Urariano Mota*,
Recife – Direto da Redação
Recife (PE) - O
ex-presidente Lula, que é sábio em política, já havia advertido: “O povo não
está preocupado com mensalão, com julgamento lá em Brasília. O povo está
preocupado é se o Palmeiras vai cair para a segunda divisão”. Mas não quiseram
ouvi-lo. Melhor, os fazedores de opinião – aqueles submergidos na realidade dos
jornais e tevês – acharam que tudo não passava de desconversa de Lula, pois
desta vez, ó, os petistas e esquerda iam para o buraco, conforme publicavam.
Lido engano. É preciso, por um lado, ter paciência com a miopia dos brilhantes
da mídia, e por outro, sorrir feliz que tanto errem e insistam no erro, para
melhor benefício da gente brasileira.
No que se refere ao
julgamento de petistas no STF e seu reflexo nas eleições, de novo, o velho
jornal confunde opinião pública com opinião publicada. Se os editores olhassem
mais críticos para suas “cartas à redação”, veriam a partir delas que as letras
saídas nos jornais não são bem a voz da sociedade, porque mais de uma vez as
cartas se inventam. As opiniões ali são falsas ou por claro exercício da
mentira, ou por seleção rigorosa do que interessa publicar, que é outra forma
de invento. Disso os editores até sabem. Digamos, numa concessão à sua
inocência, que eles parecem não ver é outra coisa. A saber: a força antiga da
imprensa em moldar consciências não se faz mais como antigamente. Como naquele
tempo em que a Globo e Folha de São Paulo mudaram o voto popular, ao divulgarem
na véspera das urnas montagem do debate Lula e Collor, e dinheiro roubado em
fotos de Ali Babá.
Há limites que
antes não havia. Eles vão da realidade livre da internet, que não obedece às
leis do mercado como ocorre na massiva imprensa, mas influencia ainda assim, à
realidade mais concreta, de identificação do povo com os políticos que lhe
possibilitaram um mínimo de conforto e oportunidades na vida. Sim, o
reconhecimento popular àqueles políticos, “bandidos”, estampados nas imagens
das primeiras páginas e na tela da televisão. Mas fazer uma análise mais funda
desse fenômeno, compor uma explicação científica que decomponha o real das
ruas, vai além deste espaço e do talento do colunista. Então falo do que vi
esta semana.
Nestes dias pude
sentir o engano do massacre midiático sobre o julgamento da “quadrilha de
petistas”. Na sala de um hospital, enquanto aguardava a hora do atendimento que
demorava a chegar, pedi à recepcionista que mudasse o canal da tevê onde
passava a telenovela. Então ela sintonizou a Globo News, que exibia momentos do
confronto entre os ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski no Supremo
Tribunal. Para quê? Algumas senhoras se retiraram da sala, e só um ancião de
classe média resmungava contra Lewandowski e aprovava o senso esperto,
jornalístico de Joaquim Barbosa. O velho falava e a sua senhora tentava
reprimi-lo, em atenção à minha cara de espanto. Mas eis que de repente, no
instante em que o apresentador começou as suas doutas explicações sobre os
mensaleiros, me ausentei para um telefonema. E para quê? Quando voltei, estava
de volta a telenovela. Então foi minha vez de resmungar:
- É tudo falso, dos
diálogos da novela às caras e bocas do julgamento. É tudo fake.
Então foi a minha
vez de não interromper a atenção do distinto público, para melhor me guardar
para esta tribuna livre, onde comparecemos por dever de consciência. Em resumo,
amigos: apesar da parcialidade do STF e de todo o massacre dos jornais, dos
líderes de opinião e da tevê, o julgamento político contra o governo Lula teve
e tem sobre as eleições efeito zero. “Ô povinho atrasado”, dizem os luminares
da classe média. “Ô conversa mole”, responde a gentinha de norte a sul do
Brasil.
E aqui ligamos por
fim as duas pontas, do sábio comentário de Lula às pesquisas que apontam a
vitória para os candidatos da base de apoio da presidenta Dilma. O Palmeiras
vai mal, mas o povo vai bem, excelências.
* É pernambucano,
jornalista e autor de "Soledad no Recife", recriação dos últimos dias
de Soledad Barret, mulher do cabo Anselmo, executada pela equipe do Delegado
Fleury com o auxílio de Anselmo.
1 comentário:
MAIS UM IMBECIL QUERENDO REDUZIR A IMPORTÂNCIA DA QUESTÃO.
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