João Almeida
Moreira – Dinheiro Vivo
O Brasil já faz a
barba e tem maçã de Adão, mudou de corpo, mudou de voz, cresceu depressa e
começa a ter consciência dos próprios músculos. Mas ainda é imaturo para lidar
com assuntos de gente adulta. Às vezes, sente-se confiante, quer pegar no
carro, mesmo sem idade para carta de condução, e dirigir o próprio destino.
Noutras, acha-se incapaz de cumprir o lugar no mundo que o futuro lhe reserva.
Tem dúvidas existenciais de teenager, muitas dúvidas: para começar, não sabe o
que vai ser quando for, definitivamente, grande.
Comecemos por aí: o
Brasil é neto de portugueses, um povo onde, entre os seus méritos, não consta a
eficiência na gestão pública, por isso o estado brasileiro é pesado,
burocrático e cobra impostos a um nível escandinavo sem, no entanto, ver
retorno.
É neto de portugueses
mas filho de imigrantes – muitos deles também portugueses – por isso corre-lhe
no sangue o espírito empreendedor de gente que deixou uma vida noutro
continente para tentar conquistar a liberdade e, acima de tudo, a prosperidade
num novo mundo. Gente para quem é cara a ideia do self made man, no fundo, a
ideia que presidiu à construção do seu primo, os EUA (na adolescência, há
sempre um primo que serve de comparação).
E assim vai o
Brasil crescendo, num difícil equilíbrio (o difícil equilíbrio do outrora
radical de esquerda Partido dos Trabalhadores que o governa ao centro desde
2003) sem se decidir que caminho toma, entre o espírito capitalista à americana
e um Estado que tudo fiscaliza e tributa.
O músculo da nova
economia reflete-se no consumo – as frotas de automóveis das capitais estaduais
quase dobraram em apenas 10 anos, o número de telemóveis vendidos dispara na
ordem dos 150 por cento ao ano e as companhias aéreas lidam com cinco milhões
de novos clientes nos últimos oito anos. Mas não há aeroportos para tanta
viagem a Buenos Aires ou Miami, os destinos preferenciais da Classe C. Nem rede
para tanto “celular”. Nem estradas para tanto carro. Para se ter uma ideia, o
segundo país – a seguir, claro, ao primo norte-americano – em número absoluto
de usuários de facebook é o mesmo país em que 13 milhões de pessoas não têm
casa de banho em casa.
O Brasil,
entretanto, tem o vestibular à porta – aquela prova de aferição à faculdade –
que serão o Mundial-2014 e os Jogos Olímpicos-2016. Mas só vai preparar-se nas
vésperas das provas, como manda o código teen.
Do ponto de vista
da moralização da eternamente desmoralizada política nacional, o país olha-se
ao espelho e nem se revê, tantas são as mudanças no seu jovem corpo democrático
– no maior dos casos, o Julgamento do Mensalão, corruptos poderosos vão, pela
primeira vez, acabar na cadeia, o judiciário (custou mas foi) é finalmente um
poder independente.
Já na política
externa, pelo contrário, sempre que é cobrada pela comunidade internacional uma
posição brasileira firme sobre, por exemplo, a Síria ou então exigida liderança
na sub-região sul-americana, o novo Brasil mete os pés pelas mãos, gagueja e
não diz mais do que banalidades diplomáticas próprias de quem ainda não tem
maturidade para lidar com o seu novo peso no mundo.
É o Brasil a
aprender a ser homem, o Brasil que um dia ainda vai cumprir o seu ideal. Um
Brasil de muitas faces, quase todas elas com acne – mas, dizem, o acne passa
com o tempo.
* Jornalista
Crónicas de um português emigrado no Brasil
Escreve à quarta-feira
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