iraque.

Praticamente desde que foi descoberto petróleo que essa crise se foi metamorfoseando, ancorada aos interesses em disputa e às estratégias que, para além da fazer alimentar a máquina global gerada com a Revolução Industrial, pretendeu sempre gerar lucros, cada vez mais lucros para cada vez menos mãos, provocando a grande cisão da humanidade e os danos ao planeta, que o colocam sob o risco duma anunciada, quiçá irreversível catástrofe climática-ambiental.

O poder de decisão das elites globais instituiu para o Iraque do petróleo todos os estágios de intriga, de manipulação, de divisionismo e de colonialismo até desembocar de choque em choque num ambiente de ampla toxidade, venenoso até para a procriação da espécie conforme Fallujah.

Desde que na década de 30 do século XX foi descoberto petróleo em grandes quantidades no Médio Oriente, que a região nunca parou de ser alvo de disputas, sendo as monarquias das Arábias consolidadas a bordo do cruzador pesado USS Quincy (CA-71), quando o Presidente Roosevelt se encontrou a 14 de Fevereiro de 1945 com o rei Ibn Saud no final da IIª Guerra Mundial.

As monarquias da península Arábica jamais foram envolvidas nos enredos típicos das democracias, ou das democratizações, pois quanto menos elas fossem descaracterizadas, menos riscos correriam os interesses das elites sobre o petróleo.

Desde então e desse modo, de há 75 anos a esta parte que se foi consolidando a hegemonia anglo-saxónica em toda a região, com implicações operativas e militares todavia nas periferias também ricas em petróleo, ou com utilidade estratégica, como o Iraque, o Irão e o Iémen, onde as monarquias haviam sido combatidas, enfraquecidas ou mesmo banidas.

A defesa das monarquias arábicas em prejuízo da democracia, sugere que a bordo do Quincy, em pleno Suez, se terá elaborado um Tratado entre os Estados Unidos e essas mesmas monarquias: garantia de protecção e segurança a troco de petróleo e, todos aqueles vizinhos que foram ficando fora dessa esquadria acabariam, dum modo justificável ou dum modo perverso, por sofrer as consequências”…
 
Foto: O assassinato em Benghazi, a 11 de Setembto de 2012, do Embaixador norte americano na Líbia J. Christopher Stevens.
 

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