Le
Point, Paris - Presseurop
Para o mestre do
pensamento francês, a Europa não tem alternativa a avançar para um objetivo
simples: a união política. Caso contrário, o euro está condenado a desaparecer.
Se a Europa
política não se concretizar, o euro desaparece. Esse desaparecimento pode
assumir muitas formas e possibilitar vários cenários paralelos. Pode ser uma
explosão, uma implosão, uma morte lenta, a dissolução, a divisão. Pode levar
dois, três, cinco, dez anos, e ser precedido de inúmeras remissões, dando a
sensação, a cada vez, que o pior foi evitado.
O fator que servirá
para o provocar pode ser o colapso de uma Grécia aniquilada por planos de
austeridade impossíveis de pôr em prática e insuportáveis para o povo; ou uma
iluminação de um qualquer Tribunal de Karlsruhe, que recuse, para a Alemanha, o
risco mal avaliado do desaparecimento de um Estado-membro.
Mas acaba por
desaparecer. De uma forma ou de outra, se nada acontecer, o euro vai
desaparecer. Não se trata de uma hipótese, um vago receio, uma capa vermelha
agitada diante do rosto dos europeus recalcitrantes. É uma certeza. E deduz-se
não apenas pela lógica: o absurdo da quimera que seria, se tudo se mantivesse,
uma moeda única abstrata, como flutuante, não apoiada em economias, recursos ou
sistemas fiscais conjuntos. Também a História aponta nesse sentido: todas as
situações dos últimos dois séculos são reveladoras, para a crise que estamos a
viver.
Unificação política
Porque o euro não é
a primeira experiência de moeda única tentada no Ocidente. Houve pelo menos
seis, com crónicas instrutivas – embora, como sempre, as situações não sejam
comparáveis. Duas falharam rotundamente, devido aos egoísmos nacionais
associados a desenvolvimentos desiguais entre países que não podiam, sem se
unirem, falar a mesma linguagem monetária (o episódio fundamental foi, no
primeiro caso, uma falta de cumprimento… da Grécia!): refiro-me às duas
tentativas, hoje completamente esquecidas, da União Latina (1865-1927) e da
União Escandinava (1873-1914).
Duas resultaram,
relativamente depressa e com grande evidência – e, se foram bem-sucedidas, isso
deveu-se a que o processo de unificação monetária foi acompanhado por uma
unificação política. Falo da criação do franco suíço, aquando da Constituição
fundadora da Confederação Helvética, após meio século de tentativas goradas
pela recusa de associar o preço político à união económica; foi instituído logo
em 1848 e substituiu as várias moedas cunhadas até então por cidades,
municípios e regiões. O outro caso foi o êxito da lira italiana, que, no
momento da unificação italiana, triunfou sobre uma miríade de moedas, por vezes
indexadas às de Estados alemães, outras ao franco, outras ainda a antigas tradições
de ducados e repúblicas.
Finalmente, as duas
restantes andaram hesitantes até acabarem por resultar – ambas inventaram uma
moeda verdadeiramente comum, mas só depois de mil crises, recuos e revogações
temporárias. E se vingaram foi graças a dirigentes corajosos, que perceberam
que uma moeda só existe se apoiada num orçamento, num sistema tributário, num
regime de alocação de recursos, num direito do trabalho, em regras do jogo
social, em suma, numa política realmente partilhada. Eis a história do novo marco,
que ganhou corpo, quase 40 anos depois do Zollverein de 1834, contra florins,
táleres, kronenthalers e marcos das cidades hanseáticas. E a do dólar
norte-americano, de que não está suficientemente divulgado que levou cento e
vinte anos a impor-se; e que, de facto, tal só aconteceu depois de se ter
chegado a um acordo para federalizar a dívida dos Estados-membros da União – os
Estados Unidos da América.
O euro
desintegrar-se-á
O teorema é
implacável: sem federação, não há moeda comum. Sem unidade política, a moeda
subsiste algumas décadas, mas, se provocada por uma guerra ou uma crise,
desintegra-se. Sem progresso – ou seja, sem essa integração política cuja
obrigatoriedade está inscrita em todos os tratados europeus, mas que nenhum
responsável, tanto da França como da Alemanha, parece levar a sério –, sem
abandono de competências por parte dos Estados-nação e sem uma derrota clara
desses "soberanistas" que levam os povos ao retrocesso e ao colapso,
o euro desintegrar-se-á, como teria acontecido com o dólar, se, por exemplo, os
sulistas tivessem ganho a guerra da Secessão.
Dantes, dizia-se:
socialismo ou barbárie. Hoje, devemos dizer: união política ou barbárie.
Melhor: federalismo ou colapso, tendo como consequências regressão social,
insegurança, desemprego crescente, miséria. Melhor: ou a Europa dá mais um
passo e ultrapassa um marco na via dessa integração política, sem a qual
nenhuma moeda comum alguma vez conseguiu perdurar, ou sai da História e
mergulha no caos.
Não temos mais
alternativas: é união política ou morte. Tudo o resto – sortilégios de alguns,
pequenas adaptações de outros, fundos de solidariedade Assim, mecanismos de
estabilização Assado – não fará senão adiar o epílogo e manter o moribundo na
ilusão de ganhar tempo.
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