Pepe Escobar, Madri – Opera Mundi, opinião – imagem Carlos Latuff
Nesta semana, país
tirou de sua lista de grupos terroristas a principal organização anti-Irã do
Iraque
A guerra ao terror
inventada pelo governo Bush é como um maná que não para de cair do céu – por
vias não exatamente muito misteriosas.
Na mesma semana da
Assembleia Geral da ONU – em que competiam discursadores como o presidente do
Irã Mahmoud Ahmadinejad e o primeiro-ministro de Israel Bibi Netanyahu – o
governo dos EUA tira da lista dos grupos terroristas o grupo anti-Irã, com base
no Iraque, conhecido como Mujahideen-e-Khalq (MEK).
Jamal Abdi, diretor
de política do NIAC (Conselho Nacional Americano Iraniano) não precisou de
muitas palavras para explicar do que se trata: “A decisão abre o caminho para
que o Congresso aprove envio de dinheiro ao MEK para promover novos ataques
terroristas no Irã e tornar muito mais provável a guerra contra o Irã. Além
disso, a decisão agride diretamente o movimento pacífico pró-democracia no Irã
e destrói alguma boa imagem dos EUA que ainda haja entre os iranianos comuns.” [1]
Segundo o jornal
iraniano pró-democracia Kaleme – dirigido pelo Movimento Verde – “não há
organização, nem partido, nem culto mais infame que o MEK, na opinião pública
da nação iraniana”. Indiscutível. Milhões de iranianos desprezam grupos de
fanáticos armados, do tipo MEK, especialmente porque foram aliados de Saddam
Hussein durante a guerra Irã-Iraque, de 1980 a 1988.
Durante a guerra, a
ideia fixa e obsessiva dos MEK era destruir o Supremo Líder Aiatolá Khomeini.
Nunca chegaram nem perto de ter alguma chance, porque não passavam de exército
de fanáticos maltrapilhos reunido no Iraque, que lançou ofensiva patética em
território do Irã, em 1988.
Depois do
cessar-fogo Teerã-Bagdá, negociado pela ONU em 1988, o MEK continuou ativo no
Iraque de Saddam durante os anos 1990s – já então dedicado a atacar os curdos
iraquianos. Foi quando o governo Clinton incluiu o grupo na lista de
“terroristas” – responsável pelo assassinato de cidadãos norte-americanos no
Irã, antes da Revolução Islâmica.
Unha e carne com o
pessoal do Mossad
Uma das principais
razões para a recente ‘promoção’ é que o MEK parece ter concordado em deixar
sua base no Iraque em Camp
Ashraf [2] e está de mudança para um novo campo construído
pelos EUA próximo a Bagdá.
Apesar da catarata
de desmentidos e negativas, todos os botequins em todo o Oriente Médio sabem
que os terroristas do MEK são treinados – e pagos – por Washington e Telavive,
o que inclui treinamento em território dos EUA.
Porque o MEK e seu
autodefinido “setor político” – Conselho Nacional de Resistência do Irã [orig.
National Council of Resistance of Iran (NCRI) – são fontes conhecidas (extremamente
pouco fidedignas) de informação de inteligência, para os EUA, sobre o programa
nuclear iraniano.
Em fevereiro, a
rede de televisão NBC News admitiu que “atentados mortais contra cientistas
nucleares iranianos” eram executados por membros do MEK, “financiados,
treinados e armados pelo serviço secreto de Israel”. Muito previsivelmente, a
rede NBC atentamente não investigou qualquer conexão com os EUA.Também muito
previsivelmente, o Congresso dos EUA – cuja popularidade está em níveis muito
baixos – irrompeu em manifestações de alegria e felicidade e saudou a decisão
do Departamento de Estado, com especial destaque para os suspeitos de sempre
como Dana Rohrabacher (Republicano da California), Ileana Ros-Lehtinen
(Republicano da Florida e presidente da Comissão de Relações Internacionais da
Câmara de Deputados) e Ted Poe (Republicano do Texas). Todos esses saudaram o
MEK como “organização democrática”.
Quer dizer... Como
se consegue ser promovido, de terrorista, a democrata? Essa é fácil. Basta
contratar a melhor equipe de lobbying que o dinheiro possa comprar e investir
pesado em “Relações Públicas” eficazes.
No caso dos
ex-terroristas e atuais democratas do MEK, foi serviço de três grandes firmas
de lobbying de Washington: DLA Piper; Akin Gump Strauss Hauer & Feld; e
DiGenova & Toensing. As três embolsaram cerca de 1,5 milhão de dólares, ano
passado, para democratizar os MEK a qualquer custo.
Mais uma vez se
comprova que esse é o meio certo e provado para enterrar história sangrenta de
atentados à bomba e assassinatos que mataram, não só empresários norte-americanos
e cientistas iranianos mas, também, milhares de civis iranianos jamais
contabilizados.
Nada como o toque cool de um especialista
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