domingo, 30 de setembro de 2012

Portugal: “ESTAMOS NA IMINÊNCIA DE NOS APROXIMARMOS DA GRÉCIA”

 

Entrevista a Vítor Bento
 
João Céu e Silva – Diário de Notícias
 
O economista Vítor Bento considera que o programa de ajustamento assinado com a troika Portugal está num ponto crucial. O conselheiro de Estado nomeado por Cavaco Silva alerta para o facto de o processo estar em perigo.
 
"Estamos na iminência de, a curto prazo, nos aproximarmos da Grécia a uma velocidade muito grande", diz e recorda que foi também na 5.ª avaliação que a Grécia começou a descarrilar: "E nós estamos nesse terreno perigoso! Gostaria que conseguíssemos recuperar a capacidade de mantermos o ajustamento e conseguirmos cumprir os objetivos."
 
Para Vítor Bento, Portugal tem capacidade de cumprir mas coloca uma condição: "Só cumpriremos um processo desta dimensão com consenso social e político." Recusa que a troika esteja a ameaçar suspender a próxima tranche do financiamento a Portugal e a fazer a mesma pressão que à Grécia: "Estão a seguir o "script"! Há um programa de compromissos que só tem contrapartidas se forem cumpridos. E a experiência histórica mostra que em todos os processos de ajustamento sempre que a pressão alivia o processo para. Os credores sabem que se mostrarem demasiada tolerância, o esforço de ajustamento diminuirá. E, se parar, não ganharemos a autonomia financeira de que necessitamos."
 
Quanto ao papel de Cavaco Silva a substituir-se ao Governo na concertação social, o economista recusa-o: "Não sei se o Presidente faz 'concertação social'. Admito que utilize a influência que decorre do cargo, até pela experiência política que tem, para promover consensos dentro da sociedade. O fazer essa componente do papel não implica que tenha que ser necessariamente contra mais ninguém, é mais um jogo de soma positiva do que de soma nula."
 
No que respeita à anterior proposta de alteração da TSU, desconhece se o ministro das Finanças e o primeiro-ministro estavam conscientes do impacto ou se apenas faziam um teste aos portugueses: "Não consigo responder honestamente. Parto do princípio que saberiam e que foram surpreendidos com a reação. Até porque há um conjunto de empresários que reage de forma intempestiva e, nalguns casos, irrefletida, o que põe em causa a eficácia da medida." Não acha que os empresários tenham respondido em uníssono contra a TSU: "Muitos milhares de empresários ficaram calados. Na concertação social, a CIP tentou defender o essencial da medida! O que houve foi intervenções mediáticas no imediato".
 
Sobre a privatização da Caixa Geral de Depósitos, Vítor Bento é radical. "Independentemente do que ideologicamente se possa pensar sobre o papel do Estado na economia e em particular, sobre se deve ou não ser dono de bancos, não se pode esquecer que a CGD tem um valor simbólico, de segurança, para grande parte da população. Sabendo a importância que os símbolos têm em política e sabendo as circunstâncias difíceis com que a sociedade está confrontada e a insegurança que estas circunstancias acarretam, não me parece politicamente avisado colocar a privatização da CGD em cima da mesa nestas circunstancias. Duvido que o potencial encaixe de uma tal operação pudesse justificar afrontar a importância simbólica que referi. Já quanto à possível abertura de posições minoritárias de capital, não as recusaria em absoluto, sobretudo se pudessem reduzir as possibilidades de aproveitamento político-partidário de que a CGD tem sofrido, não acharia mal, mas teria que ver de que modelo concreto estaríamos a falar."
 
 
 

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