Marta F. Reis – i online
Este ano a despesa
com remédios já ficará entre as mais baixas da Europa
Que países
gastavam, em 2010, metade que a Grécia na comparticipação de remédios vendidos
nas farmácias? Portugal é uma das respostas certas. Um estudo europeu publicado
em Setembro revela que, há dois anos, a despesa pública per capita com
medicamentos dispensados em ambulatório rondava em Portugal os 243 euros,
quando na Grécia atingia os 495 euros (valores que têm em conta a paridade do
poder de compra). Hoje a despesa nesta rubrica em Portugal já está abaixo da
média europeia mas a talhada prevista no Memorando da troika e na proposta do
orçamento, não tem paralelo a nível europeu: o objectivo é reduzir a despesa
pública com remédios, tanto os dispensados nas farmácias como os usados nos
hospitais, para 1% do PIB. No programa de ajustamento em vigor na Grécia, não
só há mais um ano para atingir este tecto como ficam de fora os medicamentos
usados nos hospitais.
A meta acordada com
a troika para a redução da despesa pública com medicamentos tem sido contestada
pela indústria farmacêutica. O objectivo de reduzir a despesa pública com
remédios para 1,25% do PIB este ano e 1% no próximo começou a ser questionado
ainda no final de 2011, quando havia dúvidas se este objectivo incluiria a
despesa com os medicamentos usados nos hospitais, já isso seria algo atípico a
nível europeu.
O argumento, na
altura afastado pela tutela – que esclareceu estarem abrangidos por este tecto
tanto os remédios das farmácias como os dos hospitais – surge mais uma vez no
estudo “Políticas de Contenção de custos na despesa pública com medicamentos na
UE”, publicado na revista “Economic Papers”. “Os medicamentos são consumidos
por doentes dentro do sistema (maioritariamente nos hospitais) e fora do
sistema (maioritariamente nas farmácias. Contudo, dados comparáveis para os
gastos com medicamentos no sector dos doentes dentro do sistema não estão
disponíveis para a maioria dos países”, lê-se. Por este motivo, é possível
comparar apenas a despesa pública com remédios em ambulatório, analisar que
países estão abaixo ou acima da média e, a partir daí, pensar em formas de
conter custos para um patamar razoável. Com os gastos em hospitais, não existe
um valor de referência.
Em 2010, de acordo
com a nova análise, Portugal gastava 1,2% do PIB com remédios dispensados em
ambulatório, ligeiramente acima da média da União Europeia (1,1%). A Grécia
apresentava dos maiores gastos (1,8% do PIB), seguindo-se a Eslováquia (1,7%),
mas acima da despesa reportada à altura por Portugal surgiam ainda Irlanda,
Espanha, França ou Alemanha (1,3% ).
O que se passou
entretanto Em 2011, segundo dados do Infarmed, Portugal gastou 1328 milhões de
euros com os remédios vendidos nas farmácias, o que dá uma despesa na ordem dos
0,78% do PIB (tendo em conta um valor nominal de 170 mil milhões de euros).
Este nível de despesa colocou o país abaixo da média europeia referida no
estudo de Setembro.
Este ano, já com o
objectivo de cumprir a redução da despesa pública com remédios para 1,25% do
PIB, a indústria acordou com o Ministério da Saúde novas reduções, que caso não
sejam cumpridas motivarão um ressarcimento ao Estado (o chamado payback). O
objectivo, fixado num protocolo com data de Maio, é obter uma redução dos
encargos com remédios dispensados nas farmácias para 1196 milhões de euros, o que
reduz a percentagem do PIB para 0,7%.
Os últimos dados do
Infarmed, que monitoriza mensalmente a despesa nesta área, revelam que não só
este objectivo será cumprido como deverá ser ultrapassado. Até Setembro, os
encargos do SNS nesta área baixaram 10,3%, para 887,2 milhões de euros e até ao
final do ano é previsível que fiquem cerca de 100 milhões aquém do tecto
definido, resultado das diferentes medidas implementadas nos últimos meses:
revisão dos preços de venda a partir de novos países de referência, revisão das
margens comerciais de grossistas e farmácias e prescrição por princípio activo
que, a partir de Junho, favoreceu um aumento das prescrições de genéricos e
tornou obrigatório dispensar os remédios mais baratos entre as alternativas da
mesma molécula.
A seguir-se esta
trajectória, a despesa pública com remédios vendidos nas farmácias em Portugal
passará a ser das mais baixas a nível europeu, em torno dos 0,6% do PIB. Em
2010 só Polónia, Chipre, Luxemburgo e Dinamarca apresentavam valores desta ordem.
Mas o corte não
fica por aqui e no final do próximo ano Portugal gastará muito menos com todos
os remédios dispensados do que a Alemanha ou França ou mesmo do que a Grécia,
também intervencionada, gastam apenas com os remédios aviados nas farmácias – e
só nestes é que até 2014 tem de conseguir chegar a 1% do PIB, valor que
Portugal cumpriu em 2011. A quinta revisão do memorando mantém o objectivo de
reduzir a despesa nacional com todos os remédios a 1% do PIB, meta que não
surge em mais nenhum país intervencionado.
A proposta de
orçamento aponta para uma redução da despesa pública com remédios de 333
milhões em 2012 – 146 milhões em ambulatório e 186 nos hospitais. O governo
considerou o PIB à data do resgate, 170 mil milhões. Prevê-se uma revisão em
baixa do PIB no final deste ano para 154,6 mil milhões. Mesmo tendo em conta
esta queda da riqueza, a meta para 2013 em Portugal, dado que abrange todos os
remédios, coloca o país a gastar muito menos que a média da UE em 2010.
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