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É possível que o
primeiro-ministro já tenha percebido o poço em que está metido
O primeiro-ministro
mudou de discurso desde a famosa sexta-feira negra da TSU. Passou daquela
espécie de arrogância moral (a litania da pobreza expiatória, do “estamos assim
porque merecemos”) à revelação das suas dores comungadas com o resto da
população. Ontem, na homenagem ao prof. Adriano Moreira, Passos Coelho
socorreu-se d’“Os Lusíadas”, um recurso comum do discurso público português.
Mas é interessante ver a parte que Passos Coelho escolheu: “Daqui fomos
cortando muitos dias/Entre tormentas tristes e bonanças/No largo mar fazendo
novas vias/Só conduzidos de árduas esperanças” Passos escolheu-a bem – é
verdade que andamos todos à deriva, governo incluído –, mas a sua escolha
revela que a sua única estratégia é, efectivamente, a “árdua esperança”. O
governo põe em prática o plano da troika conduzido por uma “árdua esperança”,
um desejo de milagre, de uma sorte danada, de uma vitória no Euromilhões. Como
estratégia, é um susto.
Quando Passos
Coelho passa à análise do texto, a coisa não melhora: “Camões fala-nos aqui de
uma corrente que nos arrasta para trás e que é mais poderosa do que os ventos
que nos impelem para a frente. Mas, hoje em Portugal, se é certo que não
podemos subestimar a corrente em que o navio português foi posto – até porque estamos
todos os dias a sentir dolorosamente a sua força –, também temos de reconhecer
que há ventos favoráveis a soprar nas nossas velas”. Ora, qual é a força dos
“ventos favoráveis” (existem onde?) perante a metáfora, muito bem escolhida por
Passos Coelho, da “corrente que nos arrasta para trás e que é mais poderosa do
que os ventos que nos impelem para a frente”? Como já se tinha percebido antes
da revelação do desastre da execução orçamental, o governo fez contas tendo por
base a fé na religião popular no colégio de Frankfurt onde Vítor Gaspar foi
educado.
E da invocação
deste trecho d’“Os Lusíadas” é possível deduzir que o primeiro-ministro já
percebeu o poço em que está metido. Já não lhe resta nada, apenas uma profissão
de fé em que os “ventos” venham a ser “mais favoráveis” quanto “mais
resistentes forem as nossas velas” e também “firmes” e “hasteadas” as “velas da
nossa economia”, “leis”, “instituições”, “mas também da nossa vontade e da
nossa determinação”. Passos não sabe como hastear as velas da economia e, neste
momento, o seu programa é fazer figas contra “a corrente que nos arrasta para
trás”. É muito mau. (fim)
ENTERRE-SE ESTA
GENTE DE VEZ
Recorremos à imagem
publicada no We Have Kaos in the Garden com o título acima exposto. Julgamos
que o trabalho de qualidade daquele blogue corresponde na imagem a perfeito
conduto do editorial do jornal i online: Passos, incompetente e aldrabão, um PM moribundo que um PR
cadavérico (Cavaco) teima em manter na senda da destruição do país evocando
falsamente o patriotismo. Patriotismo? E esperam eles que as velas enfunem?
Que velas? As velas do caos e da revolta dos portugueses que em cada dia que
passa sobrevivem com maiores carências e têm mais fome?
A traição não enfuna velas a seu favor mas sim contra. É
disso que estão à espera? Pois, então, está quase. Ao longo deste tempo de
destrambelho, maldade e incompetência, já foram vários os avisos e os indícios. Quem
vos avisa…
Complementando a
imagem no We Have Kaos in the Garden incluíram a seguinte prosa: “Parece que o
Coveiro Cavaco Silva não tem vontade nenhuma de enterrar de vês os mortos-vivos
que deambulam pelos corredores dos Ministérios deste governo. Isso não seria
muito grave não fosse o caso destes zombies acabarem por destruir a vida de
tanta gente neste país. Este governo está morto, já mostrou não ter nem
capacidade nem qualidades para gerir o país que sairá às ruas em cada medida de
injustiça gritante que queiram implementar. Enterre-se de vez este governo e
acabe-se com isto."
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