segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Portugal: ESFRANGALHADOS

 

Ana Sá Lopes – i online, opinião
 
Este governo tem um problema: o primeiro-ministro é Vítor Gaspar
 
O CDS lá se conformou a votar favoravelmente o Orçamento Gaspar, manifestando uma curiosa noção sobre o que é “salvação nacional”. Ao confiar no optimismo de Gaspar para este ano (recessão de 1%), mais ou menos semelhante ao optimismo de Gaspar sobre a receita revelado no orçamento de 2012 (mas a culpa foi dos consumidores que não compraram automóveis, segundo Passos), o CDS fica definitivamente co- -responsável pela destruição do tecido produtivo, das pequenas e médias empresas, dos contribuintes e dos pensionistas. E, claro, ficará co-responsável por uma taxa de desemprego que deverá bater nos 20%.
 
Paulo Portas teve toda a razão em querer sair do governo e da liderança do partido, como noticiou o “Expresso”. Era a sua única saída. Mas ao manter-se em funções, depois de uma gigantesca derrota no governo, depois de humilhado publicamente por Vítor Gaspar, Portas coloca-se no lugar do morto. Não tem um avo de poder, mas está no centro da fotografia. Depois da co-responsabilização pelo orçamento de 2013, ficará totalmente impedido de regressar às feiras e à lavoura – e será tratado a pontapé pelos pensionistas e idosos.
 
O “sim” de Paulo Portas salvou o orçamento, mas não salvou a coligação. A desconfiança instalada entre os líderes dos partidos que a compõem não tem recuo possível – foram ditas em público demasiadas coisas demasiado graves. Nem no governo de Santana Lopes se chegou a este ponto – e quando chegou a dissolução foi a opção escolhida pelo Presidente da República.
 
A crise na coligação foi o fenómeno mais mediático daquilo que é uma verdadeira crise de governo. Há ministros do PSD que não se revêem na política Passos-Gaspar nem na entronização de Gaspar (por exclusiva responsabilidade do primeiro-ministro) no verdadeiro e único poder dentro do governo. Para o bem ou para o mal, Sócrates e Teixeira dos Santos tiveram várias crises e a relação acabou mal – com Teixeira dos Santos a chamar o FMI nas costas de Sócrates. Mas nunca houve dúvidas de que o primeiro-ministro se chamava José Sócrates. Este governo tem um problema: o primeiro-ministro é, de facto, Vítor Gaspar – que Passos Coelho segue com a mesma autonomia que manifesta perante a senhora Merkel e “os nossos credores”.
 
No estado em que as coisas estão, uma remodelação não servirá para nada – ou, se calhar, só para satisfazer alguns ministros desejosos de se aliviarem do fardo.
 

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