terça-feira, 25 de setembro de 2012

PASSOS COELHO: NEM UMA PROPOSTA PARA REDUZIR A DESPESA DO ESTADO EM 2013

 

Margarida Bon de Sousa – i online
 
TSU cai à custa de mais austeridade e de uma subida generalizada de impostos
 
O recuo do executivo no aumento da taxa social única (TSU) em 7% para todos os trabalhadores aliviou a tensão na reunião da concertação social de ontem. O primeiro-ministro assegurou às confederações patronais e sindicais que o governo deixou cair definitivamente a medida e que vai pagar um subsídio aos funcionários públicos e pensionistas. Mas, em contrapartida, irá tributar os privados na mesma ordem de grandeza para tornar a medida mais equitativa, em conformidade com o acórdão do Tribunal Constitucional.
 
E, para compensar o aumento da despesa com o pagamento desse subsídio aos trabalhadores do Estado e reformados, será criada uma sobretaxa sobre um ou dois subsídios do privado. “Sempre” como explicou Passos Coelho, “com o acordo prévio da troika”, que no Memorando de Entendimento exigiu, desde o início, uma baixa da TSU para os empregadores, de forma a fomentar a competitividade da economia nacional.
 
Mas se ficou assente que não haverá um acréscimo da taxa social única para os trabalhadores, o governo não avançou nem uma palavra sobre o corte da despesa que deverá compensar a manutenção da taxa social única nos 23,75% para os empregadores, apesar de ter sido questionado por algumas das confederações presentes. Sabe-se que parte desse corte virá do encerramento de algumas fundações e da diminuição de transferências para outras. Mas a quantificação deste corte continua por fazer, para descontentamento de alguns dos representantes do patronato e dos sindicatos.
 
Os poucos momentos de alguma crispação durante o encontro envolveram os custos de contexto das empresas não ligados ao trabalho, como a energia, taxas e impostos, que pesam mais no orçamento de muitas companhias do que os salários, nomeadamente nas exportadoras. A isto, o primeiro-ministro também não respondeu. “O governo está a preparar uma proposta que vise devolver parcialmente os subsídios de Natal e de férias ao sector público e pensionistas, compensando essa devolução parcial com a distribuição por todos os portugueses – por todo o sector não público e não reformados e pensionistas, portanto, pelo sector privado também – das medidas que deverão compensar esta perda de poupança”, afirmou o chefe do executivo no final do encontro.
 
O corte, que o primeiro-ministro recusou quantificar, acontecerá em sede de IRS, tendo alguns dos presentes ficado com a ideia de que poderá incidir somente sobre os subsídios de Natal e de férias, através de uma sobretaxa, como sucedeu no ano passado.
 
Passos Coelho esclareceu também que o agravamento deste imposto não será apenas sobre os salários, mas também sobre outras fontes de rendimento, como o capital e o património.
 
Esta hipótese está a ser estudada no âmbito da diminuição de escalões no IRS, de forma a que este imposto passe a tributar, de uma forma mais equitativa, os rendimentos do trabalho e os restantes, ainda segundo o acórdão do Tribunal Constitucional.
 
A única boa notícia – não tão boa para a Confederação do Turismo, que quer que o sector volte a pagar o imposto intermédio de 13% – é que está fora de causa uma alteração do IVA, cuja receita está a cair 2,2%, contra uma previsão de aumento de 11% no último orçamento rectificativo (ver páginas 2 e 3).
 
A intervenção da Confederação do Comércio e Serviços centrou-se mais na necessidade de o executivo olhar para a diminuição da despesa, alertando de novo para o perigo de estrangulamento das pequenas e médias empresas, que se defrontam com uma quebra do consumo privado de 5,8% até Setembro.
 
Quanto à UGT, João Proença disse estar convencido de que o governo irá devolver a “maior parte” dos subsídios de férias e de Natal aos trabalhadores e pensionistas do Estado a partir de 1 de Janeiro.
 
Cip insiste na descida da tsu
 
A Confederação da Indústria insistiu na baixa da TSU em 5,75%, embora não à custa de um aumento desta taxa para os trabalhadores. Mas, segundo fontes contactadas pelo i, a questão é complexa. A ser uma descida selectiva para alguns sectores, como o exportador, terá de ter sempre a autorização prévia de Bruxelas, o que não se compadece com a entrega do próximo Orçamento do Estado até dia 15 de Outubro no parlamento.
 
Quanto à sua ligação à criação líquida de emprego, as mesmas fontes referem que a isenção total da TSU já acontece, durante 36 meses, para as empresas que estejam a contratar jovens desempregados ou de longa duração, no âmbito das medidas activas de emprego, pelo que não faz qualquer sentido as empresas optarem pela sua diminuição quando podem não a pagar durante um período de tempo significativo.
 
Nos próximos dias, o ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, vai procurar encontrar, em relações bilaterais com os parceiros, um consenso o mais alargado possível para que o governo possa construir uma solução do lado do emprego e da competitividade a incluir no Orçamento do Estado para 2013.
 
E, pelo menos por enquanto, não foi agendada nenhuma nova reunião plenária em sede de concertação, desconhecendo-se se a próxima acontecerá antes da entrega do Orçamento para 2013 no parlamento.
 

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