Entrevista a Vítor
Bento
João Céu e Silva –
Diário de Notícias
O economista Vítor
Bento considera que o programa de ajustamento assinado com a troika Portugal
está num ponto crucial. O conselheiro de Estado nomeado por Cavaco Silva alerta
para o facto de o processo estar em perigo.
"Estamos na
iminência de, a curto prazo, nos aproximarmos da Grécia a uma velocidade muito
grande", diz e recorda que foi também na 5.ª avaliação que a Grécia
começou a descarrilar: "E nós estamos nesse terreno perigoso! Gostaria que
conseguíssemos recuperar a capacidade de mantermos o ajustamento e conseguirmos
cumprir os objetivos."
Para Vítor Bento,
Portugal tem capacidade de cumprir mas coloca uma condição: "Só
cumpriremos um processo desta dimensão com consenso social e político."
Recusa que a troika esteja a ameaçar suspender a próxima tranche do
financiamento a Portugal e a fazer a mesma pressão que à Grécia: "Estão a
seguir o "script"! Há um programa de compromissos que só tem
contrapartidas se forem cumpridos. E a experiência histórica mostra que em
todos os processos de ajustamento sempre que a pressão alivia o processo para.
Os credores sabem que se mostrarem demasiada tolerância, o esforço de
ajustamento diminuirá. E, se parar, não ganharemos a autonomia financeira de que
necessitamos."
Quanto ao papel de
Cavaco Silva a substituir-se ao Governo na concertação social, o economista
recusa-o: "Não sei se o Presidente faz 'concertação social'. Admito que
utilize a influência que decorre do cargo, até pela experiência política que
tem, para promover consensos dentro da sociedade. O fazer essa componente do
papel não implica que tenha que ser necessariamente contra mais ninguém, é mais
um jogo de soma positiva do que de soma nula."
No que respeita à
anterior proposta de alteração da TSU, desconhece se o ministro das Finanças e
o primeiro-ministro estavam conscientes do impacto ou se apenas faziam um teste
aos portugueses: "Não consigo responder honestamente. Parto do princípio
que saberiam e que foram surpreendidos com a reação. Até porque há um conjunto
de empresários que reage de forma intempestiva e, nalguns casos, irrefletida, o
que põe em causa a eficácia da medida." Não acha que os empresários tenham
respondido em uníssono contra a TSU: "Muitos milhares de empresários
ficaram calados. Na concertação social, a CIP tentou defender o essencial da
medida! O que houve foi intervenções mediáticas no imediato".
Sobre a
privatização da Caixa Geral de Depósitos, Vítor Bento é radical. "Independentemente
do que ideologicamente se possa pensar sobre o papel do Estado na economia e em
particular, sobre se deve ou não ser dono de bancos, não se pode esquecer que a
CGD tem um valor simbólico, de segurança, para grande parte da população. Sabendo
a importância que os símbolos têm em política e sabendo as circunstâncias
difíceis com que a sociedade está confrontada e a insegurança que estas
circunstancias acarretam, não me parece politicamente avisado colocar a
privatização da CGD em cima da mesa nestas circunstancias. Duvido que o
potencial encaixe de uma tal operação pudesse justificar afrontar a importância
simbólica que referi. Já quanto à possível abertura de posições minoritárias de
capital, não as recusaria em absoluto, sobretudo se pudessem reduzir as
possibilidades de aproveitamento político-partidário de que a CGD tem sofrido,
não acharia mal, mas teria que ver de que modelo concreto estaríamos a
falar."
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