domingo, 9 de setembro de 2012

TENTANDO DESVENDAR O MEDO

 


 
Talvez seja o medo o sentimento ou sensação mais importante e/ou comum dentre todas as demais manifestações comportamentais, presente em quase todas as espécies animais. Lembro-me daquelas cenas de documentários onde grandes manadas de elefantes, cavalos, zebras, gado ou antílopes correm assustados pelo sobrevoo de algum avião. É o medo se manifestando!
 
Porém, com os seres humanos (que muitos consideram racionais) o medo também se faz notar até mesmo de forma irracional. Convém lembrarmos que tem gente que tem medo de borboleta e até do Papai Noel!
 
Provavelmente, o medo mais comum seja com relação à morte. É comum o medo de morrer e dos mortos também. Medo de espíritos e de fantasmas habitam o imaginário popular desde os primórdios, e já se tornaram enredo de filmes, livros e inúmeras lendas. O mais estranho é que, apesar do medo que tais “entidades” despertam, estas sempre geram interesse e imensa curiosidade. Tem gente que assiste filmes de terror escondido embaixo de cobertores, num pânico absurdo, mas assiste. Quando o filme acaba, dormem de luz acesa como se isto afastasse qualquer ameaça.
 
Voltando à questão da morte, muitos a temem, racional ou irracionalmente, principalmente pelo desconhecido que ela desperta. Questiona-se, há tempos, se há algo após a morte ou, até mesmo, se é ruim a sensação de morrer. Os estudiosos da doutrina espírita afirmam que pode sim ser a morte um processo emocionalmente doloroso para quem morre, ou faz a passagem, como denominam tal momento. O medo da morte também está associado ao medo da perda, que é incrivelmente presente junto à maioria das pessoas. Não é difícil quem tenha mais medo da morte de alguém querido do que de sua própria morte.
 
Outro medo muito comum é o medo de sofrer. É preciso entender que sofrer é um sentimento muito amplo e complexo. Sofrimentos não têm escala, não tem graduação. Até mesmo sofrimento físico costuma variar de pessoa para pessoa.
 
Indo além do medo de sofrer, está o medo de sofrer por amor, que é tão comum, principalmente pelas mulheres, que tendem a rotular os homens como sendo “todos iguais”. Se são todos iguais, por que escolher tanto? Este medo normalmente é suplantado pela esperança, pelo desejo de ser e se sentir amada. Por isso que muitas mulheres fazem até simpatias e promessas para encontrar seus amores, pois têm medo de ficar sozinhas pelo resto da vista. Já os homens geralmente não temem não encontrar alguém. O grande medo masculino é o do fraco desempenho sexual. Os homens sonham ser verdadeiras máquinas de sexo. Este medo certamente é maior do que o medo da pobreza ou qualquer outro. Este é um medo conceitual, do tipo “o que será pensarão de mim se eu broxar, se não der no couro?”.
 
Muita gente afirma que medo é coisa apenas de crianças. Bobagem. Na verdade, muitos medos surgem sim na infância e as crianças tendem sim a manifestar publicamente seus medos, que muitas vezes são transmitidos pelos próprios adultos, pois nenhuma criança nasce sabendo o que é o bicho papão.
 
Na adolescência, o medo mais comum é o da não aceitação da sociedade. Neste sentido, encontramos levas de adolescentes praticamente iguais no comportamento, nos gostos e no modo de vestir. Porém, se este jovem, por exemplo, gosta de comer jiló quando os outros detestam, ele, por medo de ser diferente, jamais admitirá tal gosto, podendo até negá-lo. Entende-se aí que o medo realmente molda comportamentos não só individuais, mas da própria sociedade, que nas ditaduras se curva diante do medo repressor.
 
O medo está e sempre esteve presente na religião. Hoje, muita gente se diz católico ou evangélico por medo de ser visto como ateu. Muitos espíritas, umbandistas ou candomblecistas se denominam, muitas vezes, católicos, por medo de serem taxados de macumbeiros ou de ignorantes. Já os evangélicos, em sua maioria, tem mais medo do Diabo do que amor a Deus. E os políticos bajulam os pastores por terem medo de perder os votos dos membros de suas igrejas. Inclusive, quanto à relação políticos-pastores, com raríssimas exceções, é de dar medo ao próprio Diabo!
 
Existem ainda outros medos. O medo da traição, do desemprego, de cachorro, da sogra não morrer nunca, do fracasso, de assalto e até aquele medo da Regina Duarte (que faz aniversário no mesmo dia que eu), que tanta polêmica causou! E o medo de envelhecer, será que alguém não o tem? E o medo de dentista, onde fica? Voltando aos políticos, pena que hoje eles não têm mais medo da mídia divulgar suas trapaças e roubalheiras, até porque a grande mídia tem mais medo ainda de não ser agraciada com as polpudas verbas públicas de publicidade que eles manipulam!
 
Não vou analisar aqui a questão do pânico, coletivo ou individual, mas apenas frisar que este é uma manifestação extrema de medo e tende a ter consequências drásticas e sérias.
 
Como cronista da vida cotidiana, já até tive medo de não ter assunto para um próximo artigo, mas sempre vem alguém e me dá uma boa sugestão. A questão é não termos medo de conversar com ninguém, pois as ideias brotam em todos os lugares e mentes. O problema é quando perdemos o medo de escrever demais e o nosso artigo fica muito extenso, o que acredito não tenha acontecido neste texto.
 
Não me considero medroso, muito pelo contrário. Não tenho medo de assombrações, fantamas ou de morrer. Faço caminhadas sozinho (e desarmado) pela madrugada, o que considero muito inspirador. Na verdade, sou um curioso por índole, e talvez seja isto que me impede de ter tantos medos como as demais pessoas. Não consigo entender como alguém pode ter medo de algo desconhecido. Tem gente que jamais entraria num disco voador se os extraterrestres convidassem, mas eu sim. Imagina não ver como é lá dentro!
 
*Alessandro Lyra Braga é carioca, por engano. De formação é historiador e publicitário, radialista por acidente e jornalista por necessidade de informação. Vive vários dilemas religiosos, filosóficos e sociológicos. Ama o questionamento.
 

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