Mário Augusto
Jakobskind* - Direto da Redação
Dezembro se
aproxima e no sétimo dia do mês o grupo argentino Clarin terá de se adaptar aos
dispositivos da lei dos meios de comunicação, também conhecida como Lei de
Serviços de Comunicação Audiovisual. Na data vence o prazo fixado pela Corte
Suprema para a medida cautelar com a qual o grupo Clarín paralisou a
implementação da lei, durante três anos, após sua aprovação no Congresso.
Nesse sentido, o
grupo terá de se desfazer de alguns espaços midiáticos sob seu controle. Vale
lembrar que pela nova legislação, os espaços midiáticos são divididos de forma
igualitária - 33% - para as mídias privadas, públicas e estatais.
É preciso lembrar
também que o projeto foi amplamente discutido pela sociedade argentina e só
depois aprovado pelo Congresso. Mas os barões da mídia tentaram de tudo para
evitar a entrada em vigor da lei. Não se conformam e divulgam acusações
descabidas afirmando que a legislação é restritiva à imprensa, quando acontece
exatamente o contrário, ou seja, o espaço midiático na Argentina democratizou-se.
A Sociedade
Interamericana de Imprensa (SIP), que reúne o patronato do setor nas Américas,
que apoiou golpes recentes, como em Honduras e Paraguai e outros ao longo da
história, esteve reunida em São Paulo.
Os jornalões deram
grandes espaços ao evento onde estiveram presentes, entre outras, figuras como
Fernando Henrique Cardoso, mas não contaram com a presença da Presidenta Dilma
Rousseff, que convidada preferiu não comparecer. Fez bem, porque quem apareceu
por lá eram apenas figuras carimbadas, ou seja, defensores eminentes da
liberdade de empresa, mas para disfarçar utilizando o jargão de liberdade de
imprensa. É desta forma que tentam enganar leitores, telespectadores e ouvintes
nos diversos países americanos.
Os defensores
incondicionais da liberdade de empresa cerraram baterias contra a Presidenta
Cristina Kirchner, que com coragem não tem se intimidado às pressões dos barões
midiáticos. E a pauta anti-Kirchner se intensificou nos jornalões quase em
seguida ao término do encontro em São Paulo.
Os empresários,
como barões da mídia que são, fazem exatamente o jogo do grande grupo
empresarial argentino que segue o ideário da não aceitação de nenhum tipo de
contraponto.
Muito pelo
contrário, tratam pejorativamente os opositores e se pudessem voltariam a
apoiar os que em tempos passados prendiam e arrebentavam em nome, vejam só, da
democracia.
As opiniões
favoráveis à lei dos meios de comunicação na Argentina não são divulgadas ou
então seus defensores são adjetivados como autoritários ou algo do gênero.
Não foi divulgado
que representantes de mídias alternativas e de movimentos sociais protestaram
em São Paulo contra as ”verdades” da SIP.
Nenhuma mídia de
mercado nacional, pelo menos que este jornalista tenha visto, divulgou a
opinião do relator especial da Organização das Nações Unidas para a Liberdade
de Expressão e Opinião sobre a referida legislação.
Frank La Rue
entende que “a Argentina tem uma lei avançada. É um modelo para todo o
continente e para outras regiões do mundo”. E foi mais adiante ao afirmar que
"eu a considero um modelo e a mencionei no Conselho de Direitos Humanos da
ONU, em Genebra. E ela é importante porque para a liberdade de expressão os
princípios da diversidade de meios de comunicação e de pluralismo de ideias são
fundamentais”.
Na verdade, o
silêncio em relação a quem tem opinião diferente ao da SIP faz parte do ideário
do pensamento único.
Os jornalões e
telejornalões que pretendem ditar regras a quem atinge preferiram dar espaço
total ao final de uma novela intitulada ”Avenida Brasil”. E o fizeram de uma
forma tão avassaladora, como se todos os brasileiros tivessem a obrigação de
acompanhar a novela. Ou como se a cultura brasileira se resumisse a (repetida à
exaustão) teledramaturgia da TV Globo, receita também seguida por outras
emissoras.
É até possível que
meios de comunicação de outros países tenham caído no conto do “fenômeno de
massa” imposto pela Rede Globo. Os correspondentes que eventualmente embarcaram
na canoa do oba oba global não entraram em detalhes sobre a necessidade que o
grupo empresarial teve de realizar uma jogada de marketing para, segundo
especialistas do setor, tentar interromper a queda de audiência nas novelas por
se tornarem repetitivas em seu todo, o que começava a ser percebido até por
telespectadores mais assíduos.
Na verdade, esse
esquema faz parte do mecanismo do pensamento único, que acompanha hoje
praticamente todas as editorias da mídia de mercado destas e de outros
quadrantes.
Por estas e muitas
outras é cada vez mais necessário que o Brasil aprofunde a discussão sobre a
legislação dos meios de comunicação, porque a atual está completamente defasada
e urge modificá-la. É preciso levar em conta também que novos atores sociais
precisam ocupar os espaços midiáticos, não podendo continuar o quadro atual de
hegemonia absoluta dos grandes grupos, onde se encontram os tais barões da
mídia.
A matéria é
complexa. Existe um lobie poderoso que tenta de todas as formas impedir que o
Brasil se modernize e democratize nesse setor. Não é à toa que a própria SIP se
reúna em São Paulo neste momento exatamente para defender interesses de seus
associados.
Ah, sim, os
leitores podem imaginar uma entidade como a SIP, já dirigida por um personagem
de nome Danilo Arbilla, que foi porta-voz da ditadura uruguaia, defendendo os
“valores democráticos”?
* É correspondente no
Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da
Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o
Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros,
de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE
2 comentários:
Os militares argentinos acabam de ser submetidos a uma de suas maiores vergonhas da historia nunca antes vista naquele país desgovernado pela demagoga Cristina Kirchner.
A fragata Libertad, navio-escola de nacionalidade argentina, foi impedida, no último dia 2 de outubro, de deixar o porto africano de Tema, em Gana.
A justiça local arrestou o navio, acatando o pedido de um fundo de investimentos que reclama uma suposta dívida da Argentina na justiça internacional.
O barco só poderia ser liberado a partir do pagamento de fiança de US$ 20 milhões (R$ 40 milhões).
Mas, em atitude nada soberana e covarde, a presidanta Cristina Kirchner ordenou que a embarcação símbolo da Marinha Argentina fosse evacuada e que os militares voltassem para Buenos Aires de avião:
" Enquanto eu for presidente, podem ficar com a fragata, mas com a liberdade, a soberania e a dignidade deste país não vai ficar nenhum fundo de especuladores".
E tem quem ache que essa palerma merece elogios.
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