Entrevista ao
Presidente francês
Alexandre Martins -
Público
O Presidente
francês, François Hollande, dirigiu-se “aos espanhóis e aos portugueses, que
estão a pagar caro por desavenças de outros". "Chegou a hora de lhes
dar uma perspectiva que não seja apenas a da austeridade”, defendeu numa
entrevista concedida no Palácio do Eliseu a seis jornais europeus.
No encontro com os
jornalistas, Hollande declarou que “não é possível, para o bem comum, impor uma
prisão perpétua a algumas nações que já fizeram sacrifícios consideráveis, se
os seus povos não vêem, em momento algum, os resultados desses esforços”.
“Estou convencido de que, se não dermos um novo alento à economia europeia, as medidas de disciplina, por muito desejáveis que sejam, não poderão traduzir-se em nada”, sublinhou o Presidente francês. A frase que proferiu para rematar esta parte da entrevista pode mesmo vir a tornar-se num novo slogan: “A ameaça da recessão é hoje tão importante como a ameaça dos défices!”
União política a discutir após as eleições europeias de 2014
François Hollande diz ser uma evidência que a União Europeia de hoje não pode funcionar da mesma forma que funcionou no início da década de 1960 e defende “uma Europa a várias velocidades”, com o objectivo final de uma maior integração política.
“Nessa época havia seis países, depois oito, depois 12. Hoje somos 27 e seremos 28, com a Croácia. Ao mudar de dimensão, a Europa mudou também de modelo. A minha postura é a de uma Europa que avance a várias velocidades, com círculos diferentes. Podemos chamar-lhes a vanguarda, os Estados precursores, o núcleo duro, isso não importa. O que importa é a ideia”, afirmou o Presidente francês.
Hollande afirma mesmo que a União Europeia moderna – a Europa da moeda única – “requer uma nova forma de governar” e “deve assumir uma dimensão política”.
“Defendo que o Eurogrupo, que reúne os ministros das Finanças, reforce os seus poderes; que o presidente do Eurogrupo tenha um mandato reconhecido, claro e suficientemente longo. Defendo também – e já o disse aos meus colegas da Zona Euro – uma reunião mensal de todos os chefes de Estado e de Governo desses países. Acabemos com essas cimeiras ‘de desesperados’, essas cimeiras ‘históricas’, que no passado não alcançaram nada mais do que êxitos efémeros”, afirmou o Presidente francês.
Terá chegado, então, o momento de se avançar para uma verdadeira união política? Para Hollande, ainda não: “A união política virá depois, é uma etapa que se seguirá à união dos orçamentos, à união bancária, à união social. Será um marco democrático para o que alcançarmos em matéria de integração social.”
O processo de construção de uma união política pode não ser para já, mas Hollande não vê que se possa esperar muito mais tempo, pelo que aponta para “depois das eleições europeias de 2014”. “Esse é o momento para mobilizar os cidadãos e para elevar os índices de participação em torno de um debate sério, o do futuro da Europa”, defende.
Na entrevista, François Hollande afirma também que já é altura de “deixar de pensar que só há um país a pagar por todos os outros”, em resposta a uma pergunta sobre a acção política da Alemanha de Angela Merkel. “A solidariedade é uma coisa de todos, não apenas dos alemães! É dos franceses, dos alemães e de todos os europeus. Deixemos de pensar que só há um país a pagar por todos os outros. Isso não é verdade”, afirmou o Presidente francês.
Mas Hollande faz questão de sublinhar que compreende o ponto de vista alemão. “Estou consciente da sensibilidade dos nossos amigos alemães perante a dívida. Quem paga deve controlar, quem paga deve sancionar”, embora “a união orçamental deva ser alcançada mediante a mutualização parcial das dívidas, através dos eurobonds”, conclui.
Nobel da Paz à UE é “uma homenagem e um apelo”
Para François Hollande, o pior que pode acontecer à União Europeia é que os europeus desistam dela. À pergunta “Qual é a maior ameaça que pesa sobre a Europa?”, o Presidente francês responde: “A de já não a querermos. A de a considerarmos, no melhor dos casos, uma mera janela que procuramos, uns em busca de fundos estruturais, outros de política agrícola, outros em busca de um cheque e, no pior dos casos, um reformatório.”Por isso, os líderes europeus têm de “dar sentido ao seu projecto e eficácia às suas decisões”. Ainda assim, afirma Hollande, “a União Europeia continua a ser a mais bela aventura do nosso continente. É a principal potência económica mundial, um espaço político de referência, um modelo social e cultural”.
Daí considerar que a atribuição do Nobel da Paz à União Europeia é, “ao mesmo tempo, uma homenagem e um apelo”. A homenagem é para “os pais fundadores, por terem sido capazes de construir a paz depois da carnificina”. E o apelo é para “os governantes actuais, para que tenham consciência de que é fundamental reagir”.
O Presidente francês termina com a convicção de que a crise da Zona Euro “já passou”, mas admite que “o melhor ainda não chegou”. Depois da “saída da crise da Zona Euro”; de garantir que a Grécia vai continuar a fazer parte desse grupo; de garantir um “financiamento razoável” aos países “que têm feito as reformas exigidas”; e de “pôr em marcha a união bancária”, faltará construir uma nova União Europeia: “Poderemos então discutir a mudança do nosso modo de tomar decisões e aprofundar a nossa união. Será essa a nossa principal tarefa para o início de 2013.”
Entrevista concedida aos jornais Le Monde (França), The Guardian (Reino Unido), El País (Espanha), Gazeta Wyborcza (Polónia), La Stampa (Itália) e Süddeutsche Zeitung (Alemanha).
“Estou convencido de que, se não dermos um novo alento à economia europeia, as medidas de disciplina, por muito desejáveis que sejam, não poderão traduzir-se em nada”, sublinhou o Presidente francês. A frase que proferiu para rematar esta parte da entrevista pode mesmo vir a tornar-se num novo slogan: “A ameaça da recessão é hoje tão importante como a ameaça dos défices!”
União política a discutir após as eleições europeias de 2014
François Hollande diz ser uma evidência que a União Europeia de hoje não pode funcionar da mesma forma que funcionou no início da década de 1960 e defende “uma Europa a várias velocidades”, com o objectivo final de uma maior integração política.
“Nessa época havia seis países, depois oito, depois 12. Hoje somos 27 e seremos 28, com a Croácia. Ao mudar de dimensão, a Europa mudou também de modelo. A minha postura é a de uma Europa que avance a várias velocidades, com círculos diferentes. Podemos chamar-lhes a vanguarda, os Estados precursores, o núcleo duro, isso não importa. O que importa é a ideia”, afirmou o Presidente francês.
Hollande afirma mesmo que a União Europeia moderna – a Europa da moeda única – “requer uma nova forma de governar” e “deve assumir uma dimensão política”.
“Defendo que o Eurogrupo, que reúne os ministros das Finanças, reforce os seus poderes; que o presidente do Eurogrupo tenha um mandato reconhecido, claro e suficientemente longo. Defendo também – e já o disse aos meus colegas da Zona Euro – uma reunião mensal de todos os chefes de Estado e de Governo desses países. Acabemos com essas cimeiras ‘de desesperados’, essas cimeiras ‘históricas’, que no passado não alcançaram nada mais do que êxitos efémeros”, afirmou o Presidente francês.
Terá chegado, então, o momento de se avançar para uma verdadeira união política? Para Hollande, ainda não: “A união política virá depois, é uma etapa que se seguirá à união dos orçamentos, à união bancária, à união social. Será um marco democrático para o que alcançarmos em matéria de integração social.”
O processo de construção de uma união política pode não ser para já, mas Hollande não vê que se possa esperar muito mais tempo, pelo que aponta para “depois das eleições europeias de 2014”. “Esse é o momento para mobilizar os cidadãos e para elevar os índices de participação em torno de um debate sério, o do futuro da Europa”, defende.
Na entrevista, François Hollande afirma também que já é altura de “deixar de pensar que só há um país a pagar por todos os outros”, em resposta a uma pergunta sobre a acção política da Alemanha de Angela Merkel. “A solidariedade é uma coisa de todos, não apenas dos alemães! É dos franceses, dos alemães e de todos os europeus. Deixemos de pensar que só há um país a pagar por todos os outros. Isso não é verdade”, afirmou o Presidente francês.
Mas Hollande faz questão de sublinhar que compreende o ponto de vista alemão. “Estou consciente da sensibilidade dos nossos amigos alemães perante a dívida. Quem paga deve controlar, quem paga deve sancionar”, embora “a união orçamental deva ser alcançada mediante a mutualização parcial das dívidas, através dos eurobonds”, conclui.
Nobel da Paz à UE é “uma homenagem e um apelo”
Para François Hollande, o pior que pode acontecer à União Europeia é que os europeus desistam dela. À pergunta “Qual é a maior ameaça que pesa sobre a Europa?”, o Presidente francês responde: “A de já não a querermos. A de a considerarmos, no melhor dos casos, uma mera janela que procuramos, uns em busca de fundos estruturais, outros de política agrícola, outros em busca de um cheque e, no pior dos casos, um reformatório.”Por isso, os líderes europeus têm de “dar sentido ao seu projecto e eficácia às suas decisões”. Ainda assim, afirma Hollande, “a União Europeia continua a ser a mais bela aventura do nosso continente. É a principal potência económica mundial, um espaço político de referência, um modelo social e cultural”.
Daí considerar que a atribuição do Nobel da Paz à União Europeia é, “ao mesmo tempo, uma homenagem e um apelo”. A homenagem é para “os pais fundadores, por terem sido capazes de construir a paz depois da carnificina”. E o apelo é para “os governantes actuais, para que tenham consciência de que é fundamental reagir”.
O Presidente francês termina com a convicção de que a crise da Zona Euro “já passou”, mas admite que “o melhor ainda não chegou”. Depois da “saída da crise da Zona Euro”; de garantir que a Grécia vai continuar a fazer parte desse grupo; de garantir um “financiamento razoável” aos países “que têm feito as reformas exigidas”; e de “pôr em marcha a união bancária”, faltará construir uma nova União Europeia: “Poderemos então discutir a mudança do nosso modo de tomar decisões e aprofundar a nossa união. Será essa a nossa principal tarefa para o início de 2013.”
Entrevista concedida aos jornais Le Monde (França), The Guardian (Reino Unido), El País (Espanha), Gazeta Wyborcza (Polónia), La Stampa (Itália) e Süddeutsche Zeitung (Alemanha).
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