Gazeta
Wyborcza, Varsóvia – Presseurop – imagem Pollobarba
Não contem com os
dirigentes da UE para nos tirarem da crise. O futuro vai ser moldado pelos
jovens que eles marginalizaram, escreve o filósofo polaco Jaroslaw Makowski,
numa altura em que Bruxelas procura fundos para ajudar o programa de
intercâmbio de estudantes a sobreviver aos cortes orçamentais.
Até agora, os
sociólogos têm-se debruçado sobre a chamada "geração perdida". Os
políticos tinham-se mostrado cautelosos, não utilizando a expressão, até que o
primeiro-ministro italiano, Mario Monti, quebrou a conspiração do silêncio, dizendo
aos seus jovens compatriotas: "Vocês são uma geração perdida".
Ou, mais precisamente: "A verdade, que infelizmente não é agradável, é que
a promessa de esperança – em termos de transformação e melhoria do sistema –
será apenas para os jovens que surgirão daqui a alguns anos”.
A chanceler alemã,
Angela Merkel, e o primeiro-ministro britânico, David Cameron, podiam ter dito
a mesma coisa, mas foi Mario Monti a tomar a dianteira. Isto significa que os
dirigentes vão, em breve, começar a pregar "boas notícias", de modo a
fazer os jovens esquecerem a vida agradável que os pais tiveram.
Falemos com
clareza: são as elites políticas e intelectuais as responsáveis pela atual
crise da Europa. São uma geração de dirigentes que cresceu num "palácio de
cristal". Curiosamente, a existência protegida que viveram, desfrutando de
prosperidade e segurança, não foi criação sua. Merkel e Cameron, tal como o
antigo chanceler alemão Gerhard Schröder e o ex-primeiro-ministro britânico
Tony Blair, antes deles, herdaram-na dos seus antecessores. E revelaram ser
apenas uma eficiente "cooperativa de consumo", como lhes chamou
Zygmunt Bauman, consumindo os frutos do trabalho dos outros e desfrutando do
brilho de êxitos que não produziram.
A Europa foi criada
e construída por uma geração para a qual um passado trágico – encarnado por
Auschwitz – representava uma experiência de vida. Os fundadores da União
Europeia – Konrad Adenauer, Robert Schumann ou Alcide de Gasperi – perceberam
que só trabalhando em conjunto poderiam construir algo duradouro e positivo. A
solidariedade europeia revelou-se uma bênção.
Desenvolvimento não
lucrativo mas sustentável
As elites
dominantes de hoje viveram sob condições totalmente diferentes, desfrutando de
segurança, paz e uma melhoria sistemática da qualidade de vida. Foi o resultado
da construção de um razoável Estado social. Como é que, depois de tão
espetacular sucesso, a Europa vive hoje um talvez igualmente espetacular
fiasco? Isso deve-se à crença das elites atuais de que herdaram a UE dos seus
antecessores, em vez de a terem tomado emprestada para os seus filhos. A
mentalidade e o espírito das pessoas que lideram hoje a Europa podem ser
resumidos da seguinte forma: "Vamos aproveitar a vida enquanto podemos,
porque em breve a UE vai ser apenas uma memória”.
Qual é o maior
problema da Europa, o tema mais escaldante dos nossos dias? Vemo-lo nas ruas e
praças das nossas cidades. "Temos o direito de votar, mas não temos
trabalho!", gritam os jovens desempregados. Temos uma democracia, mas não
temos pão nem casa. A precariedade
cresce diante dos nossos olhos. Que tipo de pessoas a sente? Guy Standing,
autor de “The Precariat: The New Dangerous Class” [Precários: a nova classe
perigosa], dá uma resposta curta e incisiva: praticamente toda a gente.
Fundamentalmente, os jovens.
E a única coisa que
ouvem dos seus dirigentes é que são uma "geração perdida", que a UE
pode entrar em colapso. A precariedade, observa Standing, arrasta "quatro
AA": acrimónia, anomia (ou seja, quebra dos laços sociais), ansiedade e
alienação. O resultado de um tal espírito social é o "cidadão
enfurecido" que vimos em ação nas ruas de Londres, no verão de 2011. São
os "novos pobres", que não têm nada em comum com o desamparo dos
sem-abrigo. Uma geração com uma perspetiva de vida de desemprego de longa
duração ou flexi-empregos abaixo das suas qualificações e ambições. Esta
situação gera raiva e fúria.
A questão que
enfrentamos hoje é esta: como se cria coragem a partir desta fúria? Em primeiro
lugar, não esqueçamos que a coragem de pensamento deriva da coragem de visão.
Vamos, pois, dizer em voz alta: "Não tenhamos medo do nosso ódio".
Temos o direito a ele, na presente situação que vivemos. Há apenas uma
condição: raiva, revolta e, em última análise, ódio não devem ser dirigidos
contra o outro. Não devem ser dirigidos contra outros seres humanos, porque,
senão, seria como deitar petróleo no lume. Transformaríamos o nosso mundo num
pesadelo absoluto.
O ódio e a raiva
que milhões de jovens europeus carregam hoje nos seus corações têm de ser
dirigidos contra a indiferença. O nosso imperativo categórico, presentemente, é
este: "Odeio a minha indiferença". Em segundo lugar, como escreve Claus
Leggewie no seu famoso livro, “Mut statt Wut” ["Coragem em vez de
raiva"], grandes mudanças exigem "imaginação construtiva e
iniciativa". Mas quem pode garantir que os novos fios condutores que uma
Europa unida seguirá não vão ser egoísmo mas solidariedade, não concorrência
letal mas colaboração, não lucro mas desenvolvimento sustentável?
Vamos primeiro
assentar em quem seguramente não irá fazê-lo, por razões que são morais,
intelectuais, bem como espirituais: os dirigentes europeus. Aqueles que nos
últimos dois anos têm tratado de salvar a UE com tanto êxito que ela pode
tornar-se apenas uma memória. Os atuais dirigentes não são a solução para os
problemas da União, mas a sua origem. Pedir a Merkel ou Hollande para nos
tirarem da atual crise é como pedir a um cego para debater pintura
impressionista.
Crise de esperança
Então, quem? Por
mais louco que possa parecer, acho que o último recurso da Europa é a geração
Erasmus. Um projeto que, como ouvimos aos eurocratas de Bruxelas, é tão
extravagante que pode ter de ser sacrificado, como parte das suas "medidas
de austeridade". Realmente, porque havíamos de gastar dinheiro dos
contribuintes em bolsas para os jovens europeus que, segundo consta, passam a
maior parte do tempo a divertir-se? Em que é que as conferências, debates e
viagens de estudo dos eurocratas, com as respetivas ajudas de custo, tudo
financiado com os nossos impostos, serve melhor a coesão da UE do que o
financiamento de experiências de estudo e de vida a jovens noutros países?
A geração
Eramus é a que está confrontada com a perspetiva de desemprego. É uma
geração que vive uma crise de esperança. Ao mesmo tempo, foi a que cresceu a
conhecer a diversidade da Europa através do contacto entre pares. Uma geração
que, devido à sua situação desesperante, entende aquilo a que o grande filósofo
checo Jan Patocka chamou "solidariedade dos chocados". Este destino
comum faz com que a geração Erasmus saiba hoje que o mundo como nós o
conhecemos está a chegar ao fim. O que está a começar? O futuro está nas nossas
mãos. É tempo de a "geração perdida" de hoje começar a construir uma
nova Europa. Precisamos de uma política progressista, que não se baseie na
lógica de crescimento, mas numa mudança radical com base nele. Hoje, a única
liberdade não é a daqueles que dizem "mais, mais, mais" (mais
consumo, mais crédito, mais destruição da Mãe Natureza), mas daqueles com força
e determinação para dizer "basta!"
Membros da geração
Erasmus, bem sei que estão sem trabalho, repetidamente privados de esperança
num futuro melhor, mas, hoje, vocês são a última oportunidade da Europa. Se não
forem vocês, quem vai salvar a UE? Quando, se não hoje? Façam-no por vocês e
pelos vossos filhos. O "sonho europeu" está nas vossas mãos.
Financiamento
O orçamento para
2013 ainda não está garantido
Em 23 de outubro, a
Comissão Europeia pediu aos Estados-membros para contribuírem com 9€ mil
milhões para ajudar a cobrir os custos do programa Erasmus, bem como de outros
programas da UE, como o Fundo Social Europeu e os programas de investigação
científica, até ao final de 2012.
Entretanto,
decorrem negociações orçamentais entre a Comissão, o Parlamento e o Conselho
relativas ao orçamento para 2013. Para manter aqueles programas, os
deputados pediram ao Conselho Europeu que retirasse a proposta de cortes de
€1,9 mil milhões. A Comissão
propôs um orçamento de €490 milhões para bolsas Erasmus. A data limite para
as negociações está marcada para 9 de novembro.
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