sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O BRASIL, DE POBRE A PÚBERE

 


João Almeida Moreira – Dinheiro Vivo
 
O Brasil já faz a barba e tem maçã de Adão, mudou de corpo, mudou de voz, cresceu depressa e começa a ter consciência dos próprios músculos. Mas ainda é imaturo para lidar com assuntos de gente adulta. Às vezes, sente-se confiante, quer pegar no carro, mesmo sem idade para carta de condução, e dirigir o próprio destino. Noutras, acha-se incapaz de cumprir o lugar no mundo que o futuro lhe reserva. Tem dúvidas existenciais de teenager, muitas dúvidas: para começar, não sabe o que vai ser quando for, definitivamente, grande.
 
Comecemos por aí: o Brasil é neto de portugueses, um povo onde, entre os seus méritos, não consta a eficiência na gestão pública, por isso o estado brasileiro é pesado, burocrático e cobra impostos a um nível escandinavo sem, no entanto, ver retorno.
 
É neto de portugueses mas filho de imigrantes – muitos deles também portugueses – por isso corre-lhe no sangue o espírito empreendedor de gente que deixou uma vida noutro continente para tentar conquistar a liberdade e, acima de tudo, a prosperidade num novo mundo. Gente para quem é cara a ideia do self made man, no fundo, a ideia que presidiu à construção do seu primo, os EUA (na adolescência, há sempre um primo que serve de comparação).
 
E assim vai o Brasil crescendo, num difícil equilíbrio (o difícil equilíbrio do outrora radical de esquerda Partido dos Trabalhadores que o governa ao centro desde 2003) sem se decidir que caminho toma, entre o espírito capitalista à americana e um Estado que tudo fiscaliza e tributa.
 
O músculo da nova economia reflete-se no consumo – as frotas de automóveis das capitais estaduais quase dobraram em apenas 10 anos, o número de telemóveis vendidos dispara na ordem dos 150 por cento ao ano e as companhias aéreas lidam com cinco milhões de novos clientes nos últimos oito anos. Mas não há aeroportos para tanta viagem a Buenos Aires ou Miami, os destinos preferenciais da Classe C. Nem rede para tanto “celular”. Nem estradas para tanto carro. Para se ter uma ideia, o segundo país – a seguir, claro, ao primo norte-americano – em número absoluto de usuários de facebook é o mesmo país em que 13 milhões de pessoas não têm casa de banho em casa.
 
O Brasil, entretanto, tem o vestibular à porta – aquela prova de aferição à faculdade – que serão o Mundial-2014 e os Jogos Olímpicos-2016. Mas só vai preparar-se nas vésperas das provas, como manda o código teen.
 
Do ponto de vista da moralização da eternamente desmoralizada política nacional, o país olha-se ao espelho e nem se revê, tantas são as mudanças no seu jovem corpo democrático – no maior dos casos, o Julgamento do Mensalão, corruptos poderosos vão, pela primeira vez, acabar na cadeia, o judiciário (custou mas foi) é finalmente um poder independente.
 
Já na política externa, pelo contrário, sempre que é cobrada pela comunidade internacional uma posição brasileira firme sobre, por exemplo, a Síria ou então exigida liderança na sub-região sul-americana, o novo Brasil mete os pés pelas mãos, gagueja e não diz mais do que banalidades diplomáticas próprias de quem ainda não tem maturidade para lidar com o seu novo peso no mundo.
 
É o Brasil a aprender a ser homem, o Brasil que um dia ainda vai cumprir o seu ideal. Um Brasil de muitas faces, quase todas elas com acne – mas, dizem, o acne passa com o tempo.
 
* Jornalista
Crónicas de um português emigrado no Brasil
Escreve à quarta-feira
 

Sem comentários:

Mais lidas da semana