Eugénio Costa Almeida* – Pululu*
Na madrugada do
passado domingo alguns indivíduos terão atacado o quartel da base da força
aérea em Bra, nos subúrbios da capital Bissau, por volta das 3horas locais, mais
especificamente, e segundo as actuais autoridades militares, terá visado o
paiol daquele quartel.
A consequência terá
sido a morte de 6 pessoas, algumas delas com farda militar vestida,
desconhecendo-se, porque as mesmas autoridades não o confirmam, se seriam todos
dos rebeldes ou, também, de militares do quartel.
De acordo com os
militares do actual e quase que auto-proclamado CEMGFA, general António Indjai,
o mentor e do golpe de Abril de 2012 e verdadeiro chefe de Estado da
Guiné-Bissau, teria sido um grupo de rebeldes que teriam vindo de fora do país
e liderados por um capitão apoiante de Carlos Gomes Júnior, o capitão Pansau
N´Tchama, e proveniente, nas vésperas, de Portugal.
De notar que este
mesmo militar, segundo algumas fontes, um comendo, estará estado envolvido no
atentado e subsequente assassínio do presidente Nino Vieira e do responsável
máximo das Forças Armadas, Batista Tagmé Na Waie, em Março de 2009.
Talvez por isso não
tenham sido surpreendentes as primeiras acusações do porta-voz do governo
provisório, que de legítimas só o são para a CEDEAO, tenham convergido para
Portugal e para a CPLP.
Nada mais óbvio,
porque estas duas entidades continuam a considerar autênticas as autoridades
apeadas pelo Golpe enquanto as duas partes não se sentarem a uma mesa, em plena
igualdade e resolvam as questões que se mantém pendentes.
Recorde-se que,
oficialmente – reforço, oficialmente – o actual Governo liderado pelo
presidente interino Manuel Sherifo Nhamadjo, não tem o apoio da Organização das
Nações Unidas, da União Europeia e da CPLP. Estas organizações afirmam que seu
governo permanece sob a influência de um Exército que nunca se submete ao Poder
político e persiste no golpismo.
Ora, as horas e os
dois dias subsequentes foram de perseguições e detenções por parte dos
militares de Indjai.
Entre os detidos e
agredidos, como demonstram algumas fotos de jornalistas em Bissau, estão o
advogado Silvestre Alves, líder do Movimento Democrático Guineense MDG), e
Iancuba Djola N’Djai, da FRENAGOLPE, Frente Nacional contra o Golpe de Estado
de Abril passado, e, mais grave ainda, este terá sido detido dentro da sede do
PAIGC.
Ora, parece que
tudo começa a conjugar que o tal ataque contra Bra mais não terá sido que uma
tentativa. Mais uma, de consolidar o Golpe de Estado de Abril, ainda que só
aceite pela CEDEAO.
Por isso, não terá
sido estranho que Indjai, Yalá e a CEDEAO se tenham reunido de urgência após as
situações que á posteriori aconteceram.
Ou seja, tudo
indica que mais não aconteceu que uma Intentona!
Ora como recorda o
jornalista António Aly Silva, no seu blogue “Ditadura do Consenso” o local do
ataque, a base aérea de Bra, é “o domínio do Batalhão de Pára-Comandos e, a par
do Batalhão de Mansoa, uma das mais habilitadas unidades das Forças Armadas da
Guiné-Bissau”. O seu efectivo completo, “é de cerca de 1.000 homens”, um
“volume [considerado mais que] suficientemente dissuasor para levar um grupo
aparentemente desorganizado e escasso a tentar tomá-lo de assalto”.
O antigo líder
presidencial, entretanto derrubado, e actual líder do PRS, Kumba Yalá é
encarado nos meios diplomáticos, em particular, nos que acompanham a situação
na Guiné Bissau, como “principal obstrutor” de qualquer consenso que tenha a
participação do PAIGC num futuro governo de Transição a ser criado, no âmbito
das organizações internacionais mediadoras.
Por outro lado, o
actual ministro das relações Exteriores da Guiné-Bissau, Faustino Imbali, terá
pedido, por pressão do general Indjai, a substituição de Joseph Mutaboba como
representante do Secretário-geral ONU, eventualmente agastado com declarações
deste sobre aspectos da situação no país. Este pedido acabou por ficar sem
efeito devido aos “ouvidos moucos” da ONU.
Ora, a actual
situação na Guiné-Bissau não pode persistir sob pena do país continuar a
regredir no seu desenvolvimento com as naturais consequências nefastas, para o
Povo Bissau-guineense.
Não são com
Intentonas e com falinhas mansas da CPLP e de uma certa Comunidade
Internacional que a situação se resolverá.
Não esqueçamos que
o país que viu reconhecida a independência em 1974 tem persistido em efectuar
Golpes de Estado e está conectado, nomeadamente pelo Departamento de Estado dos
EUA, como uma plataforma que os cartéis de drogas da América Latina para a
Europa usam, em particular o seu enorme labirinto de ilhas pouco controlados.
24Out2012
©Publicado no
Notícias Lusófonas, na rubrica "Manchete",
em 24.Outubro.2012
Sem comentários:
Enviar um comentário