Ana Sá Lopes – i online, opinião
Este governo tem um
problema: o primeiro-ministro é Vítor Gaspar
O CDS lá se
conformou a votar favoravelmente o Orçamento Gaspar, manifestando uma curiosa
noção sobre o que é “salvação nacional”. Ao confiar no optimismo de Gaspar para
este ano (recessão de 1%), mais ou menos semelhante ao optimismo de Gaspar
sobre a receita revelado no orçamento de 2012 (mas a culpa foi dos consumidores
que não compraram automóveis, segundo Passos), o CDS fica definitivamente co-
-responsável pela destruição do tecido produtivo, das pequenas e médias
empresas, dos contribuintes e dos pensionistas. E, claro, ficará co-responsável
por uma taxa de desemprego que deverá bater nos 20%.
Paulo Portas teve
toda a razão em querer sair do governo e da liderança do partido, como noticiou
o “Expresso”. Era a sua única saída. Mas ao manter-se em funções, depois de
uma gigantesca derrota no governo, depois de humilhado publicamente por Vítor
Gaspar, Portas coloca-se no lugar do morto. Não tem um avo de poder, mas está
no centro da fotografia. Depois da co-responsabilização pelo orçamento de 2013,
ficará totalmente impedido de regressar às feiras e à lavoura – e será tratado
a pontapé pelos pensionistas e idosos.
O “sim” de Paulo
Portas salvou o orçamento, mas não salvou a coligação. A desconfiança instalada
entre os líderes dos partidos que a compõem não tem recuo possível – foram
ditas em público demasiadas coisas demasiado graves. Nem no governo de Santana
Lopes se chegou a este ponto – e quando chegou a dissolução foi a opção
escolhida pelo Presidente da República.
A crise na
coligação foi o fenómeno mais mediático daquilo que é uma verdadeira crise de
governo. Há ministros do PSD que não se revêem na política Passos-Gaspar nem na
entronização de Gaspar (por exclusiva responsabilidade do primeiro-ministro) no
verdadeiro e único poder dentro do governo. Para o bem ou para o mal, Sócrates
e Teixeira dos Santos tiveram várias crises e a relação acabou mal – com
Teixeira dos Santos a chamar o FMI nas costas de Sócrates. Mas nunca houve
dúvidas de que o primeiro-ministro se chamava José Sócrates. Este governo tem
um problema: o primeiro-ministro é, de facto, Vítor Gaspar – que Passos Coelho
segue com a mesma autonomia que manifesta perante a senhora Merkel e “os nossos
credores”.
No estado em que as
coisas estão, uma remodelação não servirá para nada – ou, se calhar, só para
satisfazer alguns ministros desejosos de se aliviarem do fardo.
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