Daniel Oliveira – Expresso, opinião, em Blogues
O ministro das
finanças alemão, Wolfgang Schäuble, defendeu esta semana que os orçamentos
nacionais possam ser vetados pelo comissário europeu dos Assuntos Financeiros.
Ou seja, o ministro alemão defende que alguém não eleito se possa sobrepor aos
representantes eleitos de um povo. E que seja ele a decidir o mais importante
instrumento político de um País, decidindo, independentemente da vontade dos
cidadãos, o que será feito com o seu dinheiro. E isto num momento em que vários
países assistem a um autêntico assalto fiscal.
"No taxation
without representation", foi o mote para o que viria a ser a revolução
americana. O que Schäuble propõe, e é coerente com o que a Alemanha tem
defendido, é um golpe de Estado contra as democracias, criando uma junta de
tecnocratas que retira à democracia representativa uma das suas principais
funções: determinar o que se faz com os recursos de uma comunidade. Não há duas
formas de dizer isto: o poder alemão quer destruir as bases fundamentais das
democracias europeias. Em vez do federalismo democrático, em vez dos eurobounds
e de uma integração cambial e financeira com pés e cabeça, defende uma ditadura
orçamental que torne os cidadãos europeus em súbditos. Em contribuintes sem o
direito de decidir o que fazer com os seus impostos.
A posição alemã, ao
contrário do que aconselham todas as evidências, continua a apostar na redução
da dívida dos países europeus (muito inferior à de grande parte dos grandes
blocos económicos), e não no crescimento. E nem a probabilidade de rebentar com
a Grécia, fazendo, mais uma vez, cair ali a primeira peça do dominó europeu,
travará Merkel e o seu ministro. Recusam um prazo suplementar para os gregos,
proposto pelo FMI. A Alemanha aposta no seu crescimento económico à custa de
uma hecatombe económica da Europa (aposta que, como no passado, lhes sairá
cara) e não está disposta a parar perante nenhum obstáculo. Nem perante as
regras da democracia.
Não se trata de
nenhuma posição anti-allemã. É apenas uma constatação de facto: a Alemanha, que
já foi um dos principais motores da construção europeia, é hoje a principal
inimiga da Uniãõ Europeia. E nas suas cada vez mais indisfarçáveis tentações
imperiais põem em risco as democracias dos países europeus, o euro, a União e,
com tudo isto, sessenta anos de paz. Travar a cegueira alemã é obrigação de
todos europeístas e democratas, na Alemanha e em toda a Europa. Antes que seja
tarde.
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