Daniel Oliveira –
Expresso, opinião, em Blogues
O inteligente
Borges inventou um estratagema para pôr os trabalhadores, já na penúria, a
financiarem as empresas através do aumento dos descontos para a segurança
social e a redução da TSU. A ideia "extramente inteligente", não
fosse ela do muitíssimo inteligente Borges, nunca tinha sido experimentada
em lugar algum. Os empresários, como todo o resto do País, foram contra. Não
por uma questão de solidariedade, mas porque acham que trabalhadores falidos
são consumidores falidos. Pensam que não há exportações que nos salvem da
destruição do mercado interno. Os ignorantes tiraram assim ao espantosamente
inteligente Borges o Nobel que lhe estava reservado.
O tremendamente
inteligente Borges é demasiado grande para este País. Tem de lidar com
gente ignorante que não passaria no primeiro ano do seu curso, disse ao lado do
genial ministro que fez de uma assentada um curso inteiro. Porque voltou
o barbaramente inteligente Borges para a piolheira? Porque também o
mundo é demasiado pequeno para ele. O FMI despediu-o por ser inteligentemente
incompetente. Ninguém sabe o que fez, durante dois anos, como vice-presidente
da Goldman Sachs (um entre centenas), o grupo financeiro que ajudou o governo
grego a enganar a Europa e que mais responsabilidades tem na crise financeira
internacional. Terão sido, com toda a certeza, coisas inteligentes.
Como Chairman da
Hedge Fund Standards Board, deu uma entrevista à BBC. No Hard Talk, o estrondosamente
inteligente Borgres tentou explicar a Stephen Sackur os seus inteligentes
pontos de vista sobre ética e a utilidade para a economia das suas funções.
Perante olhos mais ignorantes, a prestação foi desastrosa e esclarecedora. Como
acontece por vezes aos intelectualmente mais dotados, dava a ideia de estarmos
perante um pateta que deixava clara a obscuridade imoral do seu ofício.
Incompreendido lá
fora, porque o avassaladoramente inteligente Borges vive à frente do
seu tempo, regressou ao cantinho que o viu nascer. Passos Coelho contratou-o
para tratar das privatizações. Que não têm, como se está a ver na TAP, corrido
muito bem. É o problema de lidar com investidores externos não menos ignorantes
que os empresários domésticos.
Desde que chegou, o tragicamente
inteligente Borges tem dado inteligentes opiniões. Que os salários dos
portugueses têm de baixar e que quem acha que os portugueses não têm de apertar
o cinto está um bocadinho a dormir. Palavras do deprimentemente
inteligente Borges, que saca, todos os meses, 25 mil euros aos contribuintes.
Que a RTP devia ser concessionada, ficando as despesas para o Estado e o lucro
para quem agarrar a mesada, propôs o pateticamente inteligente Borges. Que
as despesas com os funcionários públicos correspondiam a 80% dos custos do Estado,
um número assim um bocadinho para o exagerado, mas natural em alguém que,
absorto no seu próprio brilho intelectual, não perde tempo com minudências. De
cada vez que o incontinentemente inteligente Borges abre a boca cria um
drama no governo. Diria Tchekhov: "que sorte possuir uma grande
inteligência, nunca lhe faltam asneiras para dizer".
Nunca duvidei, como
por estas linhas fica claro, da incomparável genialidade do inteligente Borges.
O problema são os políticos, os empresários, os trabalhadores, os portugueses,
o FMI, os mercados, os jornalistas, a BBC, Portugal e o Mundo. Neste País,
António Borges foi, em tempos, vendido como um homem de autoridade técnica
incomparável. Exposto o produto na montra pública dos media, percebe-se
finalmente o seu valor. Aquilo é areia demais para a nossa camioneta.
Areia que nos sai cara.
1 comentário:
Não sei se o Sr. Prof. António Borges se lembra que os custos de produção de uma empresa não são apenas os do trabalho. Para além desses há ainda que considerar: os do capital investido, de rendas de imóveis que a empresa tenha que pagar, da matéria prima para laborarem, da energia, da água, do tratamento de resíduos, do IRC, de derramas muncipais, de compra e manutenção de veículos de transporte, das portagens nas AE e pontes, e, por vezes, de salários generosos e outras benesses a altas figuras influentes do poder, e, ainda nalguns casos, suspeita-se até de custos com pagamentos a um tal "homem da mala" que andará por aí a cobrar dinheiro às empresas para lhes facilitar a vida neste mundo cão (muitas outras despesas não estão aqui mencionadas, pois dependem até da natureza da empresa). Assim, a redução do pagamento do TSU para a segurança social em 5,5% pouco significa no total dos custos a suportar pelas empresas, mas pode significar muito para os jávas muito penalizados trabalhadores, reduzindo-lhes o seu poder de compra e o consumo, o que determinará o encerramento de milhares de empresas que laboram para o mercado interno do país (e não da UE), arrastando a economia nacional ainda mais para o fundo. Assim, o governo não pode admirar-se se as cobranças de IVA, IRS, IA, (e outras) diminuem apesar de aumentar as taxas aplicadas aos assalariados, que são cada vez menos e não será por "fraca natalidade dos portugueses" - outra parvoíce que de tempos a tempos nos tentam impingir. Mais: a descida da TSU nada significa na concorrência global com o extermo oriente para onde estão a fugir todas as indústrias. As teorias económicas desastrosas deram no que se está a assistir neste momento e estes senhores ainda têm o descaramento de continuar a insistir nestas receitas idiotas. Estes senhores deveriam era ter a humildade de reconhecer o seu erro, se é que não foi consciente. É esta a experiência de quem está no terreno com a sua empresa que trabalha para o mercado interno.
Ze da Burra o Alentejano
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